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ESTÁCIO
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)T278 Temas em educação: entre questões recorrentes e possibilidades / Organizadores Giovanna Ofretorio de Oliveira Martin-Franchi, Silmar José Spinardi Franchi. – São Paulo: Pimenta Cultural, 2022.Livro em PDFISBN 978-65-5939-553-8DOI 10.31560/pimentacultural/2022.955381. Educação. 2. Pesquisa. 3. Metodologia. 4. Identidade. 5. Estética. 6. Comunicação. I. Martin-Franchi, Giovanna Ofretorio de Oliveira (Organizadora). II. Franchi, Silmar José Spinardi (Organizador). III. Título.CDD 370Índice para catálogo sistemático:I. EducaçãoJanaina Ramos – Bibliotecária – CRB-8/9166ISBN da versão impressa (brochura): 978-65-5939-552-1Patricia BiegingRaul Inácio BusarelloDireção editorialPatricia BiegingEditora executivaLandressa Rita SchiefelbeinCoordenadora editorialLucas Andrius de OliveiraMarketing digitalRaul Inácio BusarelloDiretor de criaçãoNaiara Von GrollAssistente de artePeter ValmorbidaPotira Manoela de MoraesEditoração eletrônicaGpointstudio, Rawpixel.com, Stockking, Mego-Studio, Freeograph, Drobotdean, Wavebreakmedia, Yanadjana, User15160105, Freepik - Freepik.comImagens da capaSwiss 721, Among Personal Use, Gobold ThinTipografiasOs organizadores e autoresRevisãoGiovanna Ofretorio de Oliveira Martin-FranchiSilmar José Spinardi FranchiOrganizadoresPIMENTA CULTURALSão Paulo . SPTelefone: +55 (11) 96766 2200livro@pimentacultural.com www.pimentacultural.com 2 0 2 2Copyright © Pimenta Cultural, alguns direitos reservados.Copyright do texto © 2022 os autores e as autoras.Copyright da edição © 2022 Pimenta Cultural.Esta obra é licenciada por uma Licença Creative Commons: Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional - (CC BY-NC-ND 4.0). Os termos desta licença estão disponíveis em: . Direitos para esta edição cedidos à Pimenta Cultural. O conteúdo publicado não representa a posição oficial da Pimenta Cultural.CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICODoutores e DoutorasAdilson Cristiano HabowskiUniversidade La Salle, BrasilAdriana Flávia NeuUniversidade Federal de Santa Maria, BrasilAdriana Regina Vettorazzi SchmittInstituto Federal de Santa Catarina, BrasilAguimario Pimentel SilvaInstituto Federal de Alagoas, BrasilAlaim Passos BispoUniversidade Federal do Rio Grande do Norte, BrasilAlaim Souza NetoUniversidade Federal de Santa Catarina, BrasilAlessandra KnollUniversidade Federal de Santa Catarina, BrasilAlessandra Regina Müller GermaniUniversidade Federal de Santa Maria, BrasilAline CorsoUniversidade do Vale do Rio dos Sinos, BrasilAline Wendpap Nunes de SiqueiraUniversidade Federal de Mato Grosso, BrasilAna Rosangela Colares LavandUniversidade Federal do Pará, BrasilAndré GobboUniversidade Federal da Paraíba, BrasilAndressa WiebuschUniversidade Federal de Santa Maria, BrasilAndreza Regina Lopes da SilvaUniversidade Federal de Santa Catarina, BrasilAngela Maria FarahUniversidade de São Paulo, BrasilAnísio Batista PereiraUniversidade Federal de Uberlândia, BrasilAntonio Edson Alves da SilvaUniversidade Estadual do Ceará, BrasilAntonio Henrique Coutelo de MoraesUniversidade Federal de Rondonópolis, BrasilArthur Vianna FerreiraUniversidade do Estado do Rio de Janeiro, BrasilAry Albuquerque Cavalcanti JuniorUniversidade Federal de Mato Grosso, BrasilAsterlindo Bandeira de Oliveira JúniorUniversidade Federal da Bahia, BrasilBárbara Amaral da SilvaUniversidade Federal de Minas Gerais, BrasilBernadétte BeberUniversidade Federal de Santa Catarina, BrasilBruna Carolina de Lima Siqueira dos SantosUniversidade do Vale do Itajaí, BrasilBruno Rafael Silva Nogueira BarbosaUniversidade Federal da Paraíba, BrasilCaio Cesar Portella SantosInstituto Municipal de Ensino Superior de São Manuel, BrasilCarla Wanessa do Amaral CaffagniUniversidade de São Paulo, BrasilCarlos Adriano MartinsUniversidade Cruzeiro do Sul, BrasilCarlos Jordan Lapa AlvesUniversidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, BrasilCaroline Chioquetta LorensetUniversidade Federal de Santa Catarina, BrasilCássio Michel dos Santos CamargoUniversidade Federal do Rio Grande do Sul-Faced, BrasilChristiano Martino Otero AvilaUniversidade Federal de Pelotas, BrasilCláudia Samuel KesslerUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, BrasilCristiana Barcelos da Silva. Universidade do Estado de Minas Gerais, BrasilCristiane Silva FontesUniversidade Federal de Minas Gerais, BrasilDaniela Susana Segre GuertzensteinUniversidade de São Paulo, BrasilDaniele Cristine RodriguesUniversidade de São Paulo, BrasilDayse Centurion da SilvaUniversidade Anhanguera, BrasilDayse Sampaio Lopes BorgesUniversidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, BrasilDiego PizarroInstituto Federal de Brasília, BrasilDorama de Miranda CarvalhoEscola Superior de Propaganda e Marketing, BrasilEdson da SilvaUniversidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, BrasilElena Maria MallmannUniversidade Federal de Santa Maria, BrasilEleonora das Neves SimõesUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, BrasilEliane Silva SouzaUniversidade do Estado da Bahia, BrasilElvira Rodrigues de SantanaUniversidade Federal da Bahia, BrasilÉverly PegoraroUniversidade Federal do Rio de Janeiro, BrasilFábio Santos de AndradeUniversidade Federal de Mato Grosso, BrasilFabrícia Lopes PinheiroUniversidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, BrasilFelipe Henrique Monteiro OliveiraUniversidade Federal da Bahia, BrasilFernando Vieira da CruzUniversidade Estadual de Campinas, BrasilGabriella Eldereti MachadoUniversidade Federal de Santa Maria, BrasilGermano Ehlert PollnowUniversidade Federal de Pelotas, BrasilGeymeesson Brito da SilvaUniversidade Federal de Pernambuco, BrasilGiovanna Ofretorio de Oliveira Martin FranchiUniversidade Federal de Santa Catarina, BrasilHandherson Leyltton Costa DamascenoUniversidade Federal da Bahia, BrasilHebert Elias Lobo SosaUniversidad de Los Andes, VenezuelaHelciclever Barros da Silva SalesInstituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, BrasilHelena Azevedo Paulo de AlmeidaUniversidade Federal de Ouro Preto, BrasilHendy Barbosa SantosFaculdade de Artes do Paraná, BrasilHumberto CostaUniversidade Federal do Paraná, BrasilIgor Alexandre Barcelos Graciano BorgesUniversidade de Brasília, BrasilInara Antunes Vieira WillerdingUniversidade Federal de Santa Catarina, BrasilIvan Farias BarretoUniversidade Federal do Rio Grande do Norte, BrasilJaziel Vasconcelos DornelesUniversidade de Coimbra, PortugalJean Carlos GonçalvesUniversidade Federal do Paraná, BrasilJocimara Rodrigues de SousaUniversidade de São Paulo, BrasilJoelson Alves OnofreUniversidade Estadual de Santa Cruz, BrasilJónata Ferreira de MouraUniversidade São Francisco, BrasilJorge Eschriqui Vieira PintoUniversidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, BrasilJorge Luís de Oliveira Pinto FilhoUniversidade Federal do Rio Grande do Norte, BrasilJuliana de Oliveira VicentiniUniversidade de São Paulo, BrasilJulierme Sebastião Morais SouzaUniversidade Federal de Uberlândia, BrasilJunior César Ferreira de CastroUniversidade de Brasília, BrasilKatia Bruginski MulikUniversidade de São Paulo, BrasilLaionel Vieira da SilvaUniversidade Federal da Paraíba, BrasilLeonardo Pinheiro MozdzenskiUniversidade Federal de Pernambuco, BrasilLucila Romano TragtenbergPontifícia Universidade Católica de São Paulo, BrasilLucimara RettUniversidade Metodista de São Paulo, BrasilManoel Augusto Polastreli BarbosaUniversidade Federal do Espírito Santo, BrasilMarcelo Nicomedes dos Reis Silva FilhoUniversidade Estadual do Oeste do Paraná, BrasilMarcio Bernardino SirinoUniversidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, BrasilMarcos Pereira dos SantosUniversidad Internacional Iberoamericana del Mexico, MéxicoMarcosEm seguida, vêm a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB e a Universidade Federal da Bahia – UFBA, com 21,88% cada. No que se refere às pes-quisas de doutorado, a situação se inverte. Observemos o gráfico 4: Gráfico 4 – Teses produzidas nas IES do estado da Bahia.Fonte: dados Abertos CAPES – Catálogo de Teses e Dissertações, 2021. Dados organizados pelos autores, 2021.46S U M Á R I ONa segunda etapa da averiguação, já sabendo do quantitativo de produções sobre trabalho docente e formação docente existentes no banco de dados em nível nacional, partiu-se para uma análise mais refinada, em busca de produções acadêmicas que tivessem relação com os descritores Sertão Produtivo baiano, Alto Sertão baiano, Se-miárido baiano e Bahia, quando foram encontrados, dentre os 3.985 iniciais, 77 materiais. Lembrando que a vistoria foi feita novamente nas colunas nome da produção (título), palavra-chave e resumo das plani-lhas do Excel.Gráfico 5 – Produções acadêmicas relacionadas a trabalho docente e formação docente e vinculadas aos descritores Sertão Produtivo baiano, Alto Sertão baiano, Semiárido baiano e Bahia.Fonte: dados Abertos CAPES – Catálogo de Teses e Dissertações, 2021. Dados organizados pelos autores, 2021.Conforme se nota no gráfico 5 acima, os descritores Sertão Produ-tivo baiano e Alto Sertão baiano não retornaram com nenhum resultado, quando colocados nos filtros da planilha. Frente a isso, optou-se por utilizar também o descritor Bahia, na tentativa de se encontrar mais trabalhos, o que foi uma ação certeira, pois se obteve um percentual considerável de pesquisas (96,10%) que, direta ou indiretamente, fazem referência ao cenário de investigação que é debatido a seguir.47S U M Á R I OGráfico 6 – Pesquisas sobre trabalho docente e formação docente produzidas entre os anos de 2015 e 2019 e diretamente vinculadas aos descritores Semiárido baiano e Bahia concomitantemente.Fonte: dados Abertos CAPES – Catálogo de Teses e Dissertações, 2021. Dados organizados pelos autores, 2021.No gráfico 6 acima, tem-se uma ideia do percentual de trabalhos encontrados com os descritores Semiárido baiano e Bahia dentro do total de pesquisas sobre trabalho docente e formação docente encon-trados em âmbito nacional, equivalendo a 1,93%.Para se ter uma noção dos tipos de pesquisas encontradas, destaca-se que, dos 77 trabalhos, 56 são dissertações, 01 é protocolo experimental ou de aplicação em serviços, 02 são relatórios finais de pesquisas, 01 é software e 17 são teses.Dos 77 trabalhos, verificou-se que 69 foram desenvolvidos por pesquisadoras/es vinculadas/os a IES do próprio estado da Bahia, sendo 53 dissertações; 01 protocolo experimental ou de aplicação em serviços; 02 relatórios finais de pesquisas, 01 software e 12 teses. 48S U M Á R I OGráfico 7 – Dissertações sobre trabalho docente e formação docente vinculadas aos descritores Semiárido baiano e Bahia por IES da Bahia.Fonte: dados Abertos CAPES – Catálogo de Teses e Dissertações, 2021. Dados organizados pelos autores, 2021.Verificou-se, também, que 39,62% das dissertações sobre traba-lho docente e formação docente e com ligação direta aos descritores Semiárido baiano e Bahia concentram-se nos programas de mestrado da UNEB, enquanto que UESB e UFBA ficam empatadas, em 2º lugar, com 24,53% cada. Já os outros 08 trabalhos estão assim distribuídos em três regiões brasileiras: Sudeste (01 dissertação e 01 tese em São Paulo; 01 disser-tação e 01 tese em Minas Gerais; e 01 dissertação no Espírito Santo); Sul (02 teses em Santa Catarina); e Nordeste (01 tese em Sergipe, além dos trabalhos desenvolvidos na Bahia, já mencionados anteriormente).De todas as pesquisas sobre trabalho docente e formação do-cente, ligadas aos termos Semiárido baiano e Bahia (conforme já dito, um total de 77 trabalhos), foram catalogadas 07 produções, sendo 05 dissertações (03 da UESB e 02 da UNEB), 01 protocolo experi-mental ou de aplicação em serviços (da UNEB) e 01 tese (da UESB). A escolha desses trabalhos se justifica porque trazem abordagens diretamente ligadas a alguns dos municípios que compõem a região abrangida pelo Mestrado do PPGELS, do DCH / UNEB, Campus VI 49S U M Á R I O– Caetité, a saber: Caetité (01 protocolo experimental ou de aplica-ção em serviços, da UNEB), Guanambi (04 dissertações, sendo 02 da UESB e 02 da UNEB), Pindaí (01 dissertação da UESB) e Rio de Contas (01 tese da UESB).Com o propósito de averiguar as abordagens dadas ao tema trabalho e formação docente na região do Território de Identidade Ser-tão Produtivo, resolveu-se selecionar algumas das pesquisas para aná-lise, as quais são identificadas no quadro a seguir:Quadro 1 – Demonstrativo de pesquisas encontradas.Tipo Ano IES Titulo PesquisadorTese 2016 UESB Memória e Identidade Social da For-mação Docente em Rio de Contas-BA, nas décadas de 1920 a 1960: reminis-cências das educadoras e educadores da Cátedra à UniversidadeShirlene Santos Mafra MedeirosDissertação 2017 UESB Educação de Jovens e Adultos: limites e possibilidades na formação docente no município de Pindaí/BahiaSizelandia Marta dos Santos SouzaProtocolo Ex-perimental ou de Aplicação em Serviços2018 UNEB Protocolo de Proposições para o Pro-cesso de (Re) Elaboração do Currículo da LicenciaturaGinaldo Cardoso de AraújoDissertação 2019 UNEB Formação Continuada de Professores e Coordenadores da Educação de Jovens e Adultos na Perspectiva do Desenvolvimento ProfissionalDulina Dalva Pereira de OliveiraFonte: Plataforma Sucupira, 2021. Dados organizados pelos autores, 2021.Constatou-se, com a leitura das pesquisas selecionadas, que todas eles trazem aspectos importantes sobre o tema aqui investigado. Dentre esses aspectos, destacam-se: na tese de Shirlene Santos Ma-fra Medeiros (2016), percebe-se que houve a análise da memória e a reconstrução da identidade social no processo de formação docente, 50S U M Á R I Oseus legados e saberes, em Rio de Contas; na dissertação da UESB, de Sizelandia Marta dos Santos Souza (2017), foram abordados os limites e possibilidades na formação docente da EJA no município de Pindaí, tendo como objetivo analisar como a formação inicial do pro-fessor dessa modalidade tem contribuído para a sua prática pedagógi-ca; no Protocolo Experimental ou de Aplicação em Serviços, pesquisa de Ginaldo Cardoso de Araújo (2018), um dos autores desse artigo, estudou-se a organização curricular da Licenciatura em Letras do DCH / UNEB/ Campus VI – Caetité, buscando compreender a organização curricular desse curso, identificando suas ressonâncias na formação e no desenvolvimento profissional do egresso; e, por fim, na dissertação de Dulina Dalva Pereira de Oliveira (2019), da UNEB, buscou-se com-preender como se dá o processo de formação continuada dos profes-sores e coordenadores pedagógicos da EJA, na Rede Municipal de Ensino de Guanambi, na perspectiva do desenvolvimento profissional.Frente a isso, verificou-se que os quatro trabalhos citados tra-zem discussões sobre formação inicial e continuada do professor, identidade profissional e memória docente e abrangem em seu locus investigativo o Território de Identidade Sertão Produtivo baiano.AS PESQUISAS ORIENTADAS PELO PPGELSComo última etapa da pesquisa, buscou-se identificar os tra-balhos realizados no âmbito do PPGELS. Primeiramente, é válido citar que o Programa de Pós-graduação em Ensino, Linguagem e Sociedade – PPGELS, ofertado pelo Departamento de Ciências Hu-manas – DCH, da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus VI, em Caetité, recebeu a sua primeira turma de Mestrado no ano de 2019 e os primeiros resultados de pesquisas produzidas por suas/51S U M Á R I Oseus alunas/os começaram a ser divulgados em novembro de 2020, quando foram defendidas as primeiras dissertações e produtos edu-cacionais. Por isso, ressalta-se que não foi citada, no levantamento apresentado,nenhuma informação sobre produções realizadas por mestrandas/os do PPGELS e que, porventura, pudessem ser encon-tradas na base de dados pesquisada, pois deteve-se ao período compreendido entre 2015 e 2019.No entanto, julga-se pertinente citar que, no banco de disser-tações do PPGELS, hospedado no site do referido programa (www.ppgels.uneb.br), em averiguação realizada no dia 27 de novembro de 2021, constavam 04 pesquisas defendidas no ano de 2020 e 06 pes-quisas defendidas no ano de 2021. Efetuou-se o mesmo procedimento utilizado no site Dados Abertos CAPES para busca de pesquisas liga-das aos descritores trabalho docente e formação docente, nos itens nome da produção (título), palavra-chave e resumo, só que, desta vez, de maneira individualizada, por não haver a disponibilidade de uma planilha contendo todas as informações em um único documento.Quadro 2 – Dissertações do PPGELS (dezembro de 2020 a novembro de 2021).Título PesquisadorEducação empreendedora: uma proposta de ensino para o for-talecimento dos jovens e adolescentes no Semiárido BaianoGabriele Santos CarvalhoA educação, o povo e as práticas culturais sertanejas nos escri-tos de João Gumes. Alto Sertão da Bahia, 1880 – 1930Diego Raian Aguiar PintoManuscritos de Alfredo José da Silva: reflexões sociais, políticas e identitárias sobre o Brasil – edição crítica e cartilha de brasilidadesDanielly Pereira dos SantosEducação de jovens e adultos e violência contra mulheres no Alto Sertão da BahiaAdelice Pereira de Jesus52S U M Á R I OContribuições da pedagogia da equidade racial para o enfren-tamento do racismo escolar na Educação Infantil, do distrito de Umburanas, em Brumado- BAValdirene Aragão RochaA Autoria na Produção de Textos Multimodais: uma proposta para a constituição do(a) aluno(a)-autor(a) nos anos finais do Ensino FundamentalMaria Angélica Rosa Fa-gundes Laranjeira LessaO gargalo da educação no município de Riacho de Santana, BA: o alto índice de evasão e a DIS como consequênciaMargarete Pereira Fer-nandes RibeiroProcesso de leitura literária do 9º ano do Ensino Fundamental da rede municipal de Educação de Caculé-BAGirlene Rosa Viana Ro-drigues PereiraAs políticas curriculares do Ensino Médio: atuação do Conselho EscolarElielson TeixeiraTrabalho e formação humana omnilateral em espaços educati-vos não formais: a educação nos movimentos sociaisAndrevânia Santos de MatosFonte: PPGELS/UNEB, 2021. Dados organizados pelos autores, 2021.Tal ação se deu para averiguar em que patamar se encontrava as pesquisas sobre trabalho e formação docente no próprio PPGELS, que tem como objetivo, na sua área de concentração, “conhecer a importância de saberes e práticas dos grupos locais, inclusive dos que existem fora dos contornos da universidade”, porque “o aprimo-ramento do ensino em espaços de educação formal e não formal do Semiárido baiano requer o aprofundamento multidisciplinar da for-mação de professores para entender as peculiaridades regionais” (PPGELS/UNEB, 2021).Na verificação feita, constatou-se que as/os primeiras/os mes-tras/es formadas/os pelo PPGELS estiveram engajadas/os na missão de cumprirem com o objetivo supracitado, pois suas pesquisas se vincularam, direta ou indiretamente, às localidades abrangidas pelo programa. Mas, ao serem pesquisados os descritores trabalho do-cente e formação docente nestas mesmas produções acadêmicas, percebeu-se que, apesar das temáticas abordadas levarem em con-53S U M Á R I Osideração a cidade de Caetité e região circunvizinha, não são de-batidos assuntos diretamente ligados ao tema Trabalho e Formação Docente. No entanto, todos os trabalhos recaem no universo educa-cional, porque o Mestrado é vinculado ao ensino e suas pesquisas trazem discussões pertinentes sobre o modo de atuação e/ou parti-cipação direta ou indireta do/a professor/a em diferentes contextos escolares (Educação Infantil, Educação de Jovens e Adultos, leitura literária, produção textual, processo de ensino e aprendizagem, fra-casso e evasão escolares, políticas curriculares, formação continua-da de professores, currículo escolar, processos educativos em espa-ços de educação não formal, etc.).Reitera-se que a busca realizada, tanto para as pesquisas em âmbito geral, quanto àquelas defendidas por sujeitos ligados ao próprio PPGELS, se deteve à averiguação da presença ou não dos descritores escolhidos nos títulos, palavras-chave e resumos, no intuito de trazer elementos que pudessem justificar a explanação sobre o assunto.O que se almejou foi, sobretudo, aguçar a curiosidade do/a lei-tor/a, para que se sinta motivado a buscar maiores informações e se debruce para realização de pesquisas que vislumbrem novos olhares, novos posicionamentos, novos diagnósticos acerca do ambiente no qual está envolvida/o a/o profissional docente e todos os aspectos a ela/e inerentes.CONSIDERAÇÕES FINAISA pesquisa revela que estudar trabalho e formação docente é uma área profícua para pesquisadoras/es que almejam se vincular a qualquer programa strictu sensu, em principal ao PPGELS, por ser este o primeiro programa de Mestrado ofertado por uma instituição 54S U M Á R I Opública na região estudada e, sobretudo, porque neste território de identidade chamado Sertão Produtivo encontram-se instalados três campi da Universidade do Estado da Bahia (o Campus VI em Caetité, o XII em Guanambi e o XX em Brumado), todos eles fortemente vin-culados à oferta de licenciaturas, ou seja, instituições responsáveis pela formação profissional de docentes. Assim, inevitavelmente, con-tribuem com a composição do que é a Educação em todos os muni-cípios que atendem, pois é sabido que a cultura escolar se constrói a partir de diversas nuances, dentre as quais não se pode negar o papel da Universidade.O PPGELS é um programa vinculado à UNEB, considerada a maior universidade multicampi do Norte e Nordeste brasileiros, pre-sente em todas as regiões do estado da Bahia. Há quase 40 anos, ela forma profissionais de diversas áreas do conhecimento, mas des-taca-se pelo pioneirismo na oferta de licenciaturas na sua grade de cursos de oferta contínua e também nos cursos ligados a programas especiais de formação, aqui podendo ser citado o REDE UNEB 2000, que, nos anos finais da década 90, cumpriu o importante papel de formar professores em exercício oriundos das mais remotas localida-des baianas e, inclusive, sendo inspiração para que o Ministério da Educação – MEC criasse o PARFOR, o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica, com o objetivo de dar a formação adequada a todos os profissionais inseridos na Educação Básica e que, para continuarem em atividade, precisavam obter o nível superior, em atendimento a um ditame previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (1996).Logo, debruçar-se em pesquisas com envergadura para o tra-balho e formação docente pode ser uma boa iniciativa, em especial porque contribuirá para o fortalecimento e reconhecimento do ofício de professor/a, buscando valorizar a identidade desta/e profissional, bem como registrar as suas memórias e saberes através das pesquisas que, porventura, sejam lançadas.55S U M Á R I ONo que diz respeito ao estudo realizado no presente texto, pu-demos constatar a carência de pesquisas sobre trabalho e formação docente no território analisado, fato este que abre um leque de possibi-lidades para os sujeitos que querem se inserir na pesquisa acadêmica sobre o ofício de ser professor/a.Frente a todo o estudo realizado, reitera-se a necessidade de co-nhecer as pesquisas sobre Trabalho e Formação Docente que tenham como cenário o Território de Identidade Sertão Produtivo baiano, local no qual está inserido o PPGELS, para que sejam identificadas lacunas de estudos e, consequentemente, as/os pesquisadoras/es já ligados ao programa de Mestrado mencionado e que estejam indecisos sobre o quê investigar oupara que aqueles sujeitos que almejam se vincular a esta pós-graduação stricto sensu percebam o quão pertinente é abordar o assunto em seus trabalhos, visto que a UNEB, em especial os seus campi VI, XII e XX, apesar da vasta experiência em formar professoras/es, não dispõe de grande número de pesquisas de Mestrado, tampouco de doutorado, relacionadas à temática de Trabalho e Formação docente. REFERÊNCIASBARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.CAPES. Dados Abertos CAPES – Catálogo de Teses e Dissertações. Disponível em: https://dadosabertos.capes.gov.br/. Acesso em: 14 nov. 2021.CAPES. Plataforma Sucupira. Disponível em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/. Acesso em: 14 nov. 2021.GATTI, B. A. et al. Professores do Brasil: novos cenários de formação. Brasília, UNESCO, 2019. Disponível em: https://www.fcc.org.br/fcc/wpcontent/uploads/2019/05/Livro_ProfessoresDoBrasil.pdf. Acesso em: 26 mar. 2022.GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo, Atlas: 2002.56S U M Á R I OMOROSINI, M. C.; FERNANDES, C. M. B. Estado do Conhecimento: conceitos, finalidades e interlocuções. Educação Por Escrito, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 154-164, jul.-dez. 2014.PPGELS – Programa de Pós-graduação em Ensino, Linguagem e Sociedade. Dissertações. Disponível em: http://www.ppgels.uneb.br/index.php/teses-dissertacoes/. Acesso em: 27 nov. 2021.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB). Projeto Político-pedagógico – PPP do Curso de Licenciatura em Pedagogia – PARFOR/UNEB/Caculé. Brumado: UNEB/Campus XX, 2019.Capítulo 3A Educação Estética e a Relação entre Educação e DesignHumberto CostaTania StoltzTrajano Felipe Barrabas Xavier da SilvaDOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95538.33Humberto CostaTania StoltzTrajano Felipe Barrabas Xavier da SilvaA EDUCAÇÃO ESTÉTICA E A RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E DESIGN58S U M Á R I OResumo: Os desafios contemporâneos apontam para a necessidade de mu-danças no âmbito do conceito de Design nos cursos superiores, já que as transformações mais contundentes numa sociedade estão relacionadas com a Educação. Questiona- se acerca da possível contribuição que a Estética po-deria oferecer ao processo educativo na área do Design e a presente pesquisa tem por objetivo refletir sobre as relações entre Estética, Design e Educação, com vistas a fomentar discussão e trazer contributos que possam respaldar a Educação Estética em cursos superiores de Design. Para a realização do es-tudo, utilizou-se a revisão bibliográfica como método. Os resultados apontam que existe uma necessidade de ampliar o que se entende por Estética e de aprofundar a discussão acerca do relevante papel que a Educação Estética desempenha nos cursos superiores de Design.Palavras-chave: Educação estética; Educação; Design.59S U M Á R I O1. INTRODUÇÃOEste capítulo trata da relação entre Estética e Design, com vistas a fomentar uma discussão acerca da importância da educação estética em cursos superiores de Design. A relação entre Design e Educação, apresentada neste estudo, está respaldada em inúmeras pesquisas (MEDEIROS, 1990; FONTOURA, 1997; 2003; SCHÖN, 2007; FREIRE, 2014 dentre outros) e o que sobressai é o pensamento de que, na relação entre Educação e Design, existem possibilidades para a inte-gração de conteúdos que visem àquelas vivências projetuais que certifi-cam determinadas atitudes, habilidades e comportamentos desejáveis nos discentes, tais como o pensamento divergente, crítico, criativo; a proatividade e o senso estético, além de desenvolver os sentidos, a percepção e a coordenação motora.Com as novas tecnologias que surgem a cada dia, tais como a robotização, a inteligência artificial, o nomadismo digital e uma miríade de outras tecnologias que levam a profundas mudanças na maneira de como se vive, são alguns desafios que apontam para uma exigência acerca do fazer, do aprender e do educar no âmbito do Design.Entendemos que a dimensão estética perpassa toda a atividade humana e a sua intensidade pode variar. As diferentes propriedades de um fenômeno podem evocar uma resposta estética nos usuários (HEKKERT; LEDER, 2008), inclusive as sensações desagradáveis (CHO, 2013). Nesse aspecto, entende-se que a dimensão Estética é maior que a percepção sensorial.O tema desta pesquisa encontra respaldo na visão que consi-dera o designer como aquele profissional responsável por conceber diferentes interfaces que, sobremaneira, estão em íntimo contato com o homem. Alguns autores como Desmet (2002), Duarte Junior (2004), Norman (2008) e Verganti (2009), por exemplo, apontam para a necessi-dade de se repensar a integração entre o Design e o homem para além dos aspectos funcionais, aparentes e utilitários.60S U M Á R I OCiente de tais questões pode-se vislumbrar na Educação, mais exatamente na Educação Estética, uma possibilidade de lançar novos olhares para o homem, para a Estética, para o Design e para a própria Educação. Na presente pesquisa, entende- se que a Educação Estética é o elo integrador entre a Estética, o Design e a Educação, uma vez que ela tem por objetivo educar esteticamente o homem para ser livre, ou seja, para pensar por si mesmo, integrando o saber sensível e o saber racional de um lado e, de outro, cuidando para ele que não caia nas armadilhas do esteticismo ou do cientificismo.2. PERCURSO METODOLÓGICODo ponto de vista da perspectiva teórica adotada, a presente pesquisa é de cunho fenomenológico, pois houve a intenção de com-preender um recorte da realidade social: a questão da Estética e as perspectivas para a sua educação em cursos superiores de Design. Para a realização da presente pesquisa, adotou-se a revisão bibliográ-fica em decorrência do objetivo a ser alcançado. Na revisão bibliográ-fica, utilizou-se a técnica narrativa, seguindo as orientações de Gray (2012). As seguintes fontes de informação foram utilizadas: 1) Bases de dados (Ebsco, Scielo, CAPES, ProQuest; Science Direct etc.); 2) anais de eventos sobre Design (Ergodesign/USIHC, P&D, Simpósio Brasileiro de Ciência de Serviços, CIPED, Service Design Conference etc.); 3) livros, teses e dissertações circunscritos às áreas pertinentes à temática da pesquisa (Banco de teses e dissertações da CAPES e OpenThesis). Foram utilizadas as seguintes palavras-chave para se pesquisar nas bases de dados: Educação Estética; Design e Estéti-ca; Estética no Design; Design Estético; Educação Superior; Aesthetic education; Aesthetic and Design; Aesthetic in Desing; Aesthetic Design e Higher education.61S U M Á R I O3. APORTE TEÓRICOO Design já foi considerado como uma profissão que atuava em áreas especializadas (BUCHANAN, 2001) tais como Design de produ-tos, Design gráfico, Design de moda etc., e uma das suas tarefas era a de fazer com que as coisas parecessem boas e bonitas (MORITZ, 2005, VERGANTI, 2009). Apoiado na égide de uma Estética da aparên-cia (COSTA, 2017a), o Design limitou-se a uma atividade operacional e tácita, ou seja, a de projetar funcionalidades de produtos, gráficos, ambientes etc., com beleza (BUCHANAN, 2001; VERGANTI, 2009).Na contemporaneidade, o Design ampliou a sua área de abran-gência (COSTA, 2017a), indo do produto físico às experiências das pessoas ao utilizarem um serviço (MORITZ, 2005). Conforme o World Design Organization (WDO), organização não governamental interna-cional que promove o Design e a profissão de designer, o Design é um processo estratégico que visa à solução de problemas, impulsio-nando a inovação que gera sucesso nos negócios e leva a uma me-lhor qualidade de vida por intermédio de produtos, sistemas, serviços e experiências inovadoras (WORLD DESIGN ORGANIZATION, 2015). Além disso, o Design principiou a criar políticas e a se envolver no de-senvolvimento de estratégias e filosofias adequadas ao seu universo e, por este motivo, está sendo reconhecido como um direcionador de negócios edeve estar à frente de uma criação (VERGANTI, 2009). No decurso de uma criação, o Design deve estar envolvido, como mostra a figura 1, desde o ponto mais global até o mais específico (MORITZ, 2005; COSTA, 2017a).62S U M Á R I OFigura 1 – Níveis de atuação do Design.Fonte: os autores, 2022.Um retrospecto mostra que os designers se centravam na criação. Posteriormente, passaram a pensar acerca daquilo que os usuários poderiam estar querendo ou necessitando. Na sequência, os designers passaram a fazer contato com as pessoas, seja para repre-sentá-las, seja para experimentá-las ou um misto das duas alternativas. Na atualidade, há uma nova forma de se projetar e esta insere as pes-soas, de forma colaborativa, em todos os processos de Design. A Fi-gura 2 ilustra o que foi dito.63S U M Á R I OFigura 2 – Evolução na atuação do designer.Fonte: os autores, 2022.O World Design Organization (2015) parte do princípio de que a profissão de designer é transdisciplinar e o designer utiliza a criatividade para resolver problemas e criar soluções com a intenção de melhorar produtos, sistemas, serviços, experiências ou negócios. Normalmente, o designer tem capacidade para oferecer maneiras mais otimistas de olhar para o futuro; aborda e reformula problemas contemporâneos, vi-sando a melhores oportunidades. Portanto, o designer deve comungar inovação, tecnologia, pesquisa, negócios e clientes com vistas a agre-gar valor e vantagem competitiva à criação, nas esferas econômica, social e ambiental (WORLD DESIGN ORGANIZATION, 2015).Já com relação à Estética, de forma geral, existem na literatura três principais interpretações: 1) Estética enquanto estudo da percep-ção sensorial e dos conhecimentos adquiridos por intermédio desta. Por essa interpretação, estético é tudo aquilo que se pode perceber sensorialmente através dos sentidos (BAUMGARTEN, 1993; BOMFIM, 1998; DUARTE JUNIOR, 2004). 2) Estética enquanto estudo do belo na natureza, nas atividades do homem e nos objetos por ele criado, sen-do estético o belo, o agradável, o sublime etc. (BOMFIM, 1998). 3). Esté-tica enquanto estudo da arte. Por tal interpretação, o objeto da Estética são as atividades artísticas, seus estilos e normas, ou seja, a Estética como Filosofia da Arte (BOMFIM, 1998).64S U M Á R I ONo Design, alguns pesquisadores (BOMFIM, 1998; JORDAM, 2000, DESMET, 2002; NORMAN, 2008; COSTA, 2017a; COSTA, 2017b; COSTA; STOLTZ, 2021, 2019 etc.) apontam as diferentes formas de se abordar a Estética. Após examinar a literatura, percebe-se que a via mais profícua encontrada para pensar sobre a Estética no Design foi a de deter-se nas funções dos produtos. Por exemplo, Mukarovsky (1981), Löbach (2000) e Bürdek (2006) dissertaram acerca do assunto; as suas proposições resultaram algumas convergências e divergên-cias, todavia mantiveram a essência (QUEIROZ, 2011).Para Mukarovsky (1981), as funções dos produtos dividem-se em funções imediatas e funções de signo. A primeira subdivide-se em duas: função práticas e função teórica. Na primeira, o objeto está em destaque, enquanto na segunda, é o sujeito que está em evidência. As funções de signo são subdivididas pelo autor em função simbólica e função estética, sendo que a primeira denota o objeto e a segunda, o sujeito. As proposições de Mukarovsky (1981) permearam estudos mais específicos no âmbito do Design, especialmente aqueles de auto-res como Löbach (2000) e Bürdek (2006).Löbach (2000, p. 41) entende que “os produtos industriais são bens de consumo que em momento determinado se tornam proprieda-de do usuário, são utilizados e mais tarde descartados, saindo do ciclo de consumo”. Segundo Löbach (2000), há três funções dos produtos e, por serem as mais adotadas entre os designers (QUEIROZ, 2011), serão descritas: 1) função prática - diretamente vinculada ao caráter utilitário, ao uso do produto; 2) função estética – diz respeito à configu-ração e à aparência do produto, tais como cor, forma, cheiro, aspectos táteis, gosto etc., aspectos que possuem capacidade para provocar reações positivas ou negativas na pessoa; 3) função simbólica – cir-cunscreve-se aos âmbitos da identificação e da representação do su-jeito a partir de significações de status, poder, prestígio, distinção etc.65S U M Á R I OEmbasado na dimensão informacional dos produtos e em sua capacidade de comunicação, Bürdek (2006) propõe uma classifica-ção que está voltada para as funções comunicativas dos artefatos: 1) função indicativa – refere-se à manipulação de um produto e, portanto, quase não permite interpretações individuais (por exemplo, um martelo serve para martelar); 2) Função Estético-formal – refere-se à vivência de impressões sensoriais por meio de elementos formais, tais como ritmo, proporção e harmonia. Todavia, acerca dos produtos, tais aspec-tos podem ser apreciados sem se observar o significado de seu conteú-do; 3) funções simbólicas – estas ampliam a visão de Löback (2000), ao colocar que os significados dos símbolos são dependentes de seus contextos socioculturais.Pesquisas apontam que o Design ampliou a sua área de abran-gência (COSTA, 2017a), indo do produto físico às experiências das pessoas ao utilizarem um serviço (MORITZ, 2005). Além de ser um importante propulsor de inovações nas mais diferentes áreas do saber/fazer humano (VERGANTI, 2009), o Design vem criando políticas, por exemplo, ambientais, e vê-se envolvido no desenvolvimento de estra-tégias e filosofias adequadas a esta área do conhecimento. Por esse motivo, está sendo reconhecido como um direcionador de negócios que deve estar à frente de uma criação (VERGANTI, 2009).Por questão de delimitação do assunto, optou-se por tratar nes-ta pesquisa somente sobre dois campos nos quais a Estética se mostra bastante envolvida e com os quais pode contribuir de forma decisiva. São perspectivas recentes que se apresentam como desafios a se-rem abordados pela educação (MIRANDA; TONETTO, 2014; COSTA, 2017a; COSTA, 2017b) e, de acordo com a literatura, são também cam-pos carentes de pesquisas mais aprofundadas, dada à complexidade da temática tratada, especialmente no que tange à Estética (FREIRE, 2011; COSTA, 2017a; COSTA, 2017b).66S U M Á R I O3.1. Design & EmotionDesign & Emotion refere-se ao ato de realizar um projeto com a intenção de despertar ou evitar determinadas emoções (DEMIR; DESMET; HEKKERT, 2009). Nessa perspectiva, um smartphone que desperta alegria no usuário ou uma cafeteria onde o ambiente de ser-viço estimula a interação entre as pessoas são exemplos de projetos típicos do Design & Emotion. Há um consenso entre estudiosos (DES-MET, 2002; DEMIR; DESMET; HEKKERT, 2009; MIRANDA; TONETTO, 2014) de que a experiência do usuário abarca uma dimensão afetiva que ocorre durante a interação. A literatura aponta que o Design & Emo-tion é uma das áreas do Design mais facilmente caracterizável como científica, especialmente por conjugar teoria, método e resultados de pesquisa que permitem a elaboração de afirmações sobre a experiên-cia do usuário (DESMET, 2000; TONETTO; COSTA, 2011). O “[...] que caracteriza esse caráter científico é a sequência projeto/pesquisa, que permite ao designer a observação, na realidade, da efetividade da apli-cação de suas teorias (de base psicológica) e de insights, aplicados em forma de projeto” (TONETTO; COSTA, 2011, p.133).Os trabalhos de Jordan (2000), Desmet (2002) e Norman (2008) são mais fortemente reconhecidos como marcos para a área do De-sign & Emotion (DEMIR; DESMET; HEKKERT, 2009). A seguir, cada uma dessas três abordagens será apresentada em ordem cronológica.Os seres humanos estão sempre a buscar o prazer e tal busca faz parte da experiência humana, uma vez que as pessoas obtêm gra-tificação por meio de atividades como admirar um pôr-do-sol ou sentir o perfume de uma rosa (JORDAN, 2000). O prazer com produtos é o resultado dos benefícios emocionais, hedônicos e práticosassocia-dos a eles (JORDAN, 2000). As necessidades dos usuários circuns-crevem-se às seguintes dimensões: 1) funcionalidade, 2) usabilidade e 3) prazer. Essa última é vista pelo autor como sendo a necessidade 67S U M Á R I Omáxima relacionada a um produto e, no seu entender, tal dimensão se subdivide em quatro categorias (JORDAN, 2000): prazer fisiológico, prazer social, prazer psicológico e prazer ideológico.O prazer fisiológico diz respeito ao corpo e aos sentidos e in-clui o prazer sensual. O prazer social circunscreve-se às relações com outras pessoas, incluindo o status. O prazer psicológico refere-se aos prazeres da mente. O prazer ideológico diz respeito àqueles prazeres oriundos de entidades teóricas (JORDAN, 2000).A teoria proposta por Jordan (2000) tem o mérito de oferecer aos designers uma ferramenta estética com capacidade para auxiliá-lo na lida com o problema de forma estruturada. Ao se utilizar o modelo pro-posto, busca-se compreender o motivo pelo qual as pessoas buscam e experimentam o prazer. Assim, não se trata de uma teoria do prazer, mas de uma ferramenta que visa a envolver o prazer.Desmet (2002) propôs um modelo baseado na Appraisal Theory. Um appraisal é a avaliação da significação de um estímulo e sua relevância para o bem-estar de uma pessoa (DESMET, 2002). Os estímulos avaliados como positivos despertam emoções prazero-sas no usuário e os negativos despertam emoções não prazerosas ou desagradáveis. O modelo proposto por Desmet (2002) envolve uma estimulação, uma preocupação e uma avaliação. A partir de uma preocupação e de uma estimulação, a pessoa elabora a avaliação do evento e, ao avaliá-lo, a pessoa atribui- lhe um significado decorrente da emoção provocada.Os estudos empreendidos por Norman (2008) acerca do pro-cessamento cerebral humano levaram-no a concluir que o homem é resultado de três diferentes níveis de estruturas do cérebro: o nível visceral, o nível comportamental e o nível reflexivo. Cada nível realiza um papel diferente no funcionamento global do indivíduo e todos eles refletem a evolução biológica do cérebro.68S U M Á R I OO nível visceral é responsável por “[...] fazer julgamentos rápi-dos, como o que é bom ou ruim, seguro ou perigoso, podendo ter suas ações inibidas ou ampliadas através de sinais de controle vindos de outros níveis” (NORMAN, 2008, p.42). Quanto ao nível comportamental, este “[...] refere-se aos processos cerebrais que controlam a maior parte das ações” (NORMAN, 2008, p.42) do homem, tais como “[...] andar de bicicleta, tocar um instrumento musical, dirigir um carro [...]” (NORMAN, 2008, p.42), etc. Tal nível tem capacidade para aperfeiçoar o nível visceral e ter suas ações aperfeiçoadas ou inibidas pelo nível superior (NORMAN, 2008). Já o nível reflexivo refere-se à interpreta-ção, à compreensão, ao raciocínio e à parte contemplativa do cérebro. (NORMAN, 2008). Todos os três níveis operam entrelaçados, sendo identificados na reação do homem frente ao fenômeno.Trazendo seus estudos para o campo do Design, Norman (2008, p.82) constatou que “os três níveis de processamento levam a três for-mas correspondentes de Design: visceral, comportamental e reflexivo”. O Design visceral diz respeito aos aspectos físicos e ao impacto emocional imediato. Os aspectos físicos como a aparência, o cheiro, o toque, os sons e os gostos predominam e são determinantes (NORMAN, 2008). O Design comportamental está diretamente relacio-nado ao uso do produto ou do serviço sob o ponto de vista objetivo e refere-se à função que o produto ou o serviço desempenha; à facilida-de com que o usuário o compreende e o opera; à eficácia com que estes, serviço e produto, cumprem suas funções e aos demais fato-res relacionados à maneira como o produto ou o serviço se comporta junto ao usuário (NORMAN, 2008). O Design reflexivo requer que se considere o fenômeno sob o ponto de vista subjetivo e este abarca as particularidades culturais e individuais, memória afetiva e os significa-dos atribuídos aos produtos ou aos serviços, dentre outros aspectos da dimensão do inatingível (por exemplos, a cortesia presente/ausente no atendimento ao cliente, a força dispensada em um aperto de mão ao cumprimentar um cliente, dentre outros.).69S U M Á R I O3.2. Os serviços e o Design para serviçosO setor de serviços gera a maior parcela do Produto Interno Bruto (PIB) das maiores economias do mundo (PINHANEZ, 2009) e é responsável por empregar a maior parcela de trabalhadores. Toda-via, estudos apontam que os serviços são, na maior parte das vezes, precários, pois muitas empresas ainda não os compreenderam (MA-GER, 2009). Por outro lado, alguns estudos mostram a necessidade premente de profissionais capacitados para atuarem na área, assim como o estímulo à implantação de empresas com especialidade no tema (COSTA, 2017a).Os serviços são atos, processos e atuações oferecidos ou co-produzidos, por uma pessoa ou organização, para outra pessoa ou organização e não são tangíveis ou passíveis de serem possuídos e armazenados como são os produtos (ZEITHAML; BITNER; GREMLER, 2011). Os produtos, que fazem parte do processo de prestação do ser-viço, são tomados como mediadores sobre os quais os fornecedores dos serviços desempenham as ações.O Design para Serviços (Service Design) surgiu aproximada-mente há 15 anos (MORITZ, 2005). Seu propósito é o de projetar toda a experiência do serviço, do processo e da estratégia para entregá-lo (MORITZ, 2005). Está em seu escopo compreender as pessoas, os usuários, a organização e o mercado, além de desenvolver ideias que possam ser traduzidas como soluções possíveis de serem implemen-tadas (COSTA, 2017a).Em muitas empresas, há uma dificuldade em manter a consis-tência estética dos serviços prestados aos usuários (COSTA, 2017a). A importância da Estética para os serviços é salientada em vários estudos, como por exemplo, nos de Fadel e Regis Filho (2009), estes identificaram que a tranquilidade ao utilizar os serviços e a clareza ao 70S U M Á R I Oesclarecer dúvidas foram fatores críticos na percepção da qualidade do serviço (90%). Dentre as conclusões presentes na pesquisa de Cer-chiaro (2006), há indicações de que existem deficiências estéticas na relação entre indivíduos em categorias que indicam cuidado e que estas estão sempre em primeiro lugar, antes das referências às instalações físicas, limpeza, médicos etc.A experiência estética em serviços tem natureza multidimensio-nal (LIU, 2003), já que a percepção é estimulada por múltiplos artefatos e múltiplos pontos de contato, de forma simultânea ou não. Há outros dois elementos que compõem a experiência estética: a percepção da relação com as pessoas envolvidas no provimento do serviço e a per-cepção da organização como um todo (LEHTINEN; LEHTINEN, 1982). Da mesma forma, o caráter social de parte dos pontos de contato dos serviços é relevante para a Estética, na medida em que propósitos, mo-tivações e habilidades, ao se interagir com as pessoas, podem deter-minar a qualidade da experiência do usuário (CZEPIEL, 1990). Isso posto, vê-se que a Estética pode contribuir com a realização de pro-jetos para novos serviços ou na reestruturação daqueles já existentes, com o intuito de aprimorar o escopo do Design para serviços.4. DISCUSSÃOA partir da figura 1, percebe-se que o Design envolve a com-preensão de carências, necessidades, motivações e contextos das pessoas, assim como das exigências e das restrições comerciais, das técnicas e de domínio da experiência (Design de funcionalidades e Design da experiência). Tal conhecimento pode ser traduzido em arte-fatos, em planos para artefatos (Design de processos e sistema) ou em estratégias que estabelecem estruturas ou fornecem direção para os negócios (Design Estratégico). Assim, o Design pode viabilizar que a 71S U M Á R I Oexperiência global de produtos e serviços seja tanto útil, utilizável e de-sejávelquanto eficiente, eficaz, economicamente viável e tecnicamente exequível. Disso, entende-se que é papel da educação, em cursos su-periores de Design, alargar (ou renovar) seus conteúdos, permeando--os por um reenquadramento crítico-reflexivo (COSTA; STOLTZ, 2021, 2019). O posicionamento do designer para atuar colaborativamente é o de estar aberto à coparticipação de diversos atores envolvidos em um projeto de Design (ver figura 2), já as práticas não devem ser restritas a cursos de pós-graduação, conforme apontaram Santos e Costa (2014) em suas pesquisas.A visão de Löback (2000) acerca das funções dos produtos pas-sa ao largo da visão empresarial, que entende os produtos como bens de consumo. Löback centra- se nas funções dos produtos exercidas durante seu ciclo de consumo, ou seja, na interação entre pessoa e produto, tais como as necessidades materiais, práticas, emocionais, psicossociais, dentre outras. Destaca-se que, para Löbach (2000), há uma estreita relação entre a função simbólica e a estética na medida em que a função simbólica se manifesta por meio dos elementos estéticos (por exemplo: cor, odor etc.) e “[...] só será efetiva se for baseada na aparência percebida sensorialmente e na capacidade mental da asso-ciação de ideias.” (LÖBACH, 2000, p. 65). Todavia, percebe-se que a visão do referido autor centra-se nos aspectos estésicos dos produtos e, portanto, Estética está restrita apenas a uma fração de seu escopo de ação. Há outras limitações. Por exemplo, Bürdek (2006) define a função indicativa parcialmente, pois se um martelo exprime sua função de maneira inequívoca, não se pode dizer o mesmo acerca de certas balanças de cozinha ou de um espremedor de cítricos.O que se percebe é que os autores aqui arrolados classificam de estético aquilo que é do âmbito do estésico. Isso faz com que a Estética fique confinada a uma visão limitadora e limitante, circunscrita à dimen-são dos sentidos. A função estética que aqui foi apresentada tem como 72S U M Á R I Opano de fundo a beleza, sendo esta compreendida em seu sentido filo-sófico, fundamentada em duas perspectivas principais: objetivista e subjetivista (COSTA, 2017b). A primeira considera que a beleza está no objeto. A segunda, que a beleza está no sujeito que ajuíza. Todavia, há uma terceira perspectiva que se mostra mais consonante com o pensamento contemporâneo, que busca a síntese entre as duas pers-pectivas (COSTA, 2017b). Ao ajuizar um fenômeno, o sujeito identifica as qualidades deste e adiciona neste processo a sua carga subjetiva, composta por tudo aquilo que armazena em seu repertório. O fenôme-no não é totalmente passivo, uma vez que funciona como um gatilho para a avaliação que culminará em uma experiência estética. De outro lado, a beleza, na perspectiva do Design contemporâneo, nem sempre é a característica mais desejada ou esperada (CHO, 2013; COSTA, 2017a). Parte-se do pressuposto que o Design volta-se para aquilo que faz do homem, humano.Esse entendimento acerca da Estética pode contribuir para com as novas necessidades que surgiram no campo do Design, por exem-plo: como a Estética se presentifica no âmbito do Design Estratégico? Quais são as habilidades necessárias para operacionalizá-la? A mesma noção Estética que se desenvolve no âmbito material é válida no âmbito do imaterial? Tais questões necessitam ser respondidas à luz das novas abordagens, uma vez que a simples adaptação de conhecimentos, oriundos de outras áreas do saber, não se mostra adequada.No âmbito dos artefatos, a Estética apresenta base teórica e um consistente ferramental de apoio ao processo de desenvolvimento de produtos (PDP) (SANTOS, 2009). Da mesma forma, o Design também faz parte das estratégias organizacionais por se tratar de uma atividade projetual cujo objeto central está no conjunto integrado de produtos, serviços e comunicação (sistemas produto-serviço ou product-servi-ce system - PSS) (MAURI, 1997 apud ZURLO, 1999). Portanto, existe a necessidade de considerar outras abordagens estéticas que sejam 73S U M Á R I Ocapazes de abarcar o entendimento de que o processo de elaboração das estratégias é um processo social da instituição, no qual ela define suas interfaces de interação com seu público e com o mercado. En-tende-se que a Estética, ao permear uma análise das forças internas da instituição, do ambiente externo e de uma forma de raciocinar que visa a minimizar as incertezas e a reduzir os riscos implícitos nestas, pode-se identificar uma forte aproximação do pensamento projetual e do pensamento estratégico no Design (FREIRE, 2011).Disso, entende-se que a Estética circunscreve as experiências que o homem vivencia, envolvendo simultaneamente os sentidos, o comportamento e a geração de significados. Por tal entendimento, as percepções sensoriais, os elementos emocionais e comportamentais e os elementos de significação (cognitivos) constituem uma experiência abrangente que comunga elementos tangíveis e elementos intangíveis e estes permitem ao homem significar com maior profundidade as expe-riências vivenciadas (COSTA, 2017a; COSTA, 2017b; COSTA; STOLTZ, 2019). Tal experiência é capaz de gerar um tipo de conhecimento que envolve a estesia, a emoção, o comportamento e a cognição.Propõe-se que a educação, no âmbito dos cursos superiores de Design, busque educar esteticamente os discentes. Tratar-se-á de um tipo de educação estética que seja capaz de possibilitar novos olhares para o homem, para a Educação, para a Estética e para o De-sign. Assim, a Educação Estética, nesta proposta educacional passa a ser o elo integrador entre a Estética, o Design e a Educação, uma vez que a Estética tem por objetivo educar o homem para ser livre, para pensar por si mesmo, integrando o saber sensível e o saber racional.Os trabalhos de Jordan (2000), Desmet (2002) e Norman (2008) são mais fortemente reconhecidos como os mais indicados para a área do Design & Emotion (DEMIR; DESMET; HEKKERT, 2009). Tam-bém constituem abordagens que estão mais consonantes com a vi-são ampliada acerca da Estética que se propôs anteriormente, pois 74S U M Á R I Oconsideram diversas facetas dos fenômenos. Por exemplo, Desmet (2002) teve por propósito entender a relação emocional das pessoas com eventos. A relação de causalidade entre avaliações (appraisals) e emoções demanda compreender como a causa se estabelece e como uma avaliação gera uma emoção (DEMIR; DESMET; HEKKERT, 2009). Com tais informações, o designer pode projetar algo com vistas a des-pertar e/ou mesmo evitar certas emoções. Servindo-se de uma inves-tigação direta com as pessoas, pode-se buscar compreender os mo-tivos (appraisals) que despertam determinadas emoções para, então, projetar produtos ou serviços considerando os elementos comumente associados ao appraisal pretendido (por exemplo, a agradabilidade). Todavia, deve-se ressaltar que as três abordagens apresentadas es-tão voltadas para a dimensão do produto. O desafio que se coloca, em termos educacionais e de pesquisa, é o de ampliar a base de co-nhecimento para que a abordagem do Design para a Emoção possa abarcar a dimensão estratégica do Design.No âmbito do Design para Serviços, constatou-se a quase au-sência de estudos que tratam da dimensão Estética no processo de De-sign. Alguns estudiosos tais como Freire (2011), Candi e Saemundsson (2011) e Costa, (2017a) apontam a dimensão estética dos serviços como uma temática que requer avanços no conhecimento por parte da comunidade do Design.5. CONCLUSÃOO propósito maior desta pesquisa foi o de compreender as rela-ções entre Educação, Estética e Design e entende-se que tal propó-sito foi cumprido, pois há, aqui, conhecimentos que fornecem novos elementos para discussão acerca da relação entre Estética e Design no âmbito da Educação, buscando um novo horizonte para o processo 75S U M Á R I Oeducacional. Processo esse que, conforme mostraram a literatura e as reflexõesaqui expostas, necessita de urgente revisão. Verificou-se, com a presente pesquisa, que grande parte da literatura circunscrita à Esté-tica no Design diz respeito a uma abordagem centrada na aparência e na beleza. Todavia, há literaturas recentes, no âmbito do Design, que abordam a Estética por um viés ampliado e, portanto, deveriam ser adotadas como bibliografia.Também, este estudo mostrou uma nova visão para a Estética que passa ao largo das abordagens analíticas que tomam a Estética pelo viés da beleza, da aparência e da categorização. Para tanto, partiu do pressuposto de que o mundo é o lugar da Estética, pois qualquer fe-nômeno tem potencial para despertar uma experiência estética e esta, por sua vez, deve evocar uma experiência que seja fascinante, envol-vente, casual e revigorante, podendo vir da inter-relação entre pessoas, contexto e cultura.Assim, entende-se que a relação entre Estética e Design na Edu-cação deve fundamentar-se no ser humano. Antes de serem clientes ou usuários, pessoas são pessoas, com suas idiossincrasias, vonta-des, necessidades, desejos. De outro lado, há o mercado, também com suas peculiaridades. O desafio que se apresenta é o de possibi-litar uma visão integradora que permita que um resultado do Design seja útil, usável e desejável, do ponto de vista das pessoas, e efetivo, eficiente e distinto, do ponto de vista daquele que solicita o trabalho de um profissional do Design.REFERÊNCIASBAUMGARTEN, A. G. Estética: A lógica da arte do poema. Rio de Janeiro: Vozes, 1993.BOMFIM, G. A. 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A partir de pesquisa documental, analisou-se a Portaria 1065/2017 da UFAM que trata da Política de Informação para o Repositório Institucional da Universidade Federal do Amazonas e o documento de área da educação da CAPES de 2017 para observar as evidências que se alinham para movimento de acesso livre. No ambiente amazônico, a discussão sobre o tema pode contribuir para redimen-sionar a educação e o acesso à informação e ao conhecimento, diminuindo a distância entre sujeitos e saberes científicos.Palavras-chave: Programa de pós-graduação; pesquisa; ciência aberta; acesso livre; produção de conhecimento.82S U M Á R I OINTRODUÇÃOEste trabalho é fruto de pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educa-ção na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), tendo como área de concentração “Educação, Cultura e Desafios Amazônicos”, que visa desenvolver estudos que contribuam com a promoção da educação no contexto amazônico, tentando compreender os desafios que ema-nam do meio regional, para diminuir impactos, por um lado, negativos impostos pelo meio e, por outro, valorizar a sociodiversidade local.O interesse em investigar sobre o movimento de acesso livre e cultura aberta é oriundo da experiência do autor ainda durante a inicia-ção científica na graduação em Biblioteconomia, quando desenvolveu estudo sobre web 2.0, a qual era voltada à comunicação científica, e pela participação do pesquisador em projeto de iniciação tecnológica, quando teve contato com os estudos sobre ciência, tecnologia e so-ciedade (CTS) e a divulgação científica (DC). Os temas: acesso livre, ciência aberta e cultura free são emer-gentes atualmente no panorama mundial e brasileiro, em que se advoga pela liberdade e acesso a produção intelectual humana, em que esses produtos podem ser distribuídos e modificados livre-mente, e tem crescido como forma de oposição aos mecanismos de apropriação intelectual.Para compreender o contexto, a pergunta que norteia essa pes-quisa é como se constitui a comunicação científica através dos movi-mentos de abertura e suas ferramentas no processo educacional no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas (PPGE/UFAM)? 83S U M Á R I OO questionamento surge em uma época em que movimentos de acesso livre e ciência aberta têm se engajando pela redemocratização do saber e da ciência enquanto bem humano inerente ao exercício da democracia. Assim se busca saber como está constituída a comunica-ção científica no PPGE/UFAM, observando o documento de área em educação da CAPES e a portaria 1065/2017 da UFAM, que regula as políticas do repositório da UFAM. Ao longo do trabalho, será apontado que as dinâmicas relacio-nados a promoção de acesso livre na UFAM, especialmente no âmbito do PPGE. Para responder a pergunta da pesquisa, traçou-se como objetivo geral analisar como se constitui a comunicação científica por meio dos movimentos de abertura e de acesso livre e do repositório no processo educacional no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas (PPGE/UFAM).A cartografia é método adotado para desenvolvimento da pes-quisa, em que é apresentado os princípios da cartografia, como se dar as relações de rizoma e hipertexto baseadas nos trabalhos de Lévy (1994) e Deleuze e Guattari (2011), contextualizando no ambiente digi-tal e nos movimentos de aberturas. O método em si permite se analisar como o movimento de acesso de livre, uma potencial cultura aberta se desdobra e sua correlação com a comunicação de ciências. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICAA virtualização vivida na pós-modernidade tem modificado a for-ma que nos relacionamos com nós mesmo, com a sociedade, com a economia e a inovação, e ainda redesenhando a forma que acessamos e consumimos conteúdos (LÉVY, 1996). O acesso à rede hipertextual modificou a realidade em menos de cinquenta anos, passou a ocupar 84S U M Á R I Oa rotina das pessoas, sendo fundamental pela agilidade que dispõem na busca e recuperação de informações.O mundo passa a ser uma grande malha de redes, onde sur-gem “nós” que linkam a outros “nós” que facilitam o deslocamento no globo, o consumo de serviços, os relacionamentos afetivos e a estrutu-ra das organizações (GUERREIRO, 2006), que remetem ao hipertexto apresentado por Lévy (1993), que são nódulos que se hiperconectam.É consensual entre estudiosos, na pós-modernidade, a estrutura de educação não pode ser concebida sem a inserção das TICs. E sem a utilização destes recursos, seria contribuir para uma educação que se valia de velhas práticas (PASSARELLI, 2007). Isso pode ser reterri-torializado na comunicação científica, em que o uso de TICs poderia contribuir para a manutenção de práticas que estimulem a autonomia do sujeito que demanda informação científica e tecnológica. Nos anos 1970 do Século XX, começam os estudos para o de-senvolvimento da rede digital, começam a surgir às primeiras iniciati-vas de software e de computação aplicada. Nesse terreno, o software proprietário começa de forma natural a se estabelecer através das ativi-dades estratégicas e de monopólio das corporações de comunicação. Esta modalidade de software não permitia sua alteração, modificação ou correção sendo apenas da responsabilidade de seu criador poder realizar tais atividades (KON; LAGO; MEIRELHES; SABINO, 2011).Em contravenção ao software proprietário, uma comunidade de estudiosos de software começa a defender o livre acesso ao programa e sua modificação, surgindo o movimento de free software com viés ideológico bastante característico e que mais tarde surgiria o movimen-to o open source, muito menos ideológico e articulava-seem estimular promoção do software livre e de código aberto pelos setores da eco-nomia, aqui adotamos um conceito mais geral, movimento de software livre e código aberto (Freeand Open Source Software - FLOSS) para 85S U M Á R I Onão sermos tendenciosos. O uso de FLOSS tem se expandido devido a sua qualidade essencialmente de livre e de possibilidade de modifi-cação para as necessidades da organização onde está inserido, aqui podemos citar software livres voltados aos repositórios institucionais como caso do Dspace. Numa perspectiva deleuze-guattariana, o desenvolvimento do movimento de FLOSS, acesso aberto ou adjetivos semelhantes, que se inicia em 1980 com software livre, pode ter concebido o desdobramen-to de um rizoma de cultura livre e aberta para outras categorias, que tem se expandido como território disponível e que acaba compondo e decompondo as estruturas, e que através de conexões tem reterrito-rializado essas mesmas categorias, causando um tipo de segmenta-ridade do movimento de acesso aberto, mas que não se isolam, pelo contrariam mantém conexões, como a: além do Software free (software livre); Open Access (Acesso Aberto); Open source (Código Aberto); Open science (Ciência Aberta); Open content (Conteúdo aberto), etc.O desenvolvimento de iniciativa de acesso livre começa trazer novos significados a comunicação científica, Choo (2003) coloca que os estudos sobre regime informacional e o comportamento de indi-víduos, que consumiam informação remete a 1948, em que sujeitos como cientistas e cidadãos comuns que buscavam informação en-quanto necessidade. Neste novo regime, estava imbricada a comu-nicação científica, que já era latente ficando em voga com a explosão bibliografia e informacional no mundo pós II Guerra Mundial. Os movimentos de ciência aberta em especial o acesso livre, é uma tentativa de “retornar” verdadeiro o espírito da ciência em contra-posição aos mecanismos de propriedade intelectual que tem se con-solidado nas últimas décadas. Advoga-se que a ciência aberta traz uma maior produtividade ao desenvolvimento científico, sendo ainda colaborativa e se apropriando de recursos disponibilizados no ambien-te digital (ALBAGLI; CLÍNIO; RAYCHTOCK, 2014):86S U M Á R I OCiência aberta é hoje um termo guarda-chuva, que engloba di-ferentes significados, tipos de práticas e iniciativas, bem como envolve distintas perspectivas, pressupostos e implicações. Aí estão incluídas desde a disponibilização gratuita dos resultados da pesquisa (acesso aberto), até a valorização e a participação direta de não cientistas e não especialistas no fazer ciência, tais como “leigos” e “amadores” (ciência cidadã). (ALBAGLI; CLÍ-NIO; RAYCHTOCK, 2014).A Albagli, Clínio e Raychtock (2014) trazem ainda seis áreas--chave de ação, frente à ciência aberta propostas pela Royal Society:Em 2012, a Royal Society lançou o documento “Science as open enterprise”, um guia para a ciência aberta, no qual destaca seis áreas-chave de ação: (a) cientistas precisam ser mais abertos entre eles mesmos e com o público e a mídia; (b) deve ser atri-buído maior reconhecimento ao valor do levantamento, análise e comunicação de dados; (c) padrões comuns para comparti-lhamento de informações são requeridos para torná-las mais amplamente utilizáveis; (d) publicar dados de modo reutilizável para apoiar descobertas, deve ser mandatório; (e) mais espe-cialistas em gerenciar e apoiar o uso de dados digitais são ne-cessários; (f) novas ferramentas de software precisam ser de-senvolvidas para analisar a crescente quantidade de dados sendo levantados. (ALBAGLI; CLÍNIO; RAYCHTOCK, 2014).No campo da ciência e da comunicação científica, os ambientes virtuais contribuem para essa “dispersão” e popularização do saber científico, especialmente para a troca de informação e conhecimento entre pares. Na atualidade existem mecanismos como as revistas ele-trônicas, que utilizam software livre para comunicar e promover acesso livre a produção intelectual fruto de pesquisas (ALMEIDA, 2019).A Comunicação Científica é definida por autores como Garvey e Griffith (1979, p.127-163) como o conjunto de atividades associadas à produção, disseminação e uso da informação. Na fase da pesquisa ocorre a geração da informação e a disseminação se dá pela transfe-rência da informação por meio de canais de comunicação heterogê-neos, os quais podem ser formais ou informais, orais ou escritos. Entre 87S U M Á R I Oos meios de comunicação orais, estão as conversas, os encontros científicos, os colóquios e as conferências, bem como as comissões científicas e técnicas. Entre os meios escritos, estão os relatórios de pesquisa, relatórios técnicos, teses e dissertações, boletins, pré-publi-cações (pre-prints), anais (proceedings), artigo de periódico e o próprio periódico científico (GARVEY; GRIFFITH, 1979, p.127-163).Pinheiro (2014) destaca que:O sistema tradicional de comunicação científica foi profunda-mente afetado, juntamente com as questões que lhe são ineren-tes e decorrentes, como propriedade intelectual, autoria coleti-va, direito autoral, produtividade científica, citação etc. As singularidades que modificam a forma como a ciência tem sido comunicada decorre de fatores como: novas tecnologias, es-paços colaborativos e de amplo dialogo, crises nos mecanismos de apropriação do conhecimento, insatisfação da comunidade científica pelas taxas aplicadas pelas grandes editoras na publicação e acesso de produções científicas. No contexto amazônico, a comunicação das ciências tem o compromisso de conhecer mais de nós mesmos e difundir isso para coletivo Amazônida, para seus cidadãos leigos e pesquisadores da região. Faulhaber (2005 apud REIS, 1956, p. 4) define a região como “um mundo por descobrir e identificar”, uma vez que a região é um dos maiores sistemas socioecológicos do planeta e que apresenta singu-laridades presentes somente em seu território, tendo potencialidades: econômica, biotecnológicas, social e sustentável.Adotar princípios de abertura e seus valores está muito além do mero desenvolvimento da pesquisa, mas está em cobrar do cientista uma nova postura, a gestão de dados e de sistemas de informação, prática no uso de novos softwares, conhecimento de questões legais e jurídicas. Além de articulação com outros atores como: bibliotecários, 88S U M Á R I Ojuristas, programadores, políticos e outros que podem contribuir para a consolidação do movimento (ALBAGLI; CLINIO; RAYCHTOCK, 2014). Trazer a reflexão destes movimentos de cultura livre e acesso aberto no contexto amazônico é contribuir para a redemocratização do saber científico da região, na atuação e emancipação de diversos atores que irão atuar no processo de composição e decomposição da informação e do conhecimento. A lógica do devir não está em disponi-bilizar acesso livre de modo isolado, mas criar redes institucionais co-laborativas para difusão de informação e conhecimento, como o caso da Rede Norte de Repositórios Institucionais (NORTE/RIAA).ANÁLISE DOS DADOSNo ambiente amazônico existe uma diversidade de entidades que desenvolvem a comunicação científica no seu exercício, como as que foram citadas anteriormente. Mas existe uma representação tam-bém forte na produção científica oriunda das universidades da mesma região, sendo algumas: Universidade Federal do Amazonas; Universi-dade Federal do Pará; Universidade Federal do Amapá; Universidade do Estado do Amazonas; Universidade Federal do Rondônia; Universi-dade Federal Rural da Amazônia e dentre outras que contribuem para uma consolidação do comunicar ciências neste ambiente. Em 24 de maio de 2014, foi elaborada a Carta de Belém, uma ini-ciativa para a consolidação de uma rede de repositórios institucionais com o objetivo de trazer visibilidade à produção acadêmica da região, criando um consórcio de repositórios de instituições da região norte brasileira e fomentando a criaçãode repositórios em cada instituição, que inicialmente foi assinada por algumas das instituições citadas no parágrafo anterior.89S U M Á R I OA gestão do conhecimento em Repositórios Institucionais pro-porciona benefícios, especialmente à comunidade científica, desde o processo da comunicação do conhecimento, como a maior visibilidade do avanço da ciência e transparência dos investimentos, até ao desenvolvimento social e do interesse pú-blico (CARTA DE BELÉM, 2014). A criação de um consórcio de repositórios da região norte é uma tentativa de construir um ambiente e redes comunicacionais no ambiente da Amazônia e das instituições de pesquisa que as com-põem, funcionando na lógica de colaboração e produção de novas informações e conhecimentos. Ao longo das reuniões que ocorreram no grupo de bibliotecários destas instituições da região norte, buscou-se mecanismo de opera-cionalização do acesso aberto à informação científica e tecnológica em repositórios institucionais e meio de promover uma ampla dissemina-ção da literatura e produção científica (SANTOS, 2017). A carta de Belém é promulgada diante de um panorama interna-cional que tem se afirmado na tentativa de tornar a pesquisa científica e seus resultados mais acessíveis, não somente para comunidade acadê-mica, mais a todos os atores sociais que estão dispostos na sociedade. Em 2016 é lançado a Rede Norte de Repositórios Institucionais1, que foi desenvolvida pela UFAM/CTIC, com a missão de possibilitar o acesso livre e gratuito à produção acadêmica da região norte do Brasil, congregando repositórios das instituições científicas da mesma região, funcionando na lógica de interoperabilidade e a interligação. A UFAM apresenta algumas iniciativas ao longo do seu percurso históri-co e acadêmico que tem contribuído para a comunicação científica e a aderência de uma cultura aberta. Em 2007 é publicada a resolução nº 010/2007, que cria a biblioteca digital de tese e dissertações da instituição e estabelece as normas e procedimentos de publicação que visava atende à Portaria CAPES Nº 13/2013, que trata sobre a iniciativa 1 C.f: https://redenorte.ufam.edu.br/90S U M Á R I Oem divulgar as obrasoriginadas da pós-graduação, uma iniciativa ali-nhada ao movimento open acess que teve sua constituição em 2002 através da Declaração de Budapeste pelo Acesso aberto. O uso de ferramentas da cultura livre já utilizada para a comu-nicação científica, como por exemplo: OJS/SEER, que é um software livre utilizado para gestão de periódicos de acesso livre, e que no âm-bito da UFAM é instituído o Portal de Periódicos da mesma instituição; outro exemplo é programa Dspace que é utilizado para a customização de repositórios institucionais e bibliotecas digitais de acesso livre, um recurso que tem sido aderido no âmbito brasileiro e que atualmente tem a versão em português disponibilizado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT); e outro exemplo relevante tem sido a Plataforma Moodle que é um SL/CA voltado especialmente para a educação à distância que pode ser alinhado a uma das iniciati-vas que compõem a ciência aberta, que é a educação aberta. Esta investigação busca compreender e conhecer as singulari-dades referentes ao documento de área da CAPES em educação de 2016 e a Portaria 1065/2017 da UFAM. Apesar de existir a portaria Nº 010/2017, que trata sobre criação da BDTD/UFAM é um recurso que se encontra indisponível e teve sua atualização encerrada pelo IBICT. Na atualidade, a UFAM dispõe de uma nova biblioteca de teses e dissertações (TEDE2), que está amparada e customizada através da plataforma Dspace. A portaria 1065/2017 da UFAM é uma iniciativa de atender a dinâmicas regionais, quando ocorreu a instituição da Carta de Belém de 2014 que posteriormente viabiliza a criação da Rede Norte de Re-positórios Institucionais, em nível nacional em 2002 o IBICT lança a ver-são brasileira do software Dspace, no mesmo o movimento de acesso aberto é institucionalizado por meio da Declaração de acesso aberto de Budapeste vem consolidando no panorama internacional e servindo de base para a criação de políticas institucionais e governamentais para acesso aberto.91S U M Á R I OA institucionalidade de repositórios institucionais e da Rede Nor-te de Repositórios é uma tentativa de redemocratizar o acesso à infor-mação e conhecimento, que é uma das premissas da ciência moderna em ser acessível e comum a todos os atores que compõem a socie-dade na contemporaneidade. A informação e conhecimento científico disponibilizado no repositório é fruto da dinâmica do ciberespaço, de um devir coletivo de sujeitos que desde 1980, quando surge de forma embrionária o software livre, no esforço de tornar todo conhecimento um bem comum.Esse mesmo movimento tem criando um meio condensado e de processualidade, em criando rede sociocomunicacionais da interação de diversas entidades. No panorama da região norte, em especial na UFAM, essa relação tem procurado estabelecer relações para a con-solidação de publicizar e comunicar a pesquisa científica. E que esse mesmo devir cria conexões das mais diferentes temáticas e sujeitos que pesquisam e consomem informação e conhecimento (SANTOS, 2017), que se alinha ao movimento do rizoma, da cartografia de De-leuze e Guattari (2011), não são linhas ou nódulos dispostos de forma permanente, mas que estão sempre em retroalimentação, em contínua composição e decomposição.O Repositório Institucional da UFAM (RIU/UFAM) é um dos que compõem esse consórcio de repositórios da região norte do Brasil, cujo objetivo é contribuir para o acesso livre e visibilidade da produção intelectual e artística da UFAM. O seu processo de institucionalização ocorreu com devir coletivo de profissionais da informação advogam pelo acesso livre.O RIU/UFAM tem em sua maioria relatórios de pesquisa que anteriormente estavam armazenados na plataforma Lira que foram transferidos para o repositório, principalmente por serem pesquisas que foram desenvolvidas com verba pública, contribuindo para a trans-parência na pesquisa. 92S U M Á R I OO repositório visa promover a visibilidade da pesquisa cientí-fica e seus resultados para a comunidade científica, contribuir para a preservação da produção intelectual da universidade e estimular o intercambio de informações e conhecimento entre outras instituições de ensino. O recurso é um serviço oferecido pelo Sistema de Biblioteca (SISTEBIB) da UFAM.A contribuição da cultura livre e de acesso aberto em especial na área de educação e em seus programas de pós-graduação se ali-nha a uma nova dinâmica da educação que tem se preocupado com conhecimento capaz de criticar o próprio conhecimento; discernir infor-mações chave; ensinar a condição humana; ensinar a identidade ter-rena; enfrentar incertezas; ensinar a compreender e a ética do gênero humano (MORIN, 2000).O PPGE/UFAM apresenta singularidades que compõem sua es-trutura, e que poderiam constituir como partes do processo de comu-nicação científica através do repositório institucional, como: • A portaria 1065/2017 prevê que as revistas científicas da UFAM devem compor parte do acervo digital do citado repositório e, no PPGE, existe a Revista Amazônida: Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ama-zonas que não tem suas produções armazenadas RIU/UFAM. O que é importante, pois contribuiria para a maior visibilidade da produção do programa de pós- graduação citado devido ao re-positório fazer parte da Rede Norte de repositórios e, por sua vez, fazendo parte do Portal OasisBR do Instituto Brasileiro de Infor-mação em Ciência e Tecnologia e da Rede LA Referência que promove acesso livre à produção intelectual na América latina.• O PPGE/UFAM tem uma considerável produção intelectual que varia de artigos apresentados em eventos, em periódicos, ma-teriais criados para cursos de modalidade à distância,Uzel Pereira da SilvaUniversidade Federal da Bahia, BrasilMaria Aparecida da Silva SantandelUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul, BrasilMaria Cristina GiorgiCentro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, BrasilMaria Edith Maroca de AvelarUniversidade Federal de Ouro Preto, BrasilMarina Bezerra da SilvaInstituto Federal do Piauí, BrasilMichele Marcelo Silva BortolaiUniversidade de São Paulo, BrasilMônica Tavares OrsiniUniversidade Federal do Rio de Janeiro, BrasilNara Oliveira SallesUniversidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Neli Maria MengalliPontifícia Universidade Católica de São Paulo, BrasilPatricia BiegingUniversidade de São Paulo, BrasilPatricia Flavia MotaUniversidade do Estado do Rio de Janeiro, BrasilRaul Inácio BusarelloUniversidade Federal de Santa Catarina, BrasilRaymundo Carlos Machado Ferreira FilhoUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, BrasilRoberta Rodrigues PoncianoUniversidade Federal de Uberlândia, BrasilRobson Teles GomesUniversidade Federal da Paraíba, BrasilRodiney Marcelo Braga dos SantosUniversidade Federal de Roraima, BrasilRodrigo Amancio de AssisUniversidade Federal de Mato Grosso, BrasilRodrigo Sarruge MolinaUniversidade Federal do Espírito Santo, BrasilRogério RauberUniversidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, BrasilRosane de Fatima Antunes ObregonUniversidade Federal do Maranhão, BrasilSamuel André PompeoUniversidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, BrasilSebastião Silva SoaresUniversidade Federal do Tocantins, BrasilSilmar José Spinardi FranchiUniversidade Federal de Santa Catarina, BrasilSimone Alves de CarvalhoUniversidade de São Paulo, BrasilSimoni Urnau BonfiglioUniversidade Federal da Paraíba, BrasilStela Maris Vaucher FariasUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, BrasilTadeu João Ribeiro BaptistaUniversidade Federal do Rio Grande do NorteTaiane Aparecida Ribeiro NepomocenoUniversidade Estadual do Oeste do Paraná, BrasilTaíza da Silva GamaUniversidade de São Paulo, BrasilTania Micheline MiorandoUniversidade Federal de Santa Maria, BrasilTarcísio VanzinUniversidade Federal de Santa Catarina, BrasilTascieli FeltrinUniversidade Federal de Santa Maria, BrasilTayson Ribeiro TelesUniversidade Federal do Acre, BrasilThiago Barbosa SoaresUniversidade Federal de São Carlos, BrasilThiago Camargo IwamotoPontifícia Universidade Católica de Goiás, BrasilThiago Medeiros BarrosUniversidade Federal do Rio Grande do Norte, BrasilTiago Mendes de OliveiraCentro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, BrasilVanessa Elisabete Raue RodriguesUniversidade Estadual de Ponta Grossa, BrasilVania Ribas UlbrichtUniversidade Federal de Santa Catarina, BrasilWellington Furtado RamosUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul, BrasilWellton da Silva de FatimaInstituto Federal de Alagoas, BrasilYan Masetto NicolaiUniversidade Federal de São Carlos, BrasilPARECERISTAS E REVISORES(AS) POR PARESAvaliadores e avaliadoras Ad-HocAlessandra Figueiró ThorntonUniversidade Luterana do Brasil, BrasilAlexandre João AppioUniversidade do Vale do Rio dos Sinos, BrasilBianka de Abreu SeveroUniversidade Federal de Santa Maria, BrasilCarlos Eduardo Damian LeiteUniversidade de São Paulo, BrasilCatarina Prestes de CarvalhoInstituto Federal Sul-Rio-Grandense, BrasilElisiene Borges LealUniversidade Federal do Piauí, BrasilElizabete de Paula PachecoUniversidade Federal de Uberlândia, BrasilElton SimomukayUniversidade Estadual de Ponta Grossa, BrasilFrancisco Geová Goveia Silva JúniorUniversidade Potiguar, BrasilIndiamaris PereiraUniversidade do Vale do Itajaí, BrasilJacqueline de Castro RimáUniversidade Federal da Paraíba, BrasilLucimar Romeu FernandesInstituto Politécnico de Bragança, BrasilMarcos de Souza MachadoUniversidade Federal da Bahia, BrasilMichele de Oliveira SampaioUniversidade Federal do Espírito Santo, BrasilPedro Augusto Paula do CarmoUniversidade Paulista, BrasilSamara Castro da SilvaUniversidade de Caxias do Sul, BrasilThais Karina Souza do NascimentoInstituto de Ciências das Artes, BrasilViviane Gil da Silva OliveiraUniversidade Federal do Amazonas, BrasilWeyber Rodrigues de SouzaPontifícia Universidade Católica de Goiás, BrasilWilliam Roslindo ParanhosUniversidade Federal de Santa Catarina, BrasilPARECER E REVISÃO POR PARESOs textos que compõem esta obra foram submetidos para avaliação do Conselho Editorial da Pimenta Cultural, bem como revisados por pares, sendo indicados para a publicação.PrefácioA organização deste livro permitiu reunir uma amplitude de con-tribuições para o enriquecimento dos debates na área da Educação. Devido à multiplicidade de temas e abordagens, optou-se por mini-mamente categorizar os capítulos em áreas gerais Educação Superior, Educação Infantil, Gerais e Ensaios. O primeiro capítulo traz uma análise de artigos científicos na área de Educação que se valeram do Estado da Arte como metodologia de tratamento dos dados. A pesquisa de cunho qualitativo, do tipo estado do conhecimento analisou 61 artigos científicos que além de utilizarem o Estado da Arte como metodologia, indicaram o referido termo no título do artigo científico. A análise indicou ainda o uso inexpressivo de aporte teórico específico sobre Estado da Arte, o uso do termo Estado da Arte como adjetivação da pesquisa, sem que haja a definição do método, e a relevância de dois estudos como aporte teórico. No segundo capítulo, o texto apresenta um levantamento das pesquisas sobre trabalho e formação docente que têm como cam-po de investigação o Território de Identidade Sertão Produtivo, região do Programa de Pós-graduação em Ensino, Linguagem e Sociedade, da Universidade do Estado da Bahia. Inicialmente, traz considerações acerca dos aspectos relacionados às categorias trabalho docente e formação docente; pelo estado do conhecimento e abordagem qua-litativa, o texto destaca os resultados do estudo, os quais evidenciam que ainda é carente a realização de pesquisas sobre trabalho e for-mação docente no território analisado, abrindo possibilidades para os sujeitos que querem se inserir na pesquisa acadêmica sobre o ofício de ser professor/a.Ainda sobre desafios na Educação em geral, principalmente na Educação Superior, o terceiro capítulo aborda a necessidade de mudan-ças no âmbito do conceito de Design nos cursos superiores, já que as transformações mais contundentes numa sociedade estão relacionadas com a Educação, de acordo com os desafios contemporâneos. Ques-tiona- se acerca da possível contribuição que a Estética poderia oferecer ao processo educativo na área do Design e a presente pesquisa tem por objetivo refletir sobre as relações entre Estética, Design e Educação, com vistas a fomentar discussão e trazer contributos que possam res-paldar a Educação Estética em cursos superiores de Design. Na sequência, o quarto capítulo aborda as potencialidades do movimento de acesso livre e cultura aberta no contexto do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ama-zonas (PPGE/UFAM). Tal investigação cartografou o movimento da cultura livre e de acesso aberto no ambiente da UFAM e traçou um percurso histórico dele. A metodologia adotada foi à cartografia Deleu-ze-guattariana, que dialoga com o hipertexto de Lévy (1993), usando pesquisa documental. No ambiente amazônico, a discussão sobre o tema pode contribuir para redimensionar a educação e o acesso à informação e ao conhecimento, diminuindo a distância entre sujeitos e saberes científicos.O capítulo quinto apresenta uma comparação entre dois currí-culos de formação de professores, um do Brasil e outro da Espanha a partir de uma experiência de intercâmbio estudantil para uma Institui-ção de Ensino Superior espanhola, durante a graduação no curso de Pedagogia. Os resultados indicaram que enquanto a matriz brasileira é maissoftwares 93S U M Á R I OFLOSS e dados fruto da prática científica. Para atender as exi-gências de transparência e ciência aberta, seria imprescindível que o programa adotasse medidas para alimentação do reposi-tório e torna-la obrigatório. O documento de área não exige que produtos dessa natureza sejam publicizados, mas também re-comenda que a produção acadêmica seja veiculada em outros meios de comunicação não tradicionais e o repositório poderia atender essa demanda.• A portaria 1065/2017 e o repositório apresentam outra diversida-de de produções que são passíveis de ser armazenada no mes-mo, isso contribuiria para o desenvolvimento de uma diversida-de de produção intelectual e seria viável ao programa estimular a adoção de novos suportes de publicação no ambiente digital, contribuindo para o desenvolvimento do PPGE e para temática pesquisada no âmbito do programa, servindo de base para pro-gramas da região norte e para os demais do Estado brasileiro. O PPGE/UFAM poderia realizar o arquivamento de anais de even-tos, de softwares, de atas de conferências, os dados criados em pesquisas no âmbito do PPGE. Esse povoamento contribuiria para uma estrutura que estaria em constante retroalimentação.• O povoamento do repositório é previsto na portaria 1065/2017 no capitulo VI, em que são estabelecidos alguns critérios para sua aceitação de documentos no repositório. Pode haver criações de natureza que não estejam previstas na resolução, mas que seja relevante seu arquivamento é o programa PPGE/UFAM pode criar mecanismos legais para a apreciação destes objetos intelectuais fruto da atividade de pesquisa, tais como: questionários, censo, gravações, fotografias etc. Eles podem compor o acervo do repo-sitório RIU/UFAM. O colegiado do curso antes do arquivamento pode fazer uma avaliação sobre está produção para ter uma qua-lidade mínima que atenda outras demandas de outras pesquisas e que não seja um conteúdo de caráter duvidoso. 94S U M Á R I OO desenvolvimento e aplicação de práticas alinhadas ao movi-mento de acesso livre e cultura aberta no âmbito do PPGE/UFAM não está meramente na disponibilização de dados, informações e conhe-cimento, mas está em contribuir para o desenvolvimento horizontal da educação no Estado do Amazonas e para a Amazônia, lembrando que o repositório está muito além de um recurso para acesso livre, mas sim um recurso em constante retroalimentação sustentando o desenvolvi-mento social e educacional da região.O PPGE/UFAM como um dos primeiros programas de educa-ção da região norte traz em seu cerne esse compromisso de como desenvolver uma educação mais efetiva e com equidade respeitando os conhecimentos que emanam do meio.A ciência aberta também traz ares mais humanizados ao pro-cesso científico, em que o desenvolvimento científico não é meramente frio, mas é motivado pela dinâmica social de contribuir para o avanço social, educacional, científico e econômico da ciência e da sociedade. Um dos pontos que é mencionado no documento de área da CAPES é a necessidade de redes de solidariedade, em que consiste que pro-gramas com melhores estruturas ajudem e orientem outros programas com desempenho baixo com expertisespara a qualificação do curso e produção científica.Atualmente o PPGE/UFAM conta com 196 dissertações e 38 te-ses submetidas ao TEDE/UFAM, que são frutos de pesquisas diversifica-das na tentativa de elucidar a educação frente os desafios amazônicos. A produção e acesso ao conhecimento sobre a Região Amazônica pode contribuir para minimizar as dificuldades que existem no meio, diminuin-do o fosso de acesso à educação, informação e conhecimento. 95S U M Á R I OCONSIDERAÇÕES FINAISO novo terreno que surge com o desenvolvimento das TICs não nasce meramente pela ação das técnicas, mas por um devir coletivo de sujeitos que passam a se organizar no ambiente virtual/digital, pela interação entre o humano-humano, máquina-máquina e máquina-ho-mem. Esse movimento coletivo tem modificado setores como: saúde, trabalho, modo de se relacionar com o outro, e, de especial modo, a educação e a comunicação científica. Nesse mapa, a educação e os sistemas de formação, a ciber-cultura, a rede, a dinâmica do acesso livre e cultura e os atores que se movem, apresentam mutações na relação e produção de saber. Lévy (1999) constata isso que existe uma forte e rápida mudança em relação ao saber, e que as competências adquiridas no início da carreira até o fim da mesma já estarão obsoletas. É muito dessa obsolescência se deve as novas estruturas de acesso ao conhecimento, isso reflete na forma de produzir e comunicar ciências. No contexto Amazônico, temos universidades e institutos de pesquisa que tem advogado pelo desenvolvimento e visibilidade cien-tífica da região, isso põem que o eco do movimento de ciência aberta, em especial acesso aberto têm sido aderido nas entidades de pesqui-sa da região e compreendido que o fazer ciência é mais amplo quando se é desenvolvida numa logica colaborativa e aberta.A adesão de estruturas de acesso aberto no ambiente da UFAM, em especial no PPGE/UFAM contribui para a sustentabilidade social e equidade no acesso à informação e conhecimento, não somente pela comunidade acadêmica, mas pela sociedade em que está em torno esperando contribuições que possam melhora no bem-estar social. Nesse cenário existe a necessidade de se desenvolver estudos futuros que compreendam a relação entre os movimentos de cultura livre e acesso aberto e a educação no panorama amazônico.96S U M Á R I OA proposta da investigação original não estar em apenas trazer reflexões e considerações acerca do acesso livre no campo da educa-ção, mas trazer ao dialogo todos os aspectos que compõem a ciência aberta para a pesquisa científica no panorama Amazônico, desde a concepção de politicas de incentivo a produção aberta a transparente como iniciativas de torna a ciência mais cidadã, sendo compreendida como bem comum social.REFERÊNCIASALBAGLI, S.; CLINIO, A.; RAYCHTOCK, S. Ciência Aberta: correntes interpretativas e tipos de ação. Liinc Em Revista, 10(2). https://doi.org/10.18617/liinc.v10i2.749.ALMEIDA, Luiz Fernando Correia de. Comunicação científica e movimento de acesso aberto: constituição e potencialidades para o processo educacional no PPGE/UFAM. 2019. 146 f. 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Acesso em: 27 maio. 2022.SANTOS, Ana Cristina Gomes. Criação da Rede de Repositórios Institucionais em Acesso Aberto na Amazônia: uma experiência que se constrói colaborativamente entre as instituições de ensino e pesquisa da região. RBBD. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 13, p. 1044-1057, dez. 2017. ISSN 1980-6949. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ. Carta de Belém. In: 1º Encontro de Repositórios Institucionais da Região Norte, 2014, Belém.Capítulo 5Formação de professores no contexto brasileiro e espanhol: uma análise comparativaFranciele dos SantosKetilin Mayra PedroDOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95538.55Franciele dos SantosKetilin Mayra PedroFORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CONTEXTO BRASILEIRO E ESPANHOL: uma análise comparativa99S U M Á R I OResumo: A formação de professores é uma das grandes temáticas em voga no cenário educacional brasileiro, sendo que constantemente a qualidade dos cursos de formação docente está em pauta. Assim, a partir de uma experiência de intercâmbio estudantil para uma Instituição de Ensino Superior espanhola, durante a graduação no curso de Pedagogia, o presente texto busca analisar e comparar dois currículos de formação de professores, um do Brasil e outro da Espanha. Os resultados indicaram que enquanto a matriz brasileira é mais ge-neralista, formando professores para atuar na Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental e ambientes informais do ensino, a matriz espanhola é mais robusta, dando maior enfoque para a formação específica direcionada para uma única etapa de ensino.Palavras-chave: Formação de professores; Brasil; Espanha; pedagogia.100S U M Á R I OINTRODUÇÃOA formação de professores é uma das grandes temáticas em voga no cenário educacional brasileiro. Sendo um, entre outros fato-res, que interferem diretamente na qualidade da Educação Básica, de modo que a qualidade dos cursos de formação docente constante-mente está em pauta nas políticas públicas e Instituições de Ensino Superior (IES).De acordo com Gatti (2010), é em função dos graves problemas que enfrentamos em relação às aprendizagens escolares em nosso país, que a preocupação com os cursos de formação de professores cresce, seja em relação às estruturas das IES, seja quanto aos currícu-los e conteúdos formativos de cadacurso.Para Pimenta (1997) e Libâneo (2015) apenas a experiência e os conhecimentos específicos da área não são o bastante para o bom desempenho da profissão docente, também são necessários saberes pedagógicos e didáticos associados, sendo abordados com equilíbrio dentro dos cursos de formação de professores. Perrenoud (2002, p. 16) elenca dez critérios para uma formação docente de qualidade:1. Uma transposição didática baseada na análise das práticas e em suas transformações.2. Um referencial de competências que identifique os saberes e as capacidadesnecessários.3. Um plano de formação organizado em torno das compe-tências.4. Uma aprendizagem por problemas, um procedimento clínico.5. Uma verdadeira articulação entre teoria e a prática.6. Uma organização modular e diferenciada.7. Uma avaliação formativa baseada na análise do trabalho.8. Tempos e dispositivos de integração e de mobilização das aquisições.101S U M Á R I O9. Uma parceria negociada com os profissionais.10. Uma divisão dos saberes favorável à sua mobilização no trabalho.Para Nunes (2001, p. 36), “os cursos de formação de professo-res precisam redirecionar as relações entre teoria e prática”, de modo a articular os conteúdos acadêmicos com a prática escolar, com a atuação dos professores e com as diferentes realidades culturais e sociais das escolas, levando em consideração as condições adversas de trabalho do professor.Diante do exposto e da tenra necessidade de adequar as matri-zes dos cursos de formação de professores do Brasil à Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), como também a partir de uma ex-periência de intercâmbio estudantil para uma IES espanhola, durante o curso de graduação em Pedagogia, surge o objetivo da pesquisa, que consistiu em analisar os currículos de dois cursos de formação de professores, um no contexto brasileiro e outro no espanhol.Trata-se de uma investigação qualitativa, com abordagem bi-bliográfica e documental e que se divide em quatro partes. Na pri-meira, são apresentadas as especificidades e condições, baseadas nas normativas de cada país, a respeito da estruturação de seus cursos superiores de formação docente. Na segunda e terceira, se encontra as análises das matrizes curriculares, uma brasileira e ou-tra espanhola respectivamente, de cursos de formação inicial de professores para as etapas iniciais da Educação Básica. E por fim, a quarta etapa consiste em uma comparação entre os dois currículos, de modo que semelhanças e diferenças na formação de professo-res de cada país são destacadas.Os resultados da pesquisa evidenciaram que enquanto a legisla-ção brasileira é mais rígida, a espanhola apresenta-se com uma maior flexibilidade em relação à elaboração do currículo dos cursos em nível superior. Já no que se refere aos dois cursos analisados, o brasileiro 102S U M Á R I Oapresenta uma matriz mais generalista, formando professores para atuarem na Educação Infantil, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamen-tal e também em ambientes informais da educação; e o espanhol apre-senta uma matriz robusta, tendo disciplinas mais específicas e focadas em apenas uma etapa de ensino. FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL E NA ESPANHAA organização dos cursos de Ensino Superior, incluindo os di-recionados para a formação de professores, no Brasil e na Espanha apresentam algumas discrepâncias. Enquanto a legislação brasileira determina diretrizes nacionais para que as IES sigam e adequem seus currículos, a legislação espanhola concede à suas Instituições autono-mia universitária para que, entre outras coisas, elas possam elaborar seus currículos com maior liberdade.No Brasil, a mais recente diretriz voltada para a formação inicial docente é a Resolução CNE/CP nº 2, de 20 de dezembro de 2019, a qual define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Ini-cial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação) (BRASIL, 2019). Essa diretriz, em concordância com o artigo 62 da Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996), é pautada na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento norteador da Educação Básica brasileira.A BNC-Formação, documento presente em anexo da atual dire-triz, apresenta as competências gerais docentes, bem como as com-petências específicas e as habilidades requeridas nas três dimensões fundamentais referentes a formação docente. De acordo como consta no artigo 4º da diretriz:103S U M Á R I O§ 1º As competências específicas da dimensão do conhecimento profissional são as seguintes: I - Dominar os objetos de conhecimento e saber como ensiná-los; II - Demonstrar conhecimento sobre os estudantes e como eles aprendem; III - Reconhecer os contextos de vida dos estudantes; e IV - Conhecer a estrutura e a governança dos sistemas educa-cionais. § 2º As competências específicas da dimensão da prática profissional compõem-se pelas seguintes ações: I - Planejar as ações de ensino que resultem em efetivas aprendizagens; II - Criar e saber gerir os ambientes de aprendizagem; III - Avaliar o desenvolvimento do educando, a aprendizagem e o ensino; e IV - Conduzir as práticaspedagógicas dos objetos do conheci-mento, as competências e as habilidades. § 3º As competências específicas da dimensão do engajamento profissional podem ser assim discriminadas: I - Comprometer-se com o próprio desenvolvimento profissional; II - Comprometer-se com a aprendizagem dos estudantes e colocar em prática o princípio de que todos são capazes de aprender; III - Participar do Projeto Pedagógico da escola e da construção de valores democráticos; e IV - Engajar-se, profissionalmente, com as famílias e com a comu-nidade, visando melhorar o ambiente escolar. (BRASIL, 2019, p. 2).Também se encontram neste documento os fundamentos da formação docente; as orientações para a organização do currículo em conhecimentos científicos, educacionais, pedagógicos, específicos da área e atividades práticas; os princípios e fundamentos pedagógicos do currículo; e a carga horária dos cursos, que devem ter 3200 horas.Na Espanha, a legislação permite que as IES tenham autonomia universitária, ou seja, que entre outras coisas elas tenham liberdade para elaborarem seus currículos, desde que estes sejam aprovados 104S U M Á R I Opor suas respectivas comunidades autônomas1 e posteriormente ho-mologadas pelo Conselho de Universidades2. Esta autonomia é garan-tida inicialmente pela Constituição Espanhola (ESPANHA, 1978) e pos-teriormente reafirmada pela Lei de Universidades (ESPANHA, 2001).A carga horária dos cursos superiores espanhóis é definida pelo Real Decreto 1125/2003, que estabelece o Sistema Europeu de Créditos (ECTS) como modelo a ser seguido por todas as IES do país. Segundo o real decreto os cursos de formação docente devem ter cumprido a seu término 240 ECTS, cada ECTS é equivalente de 25 a 30 horas de estudos, assim que, os cursos de formação de professores espanhóis têm uma carga horária total de 6000 a 7200 horas (ESPANHA, 2003).Outro ponto característico dos cursos superiores espanhóis é a necessidade de adequação ao Espaço Europeu de Educação, medida que facilita o intercâmbio dos estudantes dentro do território europeu, permitindo que concluam seus cursos em mais de uma IES, sem que seja preciso passar por muita burocracia ou adequação do currículo.MATRIZ BRASILEIRA DO CURSO DE PEDAGOGIAA matriz brasileira do curso de Pedagogia analisada pertence a uma IES privada, de cunho católico e sem fins lucrativos, localizada no interior do estado de São Paulo. O curso, na modalidade presencial, tem duração de quatro anos, com carga horária total de 3200 horas, como es-tabelecido pela atual diretriz nacional para a formação de professores. Os profissionais da educação formados no referido curso estão habilitados para atuarem como professores na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, bem como em ambientes informais de ensino. 1 Corresponde aos estados do país.2 Conjunto de representantes de todas as IES e Ministério da Educação espanhol.105S U M Á R I OAlém das Atividades Acadêmico-Científico-Culturais, a ma-triz é composta por 43 disciplinas que são divididas em três gru-pos, os quais propõem aos estudantes uma formação geral, es-pecífica e pedagógica.Esses três grupos de disciplinas são distribuídas de maneira intercalada durante os 4 anos do curso, de modo que não existe uma dissociação ou visão segmentadas dos saberes, o que corrobora com os pressupostos de Libâneo (2015, p. 645), em que “[...] a dissociação e a visão segmentada entre conhecimento disciplinar e conhecimento pedagógico podem explicar uma formação pouco sólida na especifi-cidade disciplinar [...]”.O grupo de disciplinas que propõem uma formação geral se refere a disciplinas que são ofertas próprias da instituição e corres-pondem as orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais para formação de professores. Fazem parte desse grupo disciplinas que preparam o estudante para a pesquisa e uma boa comunicação, bem como disciplinas que reafirmam o compromisso social e reli-gioso da IES. Destaca-se nesse grupo a disciplina de Psicologia do Trabalho, que entre outros assuntos, aborda as principais demandas psicológicas que um profissional da educação pode enfrentar em seu ambiente de trabalho.O grupo de formação específica diz respeito a disciplinas com conteúdo específico da área, no caso a Pedagogia. Além das disci-plinas Fundamentos Metodológicos (de Língua Portuguesa, Mate-mática, Ciências, História, Geografia e Artes), que preparam o futuro profissional da educação para ministrar os componentes curriculares básicos do currículo dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, ainda estão nesse grupo disciplinas de linguística, de alfabetização e litera-tura, bem como as que preparam o estudante para atuar na educação infantil, na educação de jovens e adultos e em ambientes informais da educação, sendo elas respectivamente: Fundamentos Metodológicos 106S U M Á R I Oda Educação Infantil, Fundamentos Metodológicos da Educação de Jovens e Adultos, e Pedagogia em Ambientes Não-Escolares.A disciplina de Pedagogia em Ambientes Não-Escolares pode ser destacada como um dos grandes diferenciais da matriz curricular brasileira, ela permite um outro olhar à profissão do pedagogo, visto que apresenta um campo de atuação que ultrapassa o ambiente escolar for-mal. De acordo com os conteúdos curriculares desenvolvidos na disci-plina, a Pedagogia se ramifica como campo de atuação profissional, de modo permitir um trabalho social, hospitalar e empresarial do pedagogo.Ainda no grupo das disciplinas de formação específica, está uma disciplina voltada para os fundamentos metodológicos da Educação Es-pecial, a qual busca capacitar o licenciando para atuar com o público-al-vo da Educação Especial, de maneira a promover um ensino inclusiva e equitativo por meio da atuação profissional. Também neste grupo está a disciplina de Articulação Afro-Brasileiras, Africanas e Indígenas, que busca valorizar a cultura africana e indígena, que são muito presentes no Brasil e, muitas vezes, subtrabalhadas no contexto escolar. São propostos também nas disciplinas específicas o estudo da Educação e sua história (no Brasil e no mundo) e suas correntes filosó-ficas, as políticas educacionais vigentes e aspectos da gestão educa-cional. O último destaque desse grupo é a disciplina de Fundamentos do Ensino a Distância, que apresenta as características básicas da estruturação e funcionamento de um curso de Educação à Distância, que estiveram em alta nos últimos dois anos, devido ao contexto pan-dêmico provocado pela COVID-19.Por fim, o grupo de formação pedagógica consiste no conjunto de disciplinas que buscam contextualizar e inserir o estudante dentro do espaço educacional. Estão presentes as disciplinas de antropo-logia, sociologia, tecnologia e psicologia da educação, os estágios obrigatórios e suas supervisões, bem como disciplinas referentes a 107S U M Á R I Olegislação educacional brasileira e pesquisas educacionais. Podemos destacar a disciplina de Libras, que propõe o ensino da Língua Brasilei-ra de Sinais, disciplina obrigatória nas licenciaturas brasileiras garanti-da pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 (BRASIL, 2005).A formação pedagógica também propõe disciplinas voltadas para o estudo das questões do mundo contemporâneo, que apresen-tem propostas de uma educação voltada para a diversidade pautadas nos pressupostos dos direitos humanos, há ainda uma disciplina que trabalha a educação ambiental e desperta nos alunos a necessidade do cuidado para com o meio ambiente. E ainda disciplinas que pen-sam nos métodos de ensino e na interdisciplinaridade, destaca-se a disciplina de Ambientes Educativos e Práticas Interdisciplinares e Me-todologias de Projetos Educativos. Mello (2000), destaca a importância de os cursos de formação de professores oferecerem disciplinas como as mencionadas anteriormente, que são embasadas na interdiscipli-naridade, na transversalidade, na contextualizaçãoe na integração de áreas em projetos.É importante destacar que a matriz brasileira não exige a produção do Trabalho de Conclusão de Curso, visto que a realização do mesmo não é obrigatória nos cursos de formação de professores de acordo com a legislação brasileira, ficando a critério da instituição optar pela implementação ou não.Diante do exposto, é possível identificar que a matriz curricular brasileira oferece a seus estudantes uma formação ampla dentro do campo educacional, que busca compreender a educação através de outras áreas como a filosofia, a sociologia, a antropologia, a história, a psicologia. Além, é claro, de oferecer os estudos específicos necessá-rios para a atuação profissional. 108S U M Á R I OMATRIZ ESPANHOLA DO CURSO DE EDUCACIÓN PRIMARIAA matriz espanhola do curso de Educación Primaria analisada pertence a uma IES católica e privada, localizada na Comunidade Au-tônoma da Região de Murcia na Espanha. O curso tem duração de quatro anos com carga horária total de 240 ECTS, como determina o Espaço Europeu de Educação. Os profissionais nele formados têm habilitação para atuar na Educação Primária3 espanhola. Além dos estágios obrigatórios e do Trabalho de Conclusão de Curso, a matriz espanhola oferece 29 disciplinas que são divididas em três grupos, os quais propõem uma formação básica, obrigatória e optativa aos estudantes.As disciplinas de formação básica buscam inserir o estudan-te dentro do meio educacional espanhol. Podemos destacar a disci-plina Teorías y Instituiciones Educativas, quefaz um resgate histórico das principais teorias educativas e como elas influenciam a atualidade educacional, bem como SociedadFamilia y Esculela, que busca com-preender através de uma análise sociológica a relação entre família, sociedade e escola, destacando a importância dessa interação e o papel de cada um desses agentes dentro do ambiente educacional.Também estão presentes nesse grupo, disciplinas que estudam a psicologia da educação e do desenvolvimento, a orientação, avalia-ção e gestão educacional, as tecnologias da educação e ainda uma disciplina voltada para o estudo dos transtornos do desenvolvimento e as dificuldades de aprendizagem (Transtorno delDesarrollo y Dificul-tades de Aprendizaje), elaborada para que o futuro professor possa ser capaz de realizar adequações curriculares e promover situações equitativas de aprendizagem dentro da sala de aula.3 Correspondente aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental do Brasil.109S U M Á R I ONo grupo de formação obrigatória, maior carga horária da referida matriz curricular, estão as disciplinas que capacitam os es-tudantes para o ensino dos componentes curriculares obrigatórios da etapa da Educação Primária espanhola. Segundo a LeyOrgánica 8/2013, para La Mejora de laCalidad Educativa (LOMCE), que modifica a LeyOrgánica 2/2006, de Educación(ESPANHA, 2006), os alunos da etapa de Educação Primária devem cursar disciplinas de ciências da natureza, ciências sociais, língua castelhana e literatura, matemática, primeira língua estrangeira e educação física como disciplinas obri-gatórias, e ainda os centros educacionais podem oferecer educação artística e segunda língua estrangeira, bem como aula de religião e valores sociais e cívicos, as duas últimas disciplinas ficam a critério dos pais ou tutores legais optarem por matricularem ou não seus filhos nelas (ESPANHA, 2013).Deste modo, a IES espanholaoferece dentro do grupo de disci-plinas de formaçãoobrigatóriaduas disciplinas voltadas para as ciên-ciasnaturais: Enseñanza y Aprendizaje de las Ciencias Naturales e En-señanza y Aprendizaje de las Ciencias Experimentales; uma para as ciênciassociaisEnseñanza y Aprendizaje de las Ciencias Sociales; duas para a línguacastelhana e literatura: Enseñanza y Aprendizaje de la Len-gua Castellana e Enseñanza y Aprendizaje de la Literatura Infantil; duas para as matemáticas: Enseñanza y Aprendizaje de las Matematicase El Pensamiento Lógico-Matemático en la Educación Primaria; duas para o ensino de inglês: Linguística, Morfosintaxis y Semantica de la Lengua Extranjera (Inglés) e Enseñanza y Aprendizaje de la Lengua Extranjera (Inglés); uma para educação física: Enseñanza y Aprendizaje de la Edu-cación Física; duas para arte: Enseñanza y Aprendizaje de la Expresión Plástica y Visual e Enseñanza y Aprendizaje de la Expresión Musical; e três para religião e valores cívicos: Religión, Cultura y Valores, El men-saje Cristiano e La Iglesia, los Sacramentos y la Moral.110S U M Á R I OTambém se encontram no mesmo grupo a disciplina de Desar-rollo de la Comunicación y de las Habilidades Lingüísticas, que estuda a comunicação e a linguística; e a disciplina Atención a la Diversidad e Interculturalidad, que propõe o estudo das diferentes culturas e busca estratégiaseducacionais que possam atender aos diferentes públicos que podem estar presente no ambiente educacional.No último grupo, estão duas disciplinas que se caracterizam como formação optativa, ou seja, aquelas que permitem que o estu-dante opte ou não por cursá-las. As disciplinas Pedagogía y Didáctica de laReligióne Inglés B1, são ofertadas aos estudantes sem que haja alteração no valor a ser pago, entretanto a lista se amplia caso os alu-nos estejam dispostos a pagarem um valor a mais por elas, essas disciplinas compõem as chamadas Menciones Oficiales4.As Menciones Oficiales são opções de uma habilitação a mais dentro do curso, e caso cursadas pelo estudante são especificadas no diploma. O segundo semestre do terceiro ano do curso é destina-do para o estudo das Menciones. A Instituição oferece sete diferentes Menciones, cada uma composta por cinco disciplinas: PedagogíaTe-rapéutica, LenguaExtranjera (Inglés), LenguaExtranjera (Francés), Len-guaExtranjera (Alemán), Música, Educación Física eAudición y Lenguaje.Os estágios obrigatórios e o Trabalho de Conclusão de Curso, apesar de parte da matriz espanhola, não se caracterizam como com-ponente de nenhum dos três grupos mencionados anteriormente.A matriz do curso de formação de professores espanhola apre-senta, quase que em sua totalidade, disciplinas voltadas para a atua-ção docente, capacitando seus estudantes para a prática profissional. De modo que a maior parte das disciplinas são para a formação espe-cífica, proporcionando assim uma formação sólida para seus estudan-tes atuarem na Educação Primária espanhola.4 Habilitação para atuar em determinada área.111S U M Á R I ODeste modo, podemos observar que o curso de formação de professores da instituição espanhola primeiro busca inserir o estudante dentro do meio educacional através das disciplinas de ensino básico. Depois que já estão engajados com o ambiente educacional e com a organização escolar partem para um estudo das diferentes ciências que um profissional da educação deve dominar. Por fim, o último ano é dedicado às práticas de estágio e para a realização do trabalho de conclusão do curso.COMPARAÇÃO DAS MATRIZES CURRICULARES BRASILEIRA E ESPANHOLAA partir da comparação e análise das duas matrizes podemos fazer algumas considerações sobre as duas formações propostas pe-las IES. Apesar da carga horária consideravelmente maior do curso es-panhol, a matriz curricular brasileira apresenta uma maior quantidade de disciplinas, propondo assim uma formação com grande amplitude dentro do campo educacional. Sua pluralidade de estudos corrobora com os apontamentos de Cericato (2018, p. 141) que defende como modelo para os cursos de formação de professores:[...] de base cultural sólida, ancorado em experiências que favo-reçam leituras de mundo interdisciplinares [...]. Não se trata de uma formação cultural simplista ou conteudista, que se esgota no acúmulo de informação, mas, sim, uma formação que permi-ta conectar, significar e pôr em movimento, de modo múltiplo e variado e a partir da história de vida de cada indivíduo, o conhe-cimento acumulado pelahistória da humanidade.Entretanto, cabe destacar que esta amplitude pode resultar em uma formação específica generalista, pois a carga horária para essa formação acaba sendo menor, diferente do que acontece na Espanha. 112S U M Á R I OA matriz espanhola enfoca sua maior carga horária para as práticas e para o estudo de disciplinas específicas da atuação docente e para a gestão, estando em concordância com Novoa (2017, p. 1109) que defende “uma formação para o exercício da profissão”.Portanto, podemos apontar que a principal diferença entre as matrizes é que enquanto a brasileira propõe o estudo da educação através de diferentes olhares e oferece uma ampla possibilidade de atuação para o profissional da educação, a matriz curricular espanhola está focada em formar profissionais para a etapa de Educação Primá-ria, limitando seus estudos a esta etapa educacional. Também cabe ressaltar que apesar das diferenças visíveis entre as matrizes, existem semelhanças entre elas, foram observadas 12 discipli-nas comuns entre as matrizes. Os estudos em comum entre elas foram: linguística, literatura, psicologia, história da educação, pesquisa cientí-fica, educação para a diversidade, organização e gestão educacional, tecnologia, Educação Especial, matemática, ciências sociais e naturais.Perrenoud et al. (2002, p. 29) alerta que é preciso ter cuidado com as formações que propõem “uma vaga reflexão sobre a educação”, bem como os aportes essencialmente disciplinares e que se faz necessário que além das abordagens didáticas, temos que construir “objetos de sa-ber e de formação transversais e coerentes”, os quais tem essa denomi-nação pois além de passarem por “todas as disciplinas de ensino, como a avaliação e a relação com o saber”, também podem “não pertencer a nenhuma delas, como as relações com os pais ou a gestão de classe”. O autor ainda cita alguns desses saberes transversais que devem fazer parte dos currículos para os cursos de formação:• Relações intersubjetivas e desejo de aprender.• Relação com o saber, ofício de aluno, sentido do trabalho escolar.113S U M Á R I O• Gestão de classe, contrato pedagógico e didático, organização do tempo, do espaço, do trabalho.• Diversidade das culturas na sala de aula e no estabelecimento escolar.• Cidadania, socialização, regras de vida, ética, violência.• Ofício de professor, trabalho em equipe, projetos de estabele-cimento.• Relação entre a escola e as famílias e coletividades locais.• A escola na sociedade, a política da educação.• Diferenças individuais e dificuldades de aprendizagem.• Pedagogia diferenciada, ciclos de aprendizagem, módulos e outros dispositivos de individualização dos percursos.• Regulação dos processos de aprendizagem, avaliação formativa.• Fracasso escolar, seleção, orientação, exclusão.• Desenvolvimento e integração da pessoa.• Enfoques multi, inter e transdisciplinares. (PERRENOUD et al., 2002, p. 29).As duas matrizes, de maneiras distintas, abordam grande parte desses saberes transversais apresentados por Perrenoud et al. (2002). Pode-se justificar algumas das diferenças de abordagem desses sabe-res transversais de acordo com as características sociais, culturais, po-líticas e econômicas de cada país, principalmente porque existe uma grande divergência em todos esses âmbitos citados anteriormente en-tre o Brasil e a Espanha. Assim, de acordo com as características e ne-cessidades de cada país o plano de formação de professores deve ser 114S U M Á R I Opensado de maneira coerente, “como um percurso a ser construído, e não como uma acumulação de unidades de formação sem coluna dorsal” (PERRENOUD et al., 2002, p. 25). CONSIDERAÇÕES FINAISA partir da análise das legislações brasileira e espanhola volta-das para os cursos superiores de formação de professores, bem como dos currículos de formação de professores de uma IES brasileira e outra espanhola, é possível delinear algumas considerações.No que se refere à legislação para a formação superior de pro-fessores, existe uma grande diferença em ambos os países. Enquanto o Brasil apresenta diretrizes para que as IES sigam e adequem seus currículos, a Espanha apresenta uma proposta mais flexível. O gover-no espanhol permite que as IES sejam autônomas na elaboração de seus currículos, desde que estes sejam aprovados pela respectiva Co-munidade Autônoma e posteriormente homologado pelo Conselho de Universidades do país.Em relação aos currículos dos cursos de formação de profes-sores analisados, encontramos prontamente uma grande diferença, o curso espanhol forma professores apenas para uma única etapa da educação: a Educação Primária. Em contrapartida, o curso brasilei-ro forma professores para uma ampla possibilidade de atuação, os profissionais podem atuar na Educação Infantil, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e também em ambientes informais de ensino. Por conta disso, o curso brasileiro tem uma matriz curricular mais generalista, oferecendo disciplinas que estudam o fenômeno educa-cional através do estudo de diferentes áreas, bem como as disciplinas específicas da futura profissão docente. Enquanto o curso espanhol 115S U M Á R I Otem uma matriz focada na etapa da Educação Primária, proporcionan-do a seus estudantes uma formação robusta para a prática profissio-nal. Também é importante destacar a grande diferença entre a carga horária dos dois cursos, o total de horas da matriz curricular espanhola é o dobro da exigida pela legislação brasileira.Apesar das diferenças apontadas acima, é importante ressaltar que as duas propostas pedagógicas se pautam em pressupostos hu-manístico e científicos e apresentam uma preocupação com o desen-volvimento de competências profissionais dos professores, bem como a articulação entre a teoria e a prática.REFERÊNCIASBRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2018.BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília, DF, 2005.BRASIL. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 20 dez. 1996.BRASIL. Resolução CNE/CP nº 2 de 20 de dezembro de 2019. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação). Brasília, DF, 20 de dez. 2019.CERICATO, L. A formação de professores e as novas competências gerais propostas pela BNCC. Revista Veras, São Paulo, v. 8, n. 2, p. 137-14, 2018.ESPANHA. Constituição Espanhola. BOE, n. 311, de 29 de dez. de 1978.ESPANHA. Ley Orgánica 2/2006, de 3 de mayo, de Educación. BOE, n. 106, de 04 de mayo de 2006.116S U M Á R I OESPANHA. Ley Orgánica 6/2001, de 21 de diciembre, de Universidades. BOE, n. 307, de 24 de diciembre de 2001.ESPANHA. Ley Orgánica 8/2013, de 9 de deciembre, para la mejora de la calidade educativa. BOE, nº 295, de 10 de diciembre de 2013.ESPANHA. Real Decreto 1125/2003, de 5 de septiembre, por el que se establece el sistema europeo de créditos y el sistema de calificaciones en las titulaciones universitarias de carácter oficial y validez en todo el territorio nacional. BOE, núm. 224, de 18 de septiembre de 2003.GATTI, B. A. Formação de professores no Brasil: características e problemas. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1355-1379, 2010. LIBÂNEO, J. C. Formação de professores e didática para desenvolvimento humano. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 40, n. 2, p. 629-250, 2015.MELLO, G. M. Formação inicial de professores para a educação básica: uma (re)visão radical. São Paulo Perspec., São Paulo, v. 14, n. 1, p. 98-110, 2000. NÓVOA, A. Firmar a posição como professor, afirmara profissão docente. Cadernos de Pesquisa, v. 47, n. 166, p. 1106-1133, 2017.NUNES, C. M. F. Saberes docentes e formação de professores: um breve panorama da pesquisa brasileira. Educação e Sociedade, ano XXII, n. 74, 2001.PERRENOUD, F. et al. 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III, 1997.Capítulo 6Achados no desenvolvimento da linguagem escrita silábica em crianças de 4 a 8 anosAnna Luísa Pessanha dos SantosClévila de Souza Paula NogueiraFernanda Gomes da Silva FigueiredoRauane Pessanha de SouzaElizabeth Matilda Oliveira WilliamsMoniki Aguiar Mozzer DenucciDOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95538.66Anna Luísa Pessanha dos SantosClévila de Souza Paula NogueiraFernanda Gomes da Silva FigueiredoRauane Pessanha de SouzaElizabeth Matilda Oliveira WilliamsMoniki Aguiar Mozzer DenucciACHADOS NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ESCRITA SILÁBICA EM CRIANÇAS DE 4 A 8 ANOS118S U M Á R I OResumo: A linguagem escrita, nos dias atuais, representa um instrumento essencial da comunicação para uma plena participação no contexto socio-cultural, permitindo que o homem registre suas informações e assimile no-vos conceitos. Com base em uma pesquisa descritiva de cunho quantitativo e qualitativo, foi realizada uma sondagem diagnóstica para investigar o nível e hipótese da escrita dos indivíduos e como procedimento de coleta de dados, foi elaborado um questionário através do aplicativo Google Forms®, a fim de construir entendimento sobre o referido tema. Para a construção de dados foram realizadas 10 sondagens diagnósticas da escrita, em crianças de 4 a 8 anos, todas devidamente matriculadas e frequentando aulas por meio de ensino remoto, devido ao atual período pandêmico. O trabalho visou cons-tatar a importância do conhecimento sobre das fases da escrita, bem como a relevância da mesma para o processo evolutivo da criança, embasado nos pressupostos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky com a contribuição de outros autores, relatando a importância da atuação da fonoaudiologia. Como con-clusão notificamos o conhecimento dos sujeitos acerca da Psicogênese da Língua Escrita e com a sondagem diagnóstica, como a criança desempenha uma escrita silábica.Palavras-chaves: Achados; Criança; Desenvolvimento; Escrita Silábica.119S U M Á R I OINTRODUÇÃOA linguagem escrita, nos dias atuais, representa um instrumento essencial da comunicação para uma plena participação no contexto sociocultural, permitindo que o homem registre suas informações e assimile novos conceitos.É relevante ressaltar que a comunicação escrita se instituiu no mundo antigo, contudo na pré-história já havia uma apreensão do ho-mem primitivo em produzir e consignar mensagens/conceitos através das pinturas rupestres, que sinalizavam o início do sistema de repre-sentação. De acordo com Barbosa (1994, p.34) o homem, através dos tempos, vem buscando comunicar-se com gestos, expressões e com a fala. A escrita tem origem no momento em que o homem aprende a comunicar seus pensamentos e sentimentos por meio de signos.O surgimento da escrita foi pautado na concepção de suas fa-ses evolutivas, sendo estas: pictórica, ideográfica e alfabética, englo-bando a utilização de pictogramas, desenhos, ideogramas e letra, a fim de uma solidificação da linguagem escrita.Segundo Costa (2016), para transmitir seus conhecimentos e como meio de sobreviver, a humanidade sempre dependeu da comu-nicação, mas nem sempre houve sistemas organizados como atual-mente, as primeiras comunicações via linguagem escrita surgiram por meio de uma extensa jornada evolutiva desde o homem pré-histórico. A escrita constitui-se uma das maiores invenções da humanida-de, senão a maior delas, pois possibilitou o registro da história humana estando relacionada às condições de desenvolvimento das formas de-mocráticas de organização das sociedades (MALUF, 2003). 120S U M Á R I OSegundo Williams e Denucci (2021), foi por volta de 3000 a.C., no Egito antigo, e em 3100 a.C., na antiga Mesopotâmia ou Suméria que surgiu a escrita, talvez de modo independente uma da outra. Por-tanto, data de 5000 anos, um curto espaço de tempo se comparado com os milhares e milhares de anos que foram necessários para a evolução do homem até seu nível atual de perfeição biológica.Diante das constatações acima, é possível observar a impor-tância do aprimoramento da escrita desde um conjunto que envolvia desenhos até um que correspondesse à fala, a fim de estabelecer um sistema consistente e capaz de registrar significativamente os pensa-mentos e ações do sujeito.Almejando compreender e analisar como a criança porta-se diante do desenvolvimento da escrita, Ferreiro e Teberosky (1999) ini-ciam estudos acerca da linguagem escrita, objetivando apreender so-bre os níveis que levam um indivíduo ao desenvolvimento desta.O presente estudo abordou em seus capítulos a importância do processo de aquisição da escrita, bem como a sua compreensão, explicitando as contribuições das autoras citadas anteriormente, abar-cando a relevância da escrita infantil e abordando aspectos de um nível silábico e como pode ocorrer a atuação da fonoaudiologia na psicogênese da língua escrita.É considerável a importância de saber o que a criança exibe neste nível de escrita, assim o presente trabalho promove uma pesqui-sa descritiva de cunho qualitativo e quantitativo, aplicando uma son-dagem diagnóstica sobre a escrita com o intuito de identificar as difi-culdades no desenvolvimento de cada fase, indagando indivíduos que atuam com a escrita sobre sua importância em crianças de 4 a 8 anos.A pesquisa teve como objetivo geral propor reflexões sobre a apropriação da linguagem escrita, bem como a importância da análise 121S U M Á R I Oda fase apresentada pela criança, como instrumento fomentador de estratégias assertivas de aprendizagem e como objetivos específicos descrever o processo de aquisição da escrita do sujeito, a partir das concepções de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, aplicar uma pesquisa de caráter descritivo e de cunho quantitativo e qualitativo, a fim de pluralizar e compreender a escrita como um todo, com ênfase no nível silábico, analisar os dados obtidos na sondagem da escrita e aplica-ção do questionário, constatar a importância da linguagem escrita e da escrita infantil, relatar a importância da fonoaudiologia no contexto da linguagem escrita.Almejando alcançar os objetivos da pesquisa realizada, a esco-lha da metodologia foi de suma relevância, pois através dela escolhe-mos métodos confiáveis, a fim de construir informações necessárias para o trabalho.A metodologia cientifica é capaz de proporcionar uma com-preensão e análise do mundo através da construção do conhe-cimento. O conhecimento só acontece quando o estudante tran-sita pelos caminhos do saber, tendo como protagonismo deste processo o conjunto ensino/aprendizagem (PRAÇA, 2015, p.7). É notável a importância de abarcar conhecimento acerca do desenvolvimento do processo de aquisição da escrita pela criança. Assim, metodologicamente foi escolhida a pesquisa descritiva e de cunho quantitativo e qualitativo, visando o levantamento e análise de dados, por meio da aplicação de um questionário e sondagem diag-nóstica de escrita.Knechttel (2014) refere que tanto a pesquisa qualitativa quanto a quantitativa têm por preocupação o ponto de vista do indivíduo: a primeira considera a proximidade do sujeito, por exemplo, por meio da entrevista; na segunda, essa proximidade é medida por meio de materiais e métodos empíricos.122S U M Á R I OA metodologia utilizada, também apresenta uma revisão bibliográ-fica com a perspectiva pautada nos estudos de Emília Ferreiro e Ana Te-berosky, objetivando uma melhor compreensão dapsicogênese da língua escrita, através de livro, artigos, dissertações e teses. De acordo com Gil (2010), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.A fim de pluralizar o presente trabalho, foi aplicado um formulá-rio para professores (12) da Educação Infantil e Ensino Fundamental I, estudantes de pedagogia (6), pedagogos (5), estudantes de fonoau-diologia (12), fonoaudiólogos (6) e psicopedagogos (2). O referido questionário indagava os sujeitos acerca do conhecimento sobre o processo de aquisição da escrita, com ênfase na hipótese silábica, apresentando perguntas objetivas e discursivas, ao total foi possível alcançar 44 respostas. A seguir iremos analisar significativamente os dados obtidos com o questionário, abordando os aspectos relevantes.COMPREENDENDO A LINGUAGEM ESCRITASegundo Souza; Sisto, 2001; Donicht; Ceron; Keske-Soares (2019), a linguagem escrita utiliza de signos e símbolos, formalizados pelo sistema alfabético, para representação oral. Trata-se de um pro-cesso de aquisição complexo que depende da correlação de diversos fatores como: ato motor, perceção visual, perceção espacial, conheci-mento da representação do sistema alfabético, relação fonema/grafe-ma, entre outros fatores. Esse processo de aquisição pode sofrer diver-sas alterações decorrentes de falhas em qualquer dos fatores, como:Alterações neurobiológicas e extrínsecas ao indivíduo, que in-terferem na codificação, na produção do ato motor, e em fatores cognitivos, relacionados, por exemplo, a escolha das letras para a representação sequencial de uma palavra (SOUZA; SISTO, 2001; DONICHT; CERON; KESKE-SOARES, 2019, p. 136). 123S U M Á R I OO ato motor, primordial para realização da escrita, encontra-se em desenvolvimento antes mesmo da alfabetização. Segundo Mora (2008), a aquisição da escrita requer do indivíduo tônus muscular adequado, boa coordenação de movimentos, boa organização espaço temporal e progressivo desenvolvimento da habilidade com dedos das mãos.Em união à ação motora é necessária a perceção visual e es-pacial para desenvolvimento da escrita, quando integradas formam o chamado as habilidades percepto-viso motoras, aspectos muito tra-balhados durante a Educação Infantil. As habilidades percepto-viso--motoras são consideradas proditoras para o desempenho da escrita, tanto para a legibilidade quanto para a velocidade da escrita (GOLDS-TAND; KOSLOWE; PARUSH, 2005; GVION; FRIEDMANN, 2010).Os fatores aqui citados e outros apresentam suas respectivas áreas cerebrais de predomínio que também se implicam na aquisição da linguagem escrita. A área parieto-occipital, onde há o córtex visual primário, princi-pal responsável pelo processamento dos símbolos gráficos, e áreas do lobo parietal, responsáveis por informações viso- es-paciais da grafia, as quais são reconhecidas e decodificadas na área de Werneck, responsável pela compreensão da linguagem, e, para a expressão escrita, é necessário a ativação do córtex motor primário e da área de Broca (SCHIRMER, FONTOURA E NUNES, 2004, p. 99).A escrita não é inata do ser humano, tornando-se necessário que seja ensinada através de uma estrutura formal, em que nos é ofer-tada pela alfabetização. A aquisição da escrita é construída gradativa-mente, se iniciando antes mesmo da alfabetização, que tem começo por volta dos 5 e 6 anos. Essa vem se desenvolvendo antes mesmo da criança entrar na escola, considerando que se deparam no cotidiano com letras, livros, aparelhos eletrônicos, entre outros. Mas mesmo com esse contato, ao entrar na alfabetização, a escrita é algo novo.124S U M Á R I OPROCESSO DE AQUISIÇÃO DA ESCRITA: CONTRIBUIÇÕES DE EMÍLIA FERREIRO E ANA TEBEROSKYA linguagem escrita perpassou por caminhos, em que era obser-vada como uma simples apropriação de um código ou apenas uma de-codificação e codificação de palavras, letras e sílabas. Com os estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, a escrita passa a ser compreendida como sistema de representação, definido como psicogênese ou gêne-se do conhecimento da escrita.Fundamentadas em princípios piagetianos, Ferreiro e Teberosky (1999), defenderam a criança como protagonista do seu próprio apren-dizado, no qual construiriam sistemas interpretativos, raciocinando e inventando hipóteses rumo à compreensão da escrita, sendo esse pro-cesso iniciado antes mesmo do ensino formal. Machado (2014), cita que em seus estudos, as autoras acima, fi-zeram críticas às metodologias de ensino de leitura e escrita, da época, pois partiam da premissa de que a criança nada sabia, eram páginas vazias em relação a língua até seu ingresso no ambiente escolar Silva (2016, p. 04) refere que é valido salientar que a Psicogê-nese da Língua Escrita, busca entender como a criança apropria-se da linguagem escrita, não minimizando seu aprendizado em realizar correspondências grafo-fonêmicas, mas compreendendo o amplo pro-cesso interativo da criança, desde seus primeiros contatos com a escri-ta, permitindo que ela venha construir e reconstruir abordagens sobre seu funcionamento e natureza. Conforme corrobora o autor acima:De acordo com os princípios da psicogênese da Língua escrita, a aprendizagem se processa mediante a interação do aprendiz com a escrita mediada pela ação (mental) com a escrita – ex-perimentações de escrever e ler. Através dessas interações e experimentações o aprendiz constrói ideias/hipóteses sobre a 125S U M Á R I Oescrita e sua natureza e funcionamento – mesmo que diferen-tes do convencional (socialmente válido).Nota-se, que o pensamento de Ferreiro e Teberosky (1999) segue uma linha tênue de uma perspectiva construtivista, já que era observável que o sujeito reagia aos estímulos, no qual possibilitava a construção de conhecimento. É preciso reforçar que embora a Psico-gênese da língua escrita, tenha afinidade com o construtivismo, ela não deve ser rotulada por este.Ferreiro e Teberosky (1999) afirmam que os alunos passam por um processo evolutivo na aquisição do conhecimento sobre leitura e escrita. Pode-se observar, deste modo, que através das pesquisas das autoras supracitadas, foi possível constatar erros comuns no sistema de escrita alfabética da criança, caracterizando os erros como atributos de determinadas fases de leitura ou escrita e compreendendo que cada criança constrói hipóteses para entender o sistema de leitura e escrita.A ESCRITA INFANTIL E SUAS ETAPAS DE DESENVOLVIMENTOAs crianças com suas ideias próprias ao escrever o que vem dessas reflexões, criam suas hipóteses ao expressarem-se através da escrita. As mesmas, em um primeiro momento em que tentam escrever um rabisco, misturam linhas onduladas, fragmentadas e retas, alme-jando transmitir o que idealizaram, procurando assim representar o que imaginam ser uma escrita.O avanço da escrita infantil está associado às práticas cotidia-nas, que efetivam estímulos para o desenvolvimento da linguagem es-crita. Ferreiro e Teberosky (1999) acentuam que as crianças adquirem o conhecimento da escrita através do desenvolvimento cognitivo, em que o ambiente social torna-se importante para o progresso da escrita antes do início da alfabetização.126S U M Á R I OA escrita sofre modificações ao longo do progresso da criança em relação aos seus aspectos emocionais, sociais e psicossociais, necessitando de estímulos para chegar a uma escrita convencional. No momento em que a criança tenta escrever, ela produz espontaneamen-te traçados, em que só a própria reconhece.Cagliari (1998) diz que a criança não só tem que lidar com as diferenças existentes entre formas de letras e palavras, mas precisam diferenciar os sons. Para se alfabetizar, a criança deve desenvolver ca-pacidade para analisar sua própria linguagem escrita.Para a criança, a escrita retrata o mundo em que os componen-tes do sistema devem ser análogo, aquiloque representa. A mesma apresenta diferentes fases no processo de construção da escrita, essa distinção pode ser observada através da realização de atividades que envolvam o sistema de linguagem escrita.Segundo Ferreiro e Teberosky (1999) até que compreenda o sistema de escrita, a criança percorre um longo caminho, em que ra-ciocina inteligentemente, formula hipóteses e supera conflitos utilizan-do ideias próprias. Dessa forma, ao expressar-se por meio da escrita ocorre uma construção real e inteligente por parte das crianças desse objeto cultural (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999, p. 283).Dessa forma, destacaram em Psicogênese da Língua Escrita (1999) cinco níveis acerca da construção da escrita pela criança, cada um abarcando características e particularidades distintas.FASE PRÉ-SILÁBICAOs dois primeiros níveis fazem parte dessa fase. O nível 1 do de-senvolvimento da escrita ou escrita indiferenciada, caracteriza-se pela produção de garatujas, com grafismos separados imitando a letra de 127S U M Á R I Oimprensa ou linhas curvas que imitem a letra cursiva, podendo ainda ha-ver dificuldade para diferenciar letra e desenho (BITTENCOURT, 2017).Com isso, Ferreiro e Teberosky (1999) falaram que neste nível, escrever é produzir os traços típicos da escrita que a criança identifica como a forma básica do mesmo. Já no nível 2, observa-se a busca por formas de diferenciação da escrita produzida. Assim, nesse nível, a criança percebe que para ler coisas dife-rentes (atribuir significados distintos) deve haver diferença objetiva nas escritas, seja pela quantidade ou variedade de caracteres usados para representar um referido objeto (MACHADO, 2015, p. 4). A escrita as-sume uma forma mais próxima das letras e nota-se uma preocupação tanto com a quantidade quanto com a variedade mínima de caracteres.FASE SILÁBICASegundo Ferreiro (2011), o ingresso no nível 3 desta complexa evolução é marcada pela atenção às propriedades sonoras do sig-nificante. Dessa forma, esta fase representa o primeiro momento em que a criança inicia a correspondência entre signos/sinais gráficos e sonoros, fazendo uso na grafia de um símbolo gráfico para representar cada sílaba da palavra. A escrita, nesta hipótese, pode apresentar ou não letras com valor sonoro convencional.FASE SILÁBICO-ALFABÉTICAO nível 4 representa um período de transição onde a criança mescla a lógica da fase silábica com a correta identificação de algu-mas sílabas. Para Williams (2021) a característica fundamental desta 128S U M Á R I Ofase está centrada no fato de a criança deixar de considerar a sílaba como uma unidade e compreender que a mesma pode ser segmenta-da, ou analisada, em elementos menores, que são os fonemas.FASE ALFABÉTICAJá para Zorzi (2017) o nível 5 representa a etapa final da evo-lução na qual o aprendiz passa a compreender as particularidades próprias do alfabeto.O movimento de aumento de precisão na detecção de todos os fonemas das palavras e a sistematização das relações entre tais sons e as letras correspondentes, definem a etapa alfabética da escrita (ZORZI, 2017, p.15). No entanto, o mesmo autor alerta que chegar a essa etapa não garante ao aprendiz a escrita correta de todas as palavras e que o domínio mais completo da escrita ortográfica demandará um longo período de tempo a partir desta fase (ZORZI, 2017, p.16).COMPREENDENDO A ESCRITA SILÁBICAO aprendizado da escrita é amplo, holístico e gradual. Para as autoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1987), a criança percorre cin-co níveis de escrita até que seja alfabetizada por completa, tendo suas particularidades respeitadas.De acordo com a sequência de construção da escrita proposta pelos estudos psicogenéticos de Ferreiro e Teberosky (1999), a fase Silábica representa um período de maior importância evolutiva, pois emerge a tentativa de atribuir um valor sonoro a cada uma das letras que compõem uma escrita, ressaltando o início de uma fonetização.129S U M Á R I OO nível Silábico trabalha com a hipótese de que a escrita representa a fala e que a sílaba representa a menor unidade do dialeto. Sua escrita, portanto, é marcada pelas partes sonoras da fala, registrando um sinal gráfico para cada sílaba falada. Poderá ocorrer nesse nível, a escrita de uma letra para cada palavra quando é solicitada que escreva frases.Com a hipótese silábica a criança avança com um salto quali-tativo em relação aos níveis precedidos. Essa mudança qualitativa se justifica pelo fato de que nessa fase:Supera-se a etapa de uma correspondência global entre for-ma escrita e a expressão oral atribuída, para passar a uma correspondência entre partes do texto (cada letra) e partes da expressão oral (recorte silábico do nome), b) pela primeira vez a criança trabalha claramente com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala (FERREIRO E TE-BEROSKY, 1999, p. 209).Vale ainda ressaltar que nessa hipótese pode-se escrever usan-do letras com ou sem valor sonoro convencional, assim a criança pode lançar mão de qualquer sinal gráfico para representar qualquer som, ou utilizar letras que têm correspondência sonora com a sílaba, geral-mente representada pela vogal.Para Silva (2009) a criança aprende o valor convencional das letras do alfabeto e utiliza para cada sílaba, uma letra (vogal ou con-soante) com valor sonoro convencional, descobrindo que além da quantidade é necessário a qualidade das letras.Quando a criança inicia uma escrita com hipótese Silábica, dois atributos relevantes da escrita anterior somem momentaneamente, as exigências de variedade e de quantidade mínima de caracteres. Dessa forma, pode haver o surgimento de novos caracteres semelhantes no momento em que a criança realiza o desenho silábico, entretanto a exigência de variedade reaparece.130S U M Á R I OA escrita de palavras monossílabas e dissílabas pode gerar na criança, nesse momento, um conflito entre a hipótese Silábica e a quantidade mínima de representações gráficas necessárias para que a escrita possa ser interpretável. Ferreiro (2010) afirma que, além disso, ocorre contradição entre a interpretação silábica e a escrita produzida pelos adultos (que sempre terão mais letras do que as que a hipótese silábica permite antecipar).Segundo Azenha (1995), a hipótese Silábica gera na criança um conflito cognitivo com incômodo pela diversidade das letras e quan-tidade a ser utilizada, começando a usar letras aleatórias no meio da palavra para preencher a quantidade.Nesse sentido, a fase Silábica é considerada de grande importân-cia, pois nela surgem múltiplos conflitos cognitivos, conflitos esses, que acabam impulsionando o aprendiz a fazer novas construções acerca da sua escrita, o que certamente o levará a avançar para outras hipóteses de escrita, permitindo um fundamento geral para controlar as variações na quantidade de letras que devem ser escritas, centralizando a atenção da criança nas diversidades sonoras entre as palavras.ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NO PROCESSO DE ESCRITAA fonoaudiologia apresenta ampla atuação, se totalizando em 12 áreas de especialidades, encontrando-se entre essas a linguagem e fonoaudiologia educacional que possuem relação direta com o desen-volvimento da linguagem escrita, com conhecimento do que é típico, atípico, fases, entre outros.131S U M Á R I OO processo de alfabetizar uma criança pode esbarrar com múlti-plas dificuldades no caminho, podendo ser consequência de falhas no en-sino/metodologia utilizada ou por alterações neurobiológicas do indivíduo.O fonoaudiólogo especialista na área da fonoaudiologia educa-cional não atua com diagnóstico e com mesma abordagem de quando trabalham em clínica como muitos acham. É preciso ter consciência que sua prática é voltada para a educação e não assumindo uma postura clínica dentro de um ambiente educacional (DA PAIXÃO et al. 2021). Esse profissional vai ter conduta de promoção, prevenção,cola-boração e planeamento junto com a equipe educacional com o intuito de agregar no desenvolvimento e aprendizado dessa criança.O Conselho Federal de Fonoaudiologia descreve como função do profissional especialista em Fonoaudiologia Educacional a colabo-ração no processo de ensino-aprendizagem por meio de programas educacionais de aprimoramento das situações de comunicação oral e escrita, oferecendo assessoria e consultoria educacional, atuando em gestão na área educacional em consonância com as políticas, progra-mas e projetos educacionais públicos e privados vigentes (RESOLU-ÇÃO CFFA n. 387, 2010).Além do contexto educacional o fonoaudiólogo também pode receber na clínica pacientes com atrasos na linguagem, em que são realizadas avaliações e deve ser traçado um planejamento terapêutico de acordo com os achados clínicos, voltado para o desenvolvimento desse paciente.Denucci et al. (2021) estaca a importante atuação do fonoau-diólogo diante do desenvolvimento da linguagem, enfatizando que esse tem um importante papel dentro das habilidades preditoras para alfabetização, ele pode atuar na identificação das dificuldades apre-sentada no início do processo da alfabetização, e também nas ações 132S U M Á R I Ovoltadas a prevenção e na intervenção, pois a intervenção precoce é importante nos transtornos e dificuldades da leitura e da escrita.O aprendizado da escrita aborda competências linguísticas, cognitivas, visuais e motoras, englobando também as capacidades metalinguísticas e executivas. A avaliação fonoaudiológica da escrita é ampla e complexa, pois envolve diversas capacidades e habilidades, devendo ser iniciada após a observação de algumas evidências, con-siderando nos protocolos as avaliações de linguagem oral e o desem-penho da escrita.ANÁLISE DE DADOSANÁLISE DA SONDAGEM DIAGNÓSTICANessa primeira análise, os dados obtidos serão apresentados e interpretados com base no referencial teórico de Emília Ferreiro e Ana Teberosky.Para a construção de dados foram realizadas 10 sondagens diagnósticas da escrita em crianças de 4 a 8 anos, todas devidamente matriculadas e frequentando aulas por meio de ensino remoto, devido ao atual período pandêmico.A sondagem foi realizada de forma individual, primeiramente, foi feita a leitura da história “Chapeuzinho Vermelho” e, em seguida, proposto à criança que escrevesse de forma autônoma as palavras ditadas e a frase.Dentre as escritas analisadas não foi possível encontrar nenhu-ma criança na hipótese pré-silábica, no entanto, foram identificadas 3 133S U M Á R I Ocrianças em fase silábica, uma de 7 anos matriculada no primeiro ano, outra de 6 anos cursando o pré III e a última com 7 anos, aluna do segundo ano. Na fase silábico-alfabética também foram identificadas 3 crianças, uma de 5 anos cursando o pré III, outra com 6 anos no 1º ano e a terceira criança com 8 anos no 2º ano do fundamental. Já na fase alfabética, último estágio de evolução de escrita, 4 crianças foram identificadas, todas no 2º ano de escolaridade. A imagem a seguir representa um exemplo de escrita silábica (foco do presente trabalho) encontrada na pesquisa. Figura 1 – Sondagem da Escrita.Fonte: Elaboração própria, 2021.Na produção exposta, pode-se observar que a criança utiliza como estratégia o entendimento da relação existente entre a escrita e a pauta sonora da fala, registrando uma letra para cada sílaba oral. 134S U M Á R I ONota-se que a palavra mel fora representada com duas sílabas, quan-do convidada a ler para registro da marcação, a criança mostrou que na sua fala a palavra é dissílaba. É perceptível ainda, que a criança se encontra em um período de transição, pois ora escreve vogais e con-soantes com valor sonoro convencional e ora sem valor. Na frase, ela iniciou grafando silabicamente a palavra “vovó” e em seguida registrou uma letra para cada uma das palavras que restavam.ANÁLISE DO FORMULÁRIO PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA.O gráfico 1 a seguir expõe as percentagens quanto aos partici-pantes citados.Gráfico 1 – Identificação.Fonte: Elaboração própria, 2021.135S U M Á R I OGráfico 2 – Conhecimento sobre os níveis de escrita.Fonte: Elaboração própria, 2021.Gráfico 3 – Conhecimento sobre Ana Teberosky e Emília Ferreiro.Fonte: Elaboração própria, 2021.Análise do gráfico 2 e 3- Ferreiro e Teberosky são conhecidas mundialmente e estão entre os principais estudiosos que se dedicaram ao estudo do processo da escrita, em que suas pesquisas mudaram o olhar sobre o aluno e sua alfabetização. É de suma importância conhe-cer os seus estudos sobre os níveis de escrita, visto que avaliar essa escrita apresenta-se como possibilidade de conhecer de que forma a criança pensa a escrita, a partir daí criar estratégias e propor interven-ções adequadas, mediando a relação entre a criança e o objeto social que é a escrita (BITTENCOURT, 2017). Quando questionados sobre o conhecimento dos níveis de escrita no gráfico 2, 77,3% mostraram cconhecimento sobre o assunto. Quanto ao conhecimento sobre as autoras Ana Teberosky e Emília Ferreiro no gráfico 3, 88,6% os entre-vistados responderam que “Sim, já ouvi falar”.136S U M Á R I OGráfico 4 – Análise da escrita.Fonte: Elaboração própria, 2021.Análise do gráfico 4 – No questionário os indivíduos analisaram uma escrita de nível silábico que é quando a criança faz a correspon-dência quantitativa das sílabas orais e registra para cada emissão so-nora, uma letra (SILVA, 2009). A partir das respostas analisadas, obte-ve- se o gráfico 4 acima no qual 68, 2% dos entrevistados acertaram o nível em que a escrita apresentada se encontrava, mas é perceptível que uma porcentagem significativa (31,8%) ainda se encontra com dú-vidas sobre o assunto.Gráfico 5 – Compreensão da Psicogênese.Fonte: Elaboração própria, 2021.137S U M Á R I OAnálise do gráfico 5 – Pesquisas realizadas por Leal (2007); Soa-res (2011) apontam que muitos professores ainda têm dificuldade de compreensão da Psicogênese. Deste modo, ao indagar os entrevistados sobre o que justificaria essa dificuldade e compreensão da Psicogênese com os níveis de escrita, a maioria (50%) concluiu um pouco contato com a teoria durante a formação profissional, entretanto alguns (36,4%) con-sideraram a falta de recursos e o fato que essa teoria não traz vantagem para a aprendizagem (13,6%), como pode ser visto no gráfico 5.Gráfico 6 – Salto qualitativo no nível silábico.Fonte: Elaboração própria, 2021.Gráfico 7 – Benefício do conhecimento dos níveis de escrita.Fonte: Elaboração própria, 2021.138S U M Á R I OAnálise do gráfico 6 e 7 – Azenha (1995), afirma que a hipótese silábica representa um divisor de água no processo evolutivo. Ao ques-tionar os entrevistados sobre o que venha ser o salto qualitativo que a criança realiza no nível silábico no gráfico 6, a maior parte (84,1%) constatou que é devido o primeiro contato com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala, contudo alguns concluíram que é devido à criança escrever uma letra para sílaba ou a sílaba com-pleta (9,1%). Ao sondar os sujeitos no gráfico 7 sobre o benefício de se conhecer os níveis de evolução da criança no processo de construção da escrita, grande parte (84,1%) destacou que é necessário para uma melhor intervenção, respeitando os diferentes níveis de escrita, para que assim haja um avanço significativo nos processos cognitivos, to-davia pontuaram também a valorização da forma de escrita da criança (6,8%), identificando falhas nas sequências de hipóteses (4,5%) e de-finindo estratégias que acelerem as hipóteses (4,5%).Gráfico 8 – Valorização da escrita inicial.Fonte: Elaboração própria, 2021.Análise do gráfico 8 – Para Ferreiro (1993) a leitura e a escrita são sistemas que se constroem paulatinamente. Assim, ao perguntar no gráfico 8 como devemos considerar as primeiras escritas da criança em 139S U M Á R I Oprocessode alfabetização, a maioria (81,8%) dos entrevistados cons-tatou uma escrita com grande valor, todavia pontuaram também uma escrita com pouco valor (11,4%) e uma escrita sem valor nenhum (2,3%).Gráfico 9 – Representação da escrita silábica.Fonte: Elaboração própria, 2021.Análise do gráfico 9 – Para Ferreiro e Teberosky (1987), toda criança passa por cinco níveis até que seja alfabetizada, escolhen-do qual resposta representa o nível silábico no gráfico 9, 72,7% dos entrevistados responderam sendo o início da fonetização da escrita, 15,9% escolheram como início de uma escrita simples e 9,1% pontua-ram como início da leitura.Gráfico 10 – Relações externas à escrita. Fonte: Elaboração própria, 2021.Análise do gráfico 10 – Para Cagliari (1998), a escrita está ligada a leitura, ela é um fenômeno social, um bem cultural que se evolui com 140S U M Á R I Oo passar do tempo. Foi perguntado o que está relacionado no de-senvolvimento da escrita infantil, onde no gráfico 10 a maioria (95,5%) respondeu que está relacionado a práticas cotidianas interligadas a prática de escrita e leitura, mas também pontuaram (2,3%) que somen-te ações escolares de escrita e leitura e onde outros (2,3%) pontuaram que Nenhuma das Alternativas Acima (N.D.A).Segundo Capellini (2011) a intervenção precoce oferece ga-nhos imensuráveis a população das séries iniciais, refletindo em melhores desempenhos escolares e menores frustrações quanto a aprendizagem formal. Foi questionado aos participantes através de uma pergunta discursiva, se esses sabiam que o fonoaudiólogo atua nas alterações dos níveis da escrita e se poderiam comentar como se daria essa atuação.Os participantes pontuaram sim para a intervenção sobre a es-crita da criança, sim, em relação aos anos iniciais, com a aplicação do modelo RTI, o qual é um modelo para intervenção precoce, sim, pelos níveis de escrita, há o entendimento sobre a fonetizacão, logo, pode haver a percepção de interferências na fala e sim, verificando as origens das alterações na escrita. CONSIDERAÇÕES FINAISO referido artigo realizou estudos fundamentados nas autoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky, com embasamento na perspectiva de outros autores, no que diz respeito à Psicogênese da Língua Escrita.Com o presente estudo foi possível observar que o processo da aquisição da escrita, ocorre de modo gradual, permitindo que o sujei-to construa concepções, regras, normas e hipóteses até atingir uma linguagem escrita significativa, analisando a relevância do surgimento dos primeiros registros gráficos.141S U M Á R I ODestacamos que através das pesquisas realizadas, foi possível constatar e verificar o conhecimento dos sujeitos acerca da Psicogêne-se da Língua Escrita e com a sondagem diagnóstica, como a criança desempenha uma escrita silábica.Tornou-se pertinente salientar que compreender os níveis de escrita, é possibilitar que a criança seja protagonista do seu desen-volvimento, construindo suposições e assimilação de conceitos e per-passando por cinco hipóteses de escrita. Vale ressaltar, que a escrita infantil apresenta grande valor mesmo antes da criança, ser inserida no ambiente escolar.REFERÊNCIASAZENHA, M. G. Construtivismo: de Piaget a Emilia Ferreiro. 4a edição, São Paulo: Ática, 1995.BARBOSA, J. J. Alfabetização e leitura. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1994.CAGLIARI, L. C. Alfabetizando sem o ba-be-bi-bo-bu. São Paulo: Scipione, 1998.CAPELLINI, S. A; BUTARELLI, A. P. K. J.; GERMANO, G. D. Dificuldades de aprendizagem da escrita em escolares de 1a a 4a séries do ensino público. Revista Educação em Questão, v. 37, n. 23, 2010.CONSELHO FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA. Resolução CFFa nº 387/2010. Dispõe sobre as atribuições e competências do profissional especialista em Fonoaudiologia Educacional reconhecido pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia, alterar a redação do artigo 1º da Resolução CFFa nº 382/2010. Diário Oficial da União. 14 out 2010.DA COSTA, T. C. P. et al. Linguagem humana: uma análise sobre a escrita. Criar Educação, 2016.DA PAIXÃO, K. 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Para a construção de dados fo-ram realizadas 10 sondagens diagnósticas da escrita, em crianças de 4 a 8 anos, todas devidamente matriculadas e frequentando aulas por meio de ensino remoto, devido ao atual período pandêmico. O trabalho visou constatar a importância do conhecimento sobre das fases da escrita, bem como a relevância da mesma para o processo evoluti-vo da criança, relatando a importância da atuação da fonoaudiologia. Como conclusão notificamos o conhecimento dos sujeitos acerca da Psicogênese da Língua Escrita e com a sondagem diagnóstica, como a criança desempenha uma escrita silábica.Na sequência, o sétimo capítulo expõe a influência negativa no desenvolvimento dos processos da fala em crianças expostas preco-cemente e excessivamente às mídias digitais, tendo como parâmetro o modelo típico de desenvolvimento de fala abordados pela literatura, usando pesquisa de cunho quantitativo, mediante um questionário on-line. Os participantes foram pais de crianças de idade entre 12 meses e 3 anos. Foi possível notar uma relação de crianças que possuem atraso de fala com o uso precoce e tempo excedido ao uso de mídias digitais. Esse estudo pôde ressaltar a importância de profissionais na promoção e manutenção da saúde e do desenvolvimento da fala da criança, bem como os aspectos que podem ser considerados para o seu desenvolvimento infantil.O capítulo oitavo apresenta um recorte/versão da evolução das práticas em que se processa a aprendizagem, práticas que ao invés de focar apenas no conteúdo, aspiravam desenvolver os aprendizes para serem sujeitos ativos que se adaptam a diferentes situações e conse-guem conviver com diferentes grupos. Este trabalho também invoca o relato de uma atividade realizada em uma sala de Educação Infantil, de uma escola particular, no Brasil. A atividade teve como objetivo incluir uma criança de 6 anos com autismo severo por meio da pintura.Há, no capítulo nono, a proposta de uma atividade que levante questionamentos e que trabalhe o protagonismo juvenil em sala de aula, destacando a forma como o valor liberdade e o seu respectivo an-tivalor opressão se apresentam nas obras selecionadas, pela explora-ção de dois textos infantojuvenis: o conto de fadas canônico Cinderela, dos irmãos Grimm; e a obra História Meio ao Contrário, de Ana Maria Machado, à partir da vocação de Ser Mais, citada por Paulo Freire.Temas classificados como gerais são apresentados a partir do décimo capítulo. Nesse trabalho há uma reflexão a respeito do con-ceito de violência simbólica em uma perspectiva escolar explorando a continuidade das relações entre indivíduos e práticas nesse espaço. Foram reunidos alguns indícios que destacam a ingerência da violên-cia simbólica a partir dos pressupostos teóricos em Pierre Bourdieu.O décimo primeiro capítulo tem como objetivo demonstrar que o livro eletrônico é uma inovação e que pode contribuir muito para a formação de novos leitores, considerando a era digital em transforma-ção, esse estudo por meio de pesquisa bibliográfica descritiva, aponta que durante muito tempo, o saber foi constituído pelas páginas do livro impresso, mas a ciência evoluiu e com ela surge à tecnologia que veio facilitar a vida humana, inclusive na literatura, em especial, a cultura do carimbó na literatura digital. Ao abordar sobre a literatura e a formação do novo leitor ressalta-se um trabalho social que inclui diversos atores.Por fim, temos dois ensaios. O primeiro ensaio (capítulo doze) bus-ca compreender o contexto de ensino híbrido na perspectiva dos mul-tiletramentos para (re)pensar a educação para além das emergências impostas pelo enfrentamento à pandemia da covid-19, considerando a autonomia dos sujeitos e a humanização. São tecidas considerações sobre como os sujeitos que protagonizaram esse contexto traçaram os caminhos para tornar o ensino viável, seguidas de reflexões sobre os novos cenários, mudanças e adaptações necessárias para uma apren-dizagem significativa, diante do retorno ao ensino presencial em meio às fragilidades da educação.O último capítulo encerra a obra, com o ensaio que concebe a educação no espaço escolar, pensada na interface com a formação humana em vista do enfrentamento das desigualdades. A metodologia consistiu numa revisão de literatura dos temas e uma analítica concei-tual. O desenvolvimento foi feito em três partes: problematização ao modo de introdução, seguida pela produção de sentidos sobre educa-ção, formação humana e desigualdades, e por fim, o ensaio analítico aproximando os três conceitos. Esta coletânea apresenta diferentes perspectivas, abordagens diversas e principalmente amplitude de assuntos. E esperamos que este livro corrobore para discussões aprofundadas sobre as temáticas aqui apresentadas e motive os profissionais da grande área da Educa-ção a engendram caminhos ainda não pesquisados.Os organizadoresSumárioCapítulo 1O Estado da Arte nas pesquisas em Educação: um panorama dos artigos científicos ............................................... 17Giovanna Ofretorio de Oliveira Martin-FranchiSilmar José Spinardi FranchiCapítulo 2As pesquisas sobre trabalho e formação docente no Território de Identidade Sertão Produtivo Baiano ........................................ 36Ginaldo Cardoso de AraújoMarinalva Nunes FernandesIamara Junqueira Sousa CarvalhoLucas dos Santos PortoMarcos Alves BatistaMaria de Lourdes do Carmo Souza DucaMarta Juvênia Navarro CarameloMurilo Rocha FerreiraCapítulo 3A Educação Estética e a Relação entre Educação e Design .......................................... 57Humberto CostaTania StoltzTrajano Felipe Barrabas Xavier da SilvaCapítulo 4Comunicação científica e movimento de acesso aberto: constituição e potencialidades para o processo educacional no PPGE/UFAM ................................ 80Luiz Fernando Correia de Almeida Hellen Cristina Picanço SimasCapítulo 5Formação de professores no contexto brasileiro e espanhol: uma análise comparativa ................................................................. 98Franciele dos SantosKetilin Mayra PedroCapítulo 6Achados no desenvolvimento da linguagem escrita silábica em crianças de 4 a 8 anos .......................................................... 117Anna Luísa Pessanha dos SantosClévila de Souza Paula NogueiraFernanda Gomes da Silva FigueiredoRauane Pessanha de SouzaElizabeth Matilda Oliveira WilliamsMoniki Aguiar Mozzer DenucciCapítulo 7A era digital e o atraso de fala: uma nova visão acerca das mídias digitais.................................... 144Elizabeth Matilda Oliveira WilliamsMoniki Aguiar Mozzer DenucciCarlos Henrique Medeiros de SouzaLeonard Barreto MoreiraCapítulo 8A case study on inclusive planning for development of child with autism .......................................... 162Brenda Mourão PricinotiLorraine Caroline NicomedesJoão Vítor Sampaio de MouraStefanne de Almeida TeixeiraCapítulo 9A Vocação de Ser Mais em Cinderela, dos Irmãos Grimm, e História Meio ao Contrário, de Ana Maria Machado ......................................... 181Francisca Patrícia Pompeu BrasilCapítulo 10Violência simbólica: a máscara do convencimento .......................................................Aguiar Mozzer DenucciCarlos Henrique Medeiros de SouzaLeonard Barreto MoreiraDOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95538.77Elizabeth Matilda Oliveira WilliamsMoniki Aguiar Mozzer DenucciCarlos Henrique Medeiros de SouzaLeonard Barreto MoreiraA ERA DIGITAL E O ATRASO DE FALA: uma nova visão acerca das mídias digitais145S U M Á R I OResumo: O avanço da tecnologia tem provocado profundas mudanças na sociedade e as crianças têm contato cada vez mais cedo, são os chamados “nativos digitais”. O objetivo do trabalho foi analisar a influência negativa no desenvolvimento dos processos da fala em crianças expostas precocemente e excessivamente às mídias digitais, tendo como parâmetro o modelo típi-co de desenvolvimento de fala abordados pela literatura. Pesquisa de cunho quantitativo, mediante um questionário online. Os participantes foram pais de crianças de idade entre 12 meses e 3 anos. Foi possível notar uma relação de crianças que possuem atraso de fala com o uso precoce e tempo excedido ao uso de mídias digitais. Esse estudo pôde ressaltar a importância de profis-sionais na promoção e manutenção da saúde e do desenvolvimento da fala da criança, bem como os aspectos que podem ser considerados para o seu desenvolvimento infantil.Palavras-chave: Desenvolvimento; atraso de fala; mídias digitais; tecnologia.146S U M Á R I O1. INTRODUÇÃOAtualmente, o avanço da tecnologia e das mídias sociais têm provocado diversas modificações nas relações interpessoais, como discorrem Monteiro e Osório (2015). A evolução das tecnologias digi-tais tem transformado a sociedade em todas as suas dimensões, uma vez que ela permeia tudo que nos cerca, desde televisores com con-trole remoto, videogames, carros, tablets e celulares, tornando assim este acesso rotineiro e crescente entre as crianças.Os meios tecnológicos são fundamentais para o indivíduo, seja para o trabalho, diversão ou qualquer outra atividade. Ainda, crianças e adolescentes têm o contato cada vez mais precoce. O fascínio pelos dispositivos eletrônicos pode causar malefícios e problemas no com-portamento durante o desenvolvimento humano (SIQUEIRA; DE OLI-VEIRA FREIRE, 2019).De fato, nos últimos anos um bebê já tem acesso às telas como forma de distração. São os “nativos digitais”, termo utilizado por Gas-ser e Palfrey (2011), para referir aos nascidos após a década de 80 e que estão imersos na tecnologia.A influência da tecnologia na vida das crianças tomou uma pro-porção tão grande que este assunto já se tornou alvo de estudos na-cionais e internacionais. Buckingham (2000), afirma que crescer na era das mídias eletrônicas virou um desafio.Estudos mostram que as crianças de 0 a 2 anos de idade pre-cisam de uma exploração social e prática, para o desenvolvimento linguístico, cognitivo e maturação de suas habilidades motoras e só-cio emocionais. O contato direto com objetos, brinquedos e pessoas desenvolve funções mentais e habilidades de atenção primordiais nos primeiros anos de vida do ser humano, desta forma vê-se que a mídia digital interfere nesse desenvolvimento (WAISBURG, 2018). 147S U M Á R I OSegundo a Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP (2016), o atraso no desenvolvimento da fala e linguagem é frequente em bebês que ficam passivamente expostos às telas, por longos períodos e re-comenda que se evite a exposição de crianças menores de 2 anos às telas, sem necessidade.Hage e Guerreiro (2010), preconizam que crianças com atraso da fala são comumente identificadas a partir dos dois anos de idade, com vocabulário pobre e uma diferença de pelo menos 12 meses entre a idade cronológica e a idade linguística, sem que apresente déficits neurológico, sensório ou cognitivo subjacentes.O desenvolvimento normal da linguagem depende de uma di-versidade de variáveis, como integridade anatomofisiológica, matura-ção do sistema nervoso central, aspectos emocionais e sociais, entre outros (GOMES, et al., 2009). A criança inicia pelo balbucio, depois pelas primeiras palavras e combinações de palavras até chegar a es-tágios mais complexos. Os autores Gândara e Befi-Lopes (2010), declaram que as pri-meiras palavras são adquiridas por volta dos 12 meses (entre 10 e 13 meses), seguindo-se de um período de desenvolvimento lento e gra-dual do vocabulário produtivo, aproximadamente dez palavras por mês até os 18 meses. O domínio fonológico típico deve ocorrer por volta dos cinco anos, podendo se estender até os sete anos.Nesse contexto, a pesquisa descritiva teve como objetivo veri-ficar as possíveis alterações, bem como surgimento tardio da fala da criança exposta excessivamente aos eletrônicos, tendo como parâ-metro o modelo típico de desenvolvimento de fala e linguagem abor-dados pela literatura. Esses resultados trouxeram informações para os profissionais da Fonoaudiologia que buscam a compreensão das casuísticas nos pro-cessos que interferem na saúde comunicativa humana como um todo. 148S U M Á R I OSendo assim, este modelo proporcionou uma contribuição no aperfei-çoamento da atuação fonoaudiológica nas alterações e atrasos de fala, bem como na prevenção de fatores interferentes no desenvolvimento infantil, servindo como amostra para orientação aos pais e familiares.Nessas circunstâncias, esse estudo tonou-se viável para fomen-tação da criação de estratégias e ações voltadas para a prevenção do atraso de fala. Goulart e Chiari (2011) destacaram a importância dos diversos profissionais que fazem parte do universo da criança, no âmbito escolar, da saúde e até mesmo em casa tenham acesso a co-nhecimentos estratégicos para que os esforços no sentido de manter ou garantir o restabelecimento da saúde em relação à comunicação sejam preservadas. O estudo foi produzido com base numa análise quantitativa, por meio de uma pesquisa de campo pautada em modelo de questionário o qual foi realizado de forma online, pela plataforma Google Forms®. Foi aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa/CONEP que constou duas etapas: elaboração do questionário e levantamento e de dados pelo o instrumento. 2. MÍDIAS DIGITAIS NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE FALA: MALEFÍCIOS OU BENEFÍCIOS?O século XXI propôs um mundo virtual que possibilitou todas as gerações navegarem sobre ele. Se na época de nossos pais e avós a diversão eram brincadeiras comuns, tais como, pique no alto, futebol, brincar de boneca, hoje em dia, crianças e adolescentes da era virtual, preferem vídeo game, desenhos animados, computadores, tablets e smartphones (FREIRE; SIQUEIRA, 2019).149S U M Á R I OPesquisas médicas e evidências científicas vão se acumulando e sendo atualizadas, não só sobre benefícios quanto à aceleração das informações e notícias em tempo real, mas também, sobre os prejuízos à saúde, quando ocorre o uso precoce, excessivo e prolongado das tecnologias durante a infância e os efeitos em longo prazo (SBP, 2016).Van Den Heuvel, et al., (2019) realizou um estudo transversal entre 2011 e 2015 em crianças de 18 meses, e foi possível demonstrar uma associação significativa entre o uso de dispositivo móvel e relato pelos pais de atraso expressivo de fala em crianças pequenas.De acordo com Paiva e Costa (2015), a utilização cada vez mais precoce e frequente da tecnologia tem causado questionamentos polêmicos, quanto ao desenvolvimento afetivo, cognitivo e social da criança, uma vez que elas acabam substituindo as amizades reais pe-las virtuais, abrindo mão de brincadeiras tradicionais nas quais envol-vem exercício físico e interação social com colegas e familiares.Uma pesquisa, apresentada durante a Reunião de Sociedades Acadêmicas Pediátricas de 2017, sugeriu que quanto mais tempo as crianças menores de 2 anos gastam jogando em smartphones, tablets e outras telas, maior será a probabilidade de que comecem a falar mais tarde. Para cada aumento de 30 minutos no tempo de tela, os pesquisadores descobriram um risco aumentado de 49% de atrasoexpressivo da fala (WIRTH, 2017).O desenvolvimento da linguagem oral depende de uma com-plexidade de fatores biológicos e ambientais (NAVAS, 2016). Neste sentido, Prates e Martins (2010), descrevem que os primeiros anos de vida da criança são determinantes para o desenvolvimento adequado da linguagem. Em um ambiente comunicativo e a partir da interação com a família, a qual torna-se escassa num ambiente familiar onde a tecnologia é usada em forma de distração, enquanto os pais realizam alguma atividade (FILHO, 2011 apud FREIRE; SIQUEIRA, 2019).150S U M Á R I OAo enfatizar a importância da interação social, à luz da aborda-gem de Vigotsky, o processo de aquisição e de desenvolvimento da fala e da linguagem da criança é desencadeado a partir dos processos interacionais entre o organismo e o meio, processos esses que ficam prejudicados com o uso excessivo de eletrônicos na primeira infância.3. DESENVOLVIMENTO TÍPICO DE AQUISIÇÃO DE FALA.A fala é o canal que viabiliza a expressão da linguagem e cor-responde à realização motora da linguagem, refere-se à maneira de articular os sons na palavra (incluindo a produção vocal e a fluência) (PRATES; MARTINS, 2011).O desenvolvimento da linguagem depende de uma diversidade de variáveis, como a integridade anatomofisiológica, maturação, do sistema nervoso central, aspectos emocionais e sociais, entre outros (SANDRI, et al., 2009). No desenvolvimento da linguagem, existe uma sequência cronológica semelhante entre as crianças, na qual é pos-sível descrever fases evolutivas e observar um domínio crescente de habilidades cognitivas e comunicativas quando comparadas a faixa etárias (MCLAUGLHIN, 2011).Gândara e Befi-Lopes (2010), expõem que a aquisição de pala-vras constitui um passo indispensável para o posterior desenvolvimen-to sintático, além de marcar o início da possibilidade de comunicação oral efetiva entre a criança em desenvolvimento e o mundo que a cer-ca. Segundo eles, durante o desenvolvimento normal de linguagem, as primeiras palavras são adquiridas por volta dos 12 meses (entre 10 e 13 meses), e segue um período de desenvolvimento lento e gradual do vocabulário produtivo, num ritmo de aproximadamente 10 palavras por mês até os 18 meses.151S U M Á R I OConforme a criança se aproxima do marco da produção de 50 palavras, a velocidade de crescimento aumenta (caracterizando a cha-mada “explosão” do vocabulário) (GÂNDARA; BEFI-LOPES, 2010).No desenvolvimento fonológico típico, observa-se que, à medi-da que a idade avança, as habilidades auditivas e fonoarticulatórias se desenvolvem e a criança vai gradativamente superando dificuldades inerentes ao desenvolvimento e acrescentando fonemas no seu inven-tário fonológico (CERON; SOARES, 2018).O período de maior aquisição dos fonemas é entre 2 e 2 anos e 6 meses. Aos 4 anos aproximadamente 75% das consoantes são produzidas adequadamente e aos 6 anos 97% delas são faladas cor-retamente (SANTINI, 1996).Quanto à ordem de surgimento dos fonemas, os plosivos são os primeiros fonemas a serem adquiridos, estando estabelecidos antes dos dois anos de idade. Há uma preferência pelo estabelecimento de plosivas labiais e coronais em detrimento das dorsais (FREITAS, 2004). Já a classe das liquidas é marcada por ser de domínio mais tardio, sendo as líquidas não-laterais, também chamadas de vibrantes, os últimos sons a serem adquiridos, por serem os mais complexos na aquisição do sistema fonológico (PAYÃO, 2004; MEZZOMO e RIBAS, 2004). A figura 1, a seguir demonstra o processo de aquisição dos fonemas por idade, elucidado por Ribas (2008).152S U M Á R I OFigura 1 - Quadro descritivo da idade de aquisição normal dos segmentos fonológicos. Fonte: adaptado de Oliveira et al., 2004.No período das últimas aquisições (após os 54 meses), a criança é capaz de produzir estruturas sintáticas complexas, como as condicio-nais, as circunstanciais, as de tempo, além de aperfeiçoar aquelas que já produzia. Em torno dos cinco anos, a criança já consegue o domínio do sistema gramatical básico de uma língua (HAGE; PINHEIRO, 2018).4. ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DA LINGUAGEM ORAL.A área pré-motora, localizada no lóbulo frontal, é rotulada de formação das palavras. Essa região é chamada área de Broca. A área 153S U M Á R I Ocortical estreitamente associada, também causa função respiratória apropriada, assim, a ativação respiratória das cordas vocais pode ocorrer, simultaneamente, com os movimentos da boca e da língua, durante a fala (GUYTON; HALL, 2011).O ouvido tem o papel de sintonizar o sinal auditivo dos sons da fala do ambiente, dessa forma, irá decodificar e transformá-los em sinais elétricos, os quais são conduzidos por células nervosas à área auditiva do córtex cerebral, no lobo temporal e, então, processa novamente os impulsos, os transmite às áreas de linguagem (CASTAÑO, 2003).Nesse sentido, Schirmer (2004) narra que os neurônios da por-ção inferior são ativados no lobo temporal, os quais formam uma ima-gem do que se ouviu, e os neurônios do lobo parietal, que armazenam informações referentes. E dessa forma, a rede neuronal envolvida for-ma uma complexa central de processamento.Rocha (1999), no livro “O cérebro – um breve relato sobre sua função”, preconiza que a motricidade dos músculos da face, língua, faringe e laringe, é controlada pelos nervos cranianos trigêmeo, facial, hipoglosso e acessório. Para o autor, os atos motores de fonação são organizados pela área de Broca (córtex pré-motor) que controla o córtex--motor associado a musculatura dos órgãos fonoarticulatórios (OFAS).O cerebelo, por sua vez, é responsável pela sequenciação dos movimentos na fala e pela monitoração da fonação, ou seja, se o ato motor foi executado da forma anteriormente planejada.Em suma, linguagem receptiva inclui a sensação auditiva, a per-cepção e a compreensão da palavra. A linguagem expressiva inclui a formulação da palavra, o planejamento e o controle motor da fonação e a articulação propriamente dita (GUYTON; HALL, 2011).154S U M Á R I O5. ABORDAGEM SOBRE ATRASO DE FALA (AF).Existem ideias, amplamente aceitas sobre “falantes tardios” em muitas culturas, como “meninos falam mais tarde do que meninas”, “seu irmão e seu pai também falaram mais tarde, mas agora estão bem”, “ele/ela não precisa falar porque ele pode nos contar tudo sem falar”. Tais racionalizações podem enganar membros da família e po-dem resultar em admissão tardia aos especialistas e diagnóstico tardio (ZENGIN-AKKUS, 2018).Crianças com atraso de fala (AF) são aquelas que demonstram habilidades de linguagem expressiva atrasadas, tipicamente identifica-das por um déficit de vocabulário ou combinações limitadas de duas palavras, em comparação a crianças com desenvolvimento típico da linguagem (DT) (WEISMER, et al., 2013).De acordo com Rescorla (2002), o atraso da fala está corre-lacionado com dificuldades em habilidades de leitura e com baixo desempenho em uma ampla gama de habilidades de linguagem ao longo da infância. O mesmo fez um levantamento comprovando que há um menor nível de vocabulário e memória verbal na adolescência, em comparação a indivíduos com desenvolvimento típico.Os distúrbios de desenvolvimento da fala de causa idiopática em crianças, são aqueles que não ocorrem em combinação com outras anormalidades, tais como: deficiência mental, paralisia cerebral, defi-ciências auditivas e outras. Tais distúrbios, idiopáticos ou secundários, podem ser acentuados por influências externas, como, por exemplo, diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada, destacam as autoras Prates e Martins (2011).É importante considerar que a linguagem é o principal recurso de interação social. Martins (2011), narra que as alterações no desenvolvi-mento da fala e da linguagem podem causar sérios problemas no desen-volvimento cognitivo e socioemocional na idade escolar ou adolescência.155S U M Á R I O6. RESULTADOSTivemos como resultados 51 pais de crianças com neurodesen-volvimento típico submetidos à pesquisa, na faixa etária de 12 meses até 3 anos de idade. Esse levantamento, foi realizado por meio de um questionário enviado ao WhatsApp dos responsáveis com um total de 13 perguntas de identificação, sexo, idade e relacionadas ao tempo médio de exposição as mídias digitais, interação com os pais e desen-volvimento da fala. A participação de pais de meninas foi predominante (52,9%), sendo pais de meninos 47,1%. Dos participantes, 88,2% responderam que seus filhos tiveram acesso diário às mídias digitais antes dos 2 anos de idade, somando apenas 11,8% de crianças que foram privadas das telas. O tempo médio de exposição diária foi de 35,3% de exposição esporádica, 15,7% de até 3 horas por dia, 13,7% de até 2 horas por dia, 23,5% de até 1 hora por dia e 11,8% de nenhuma exposição. A resposta para os que consideravam a interação com seus filhos foi de 94,1% para boa interação, 3,9% média e 2% ruim.Gráfico 1 - Porcentagem de nível de interação pai-filho.Fonte: elaborado pelos autores, 2021.156S U M Á R I ODentre os selecionados para a pesquisa 11,8% relataram acredi-tar que seus filhos tinham atraso de fala, sendo 5,9% dos participantes tinham recebido diagnóstico fonoaudiológico de atraso de fala. Todos os participantes que consideravam que seu filho tinha atraso de fala assina-laram “sim” para exposição diária às mídias digitais antes dos 2 anos de idade. Dentre os participantes que receberam diagnóstico de atraso de fala a resposta para exposição foi de 2 e 3 horas diárias, ultrapassando o limite diário sugerido pela Associação de Pediatria Brasileira.As crianças que não possuem nenhuma exposição aos eletrôni-cos (11,8%), tiveram boas respostas com relação ao número de palavras pronunciadas pelas mesmas, bem como pronúncia de fonemas espe-rado para a idade, além de terem uma boa comunicação com a família.Tabela 1- Respostas número de palavras e fonemas por participantes sem exposição aos eletrônicos.Número do participanteSexo Idade: Nº de palavras: Fonemas:7 Masculino 3 anos 200 palavras /t/, /b/, /p/, /d/, /m/, /n/, /s/, /z/, /g/, /f/, /v/, /ch/18 Feminino 12 a 24 meses 20 palavras /p/, /m/, /b/, /n/, /d/29 Masculino 12 a 24 meses 20 a 50 palavras /p/, /m/, /b/, /n/, /d/32 Feminino 12 a 24 meses 20 a 50 palavras /p/, /m/, /b/, /n/, /d/42 Masculino 12 a 24 meses 20 palavras /p/, /m/, /b/, /n/, /d/47 Masculino 3 anos Acima de 300 /t/, /b/, /p/, /d/, /m/, /n/, /s/, /z/, /g/, /f/, /v/, /ch/Fonte: elaborado pelos autores, 2021.157S U M Á R I OEntre os submetidos ao questionário, 2% cuja a resposta para interação com filho foi ruim, assim como tempo máximo de exposição diária de 2 horas, a resposta foi negativa para número de fonemas e palavras pronunciadas pela mesma.7. DISCUSSÃOKamarudin et al., (2018) apresentou um estudo envolvendo crianças com idade média de 3 anos, onde foi possível mostrar que crianças com atraso de fala tiveram significativamente mais tempo de exposição às telas digitais em comparação com crianças em desen-volvimento normal. Os resultados desse estudo demonstraram uma exposição precoce e excessiva às telas que excedia o recomendado.Ângela Baptista, usa o termo “Autismo Eletrônico”, para definir uma automação comportamental das crianças e dos indivíduos de for-ma geral. A psicóloga afirma que o autismo eletrônico priva as crianças do relacionamento propriamente humano, da troca de olhar e da pala-vra (DIAS, et al. 2019).Os dados dessa pesquisa empírica convergem para com o ar-gumento dos autores referenciais de que a interação entre pais e filhos fica defasada com o uso de eletrônicos pelas crianças, além de apon-tar que há uma possibilidade de o desenvolvimento da linguagem oral ficar prejudicada quando há uso de tecnologia como distração antes dos 18 meses de idade.Os resultados desse estudo também revelam que a não expo-sição de telas às crianças entre 12 meses e 3 anos de idade é uma ação positiva no que diz respeito à aquisição de fonemas e palavras, que se aproximaram ou igualaram ao número de fonemas e palavras esperado para cada idade de acordo com o que a literatura aborda.158S U M Á R I OOs números também revelam que a maioria dos pais não se-guem a recomendação da Associação Brasileira de Pediatria de não expor seus filhos às mídias digitais antes dos 2 anos de idade, o que sugere pouca informação a respeito dessa recomendação.Neste caso, a hipótese de que as mídias digitais podem ser prejudiciais se usadas de forma precoce e excessiva pelas crianças é admitida, e o atraso de fala em crianças com neurodesenvolvimento típico pode sim estar associado a este fator.8. CONSIDERAÇÕES FINAIS.Essa pesquisa pôde mostrar uma relação com crianças que possuem atraso de fala e o uso precoce com tempo excedido ao uso de mídias digitais recomendado pela Associação Brasileira de Pedia-tria, bem como um “score” positivo para crianças que não têm nenhu-ma exposição aos eletrônicos. Diante de tais resultados e a correlação com o que a literatura vêm nos trazendo nos últimos anos, sugere-se que os profissionais da fonoau-diologia invistam em pesquisas mais avançadas com aplicação de proto-colos e avaliações detalhadas para resultados mais precisos, bem como a busca de outras interferências causadas pelo uso precoce e excessivo de telas digitais no desenvolvimento da comunicação humana.Pesquisas recentes mostram que diante da atual situação pan-dêmica em que a sociedade se encontra, as crianças têm passado mais tempo em frente às telas: “Em conjuntura com as modificações do cotidiano outra mudança significativa que se observou relacionada a crianças, foi o aumento do uso da tecnologia pelas mesmas durante a pandemia”, descrevem De Castro e Junior (2021). Desta forma, estes da-dos devem servir também para a fomentação de criação de estratégias 159S U M Á R I Ovoltadas para a promoção e ações voltadas para pais e familiares, que visem garantir a preservação da saúde comunicativa humana.Lamônica (2018), afirma que os profissionais da saúde de-vem considerar também os fatores extrínsecos, para atuar junto aos transtornos de linguagem, pensando que mudanças neurodesen-volvimentais podem ser desencadeadas a partir das relações da criança no meio social.Por fim, cabe aqui salientar que a comunicação humana, as in-tersecções entre suas modalidades e os distúrbios que podem aco-metê-la são objeto da Fonoaudiologia. Sendo assim, fonoaudiólogo é o profissional habilitado para identificar, diagnosticar e tratar indivíduos com alterações da comunicação oral. A participação de outros profis-sionais é preciosa, mas neste processo, a atuação fonoaudiológica de forma direta ou indireta é imprescindível.9. REFERÊNCIASASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PEDIATRIA. 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Then, the evolution of the prac-tices in which learning proceeds was presented, practices that instead of focusing only on the content (content education), aspired to develop learners to be active subjects who adapt themselves to different situations and mana-ge to live with different groups. The present work also invokes the report of an activity carried out in a Junior Kindergarten classroom, in a private school, in Brazil. The activity aimed to include a 6-years-old child with severe autism. This activity was a mediation one, and it was entitled “the painted speech”. It received this name because it approached communication with this student through painting in a unique way.Key words: Homogenizing education; autism; inclusive education; school’s experience.164S U M Á R I OINTRODUCTIONAs an introductory line, it is necessary to explain about inclusive education and its struggles. In remote times people with specific needs could not live in society, they were hidden in their own houses. As poin-ted out by Fino (2007), with the industrial revolution and the creation of the steam engine, they needed another type of man to work. No longer the uneducated men of the countryside, but an individual capable of operating machines. Thus, in the 18th century, both men and women who did not belong to high society had to work. But both men and wo-men working, who would take care of the children? At this time, schools emerged, not only to take care of children, but also to adapt them to the new model of society that was emerging. We needed children pre-adapted to repetitive work, indoors, to a world of smoke, noise, machines, life in overcrowded environ-ments and collective discipline, to a world in which time, instead of being regulated by the sun-moon cycle, would be governed by the factory whistle and the clock. (TOFFLER, s/d apud FINO, 2007, p. 3 – our translation).1Thus, as pointed out by Fino (2007), “mass” education commen-ced. Producing individuals who lived according to the new model of so-ciety. “The solution could only be an educational system in which, in its own structure, simulates this new world”. (Toffler, s/d: 393, apud FINO, 2007, p. 3 - our translation). Consequently, the education established at this time was not inclusive, it homogenized children, regardless of life experience; they all had to learn at the same pace and in the same way.Fino (2007) explained that after the French Revolution, with its victory, they managed to create the first universal school that offered 1 “Precisava de crianças pré-adaptadas a um trabalho repetitivo, portas adentro, a um mundo de fumo, barulho, máquinas, vida em ambientes superpovoados e disciplina coletiva, a um mundo em que o tempo, em vez de regulado pelo ciclo sol-lua, seria regido pelo apito da fábrica e pelo relógio.”165S U M Á R I Ostudents “economic and social” development. (FINO, 2007, p. 3 - our translation). However, despite the enhances that these schools had for that time, it should not remain identical and static today. Today, computers, unlike factories which in the past were only part of the landscape,are deeply interlaced into every day’s lives of every citizen, to the point where it is tedious to enu-merate where and how. We already live in a changing society, on a planet suddenly made very small by the action of digital technologies, globalization, the pulverization of local cultures. A planet that has nothing to do with the bucolic rhythms that prevailed at the time when Condorcet and Watt, each in their own way, proposed levers for the future. (FINO, 2007, p. 4 – em-phasis added, our translation).2However, if society has changed, why does education continue to homogenize? With social evolution and globalization, the individual should not be just a passive subject, but a being that can adapt to different situations and live with different groups. With globalization, many people travel to other countries easily, being able to study or even live in a non-native country. Hence, many scholars realized edu-cation is not developing students for this new model of society. Accor-dingly, Fino (2007) presents, as if nothing had happened, the schools have continued to try to fulfill its mission of training for industrial society. “In 1945, no one, inside or outside the school, would have realized that the ENIAC would be an agent of its obsolescence. In fact, it is not even certain that, in 2005, the number of people who already rea-lized this was significant, given the evident difficulties of school’s systems, the voices that are most often heard are those who complain, without realizing the nonsense, a return to the past, to 2 “Hoje, os computadores, ao contrário das fábricas que, no passado, eram apenas parte da paisagem, estão profundamente entretecidos na vida de todos os dias de todos os cidadãos, ao ponto de ser fastidioso enumerar onde e como. Vivemos já numa sociedade em mudança, num planeta tornado subitamente muito pequeno pela ação das tecnologias digitais, da globalização, da pulverização das culturas locais. Um planeta que já nada tem a ver com os ritmos bucólicos que prevaleciam à data em que Condorcet e Watt, cada qual ao seu modo, propunham alavancas para o futuro.”166S U M Á R I Oa time when the schools placidly followed its path without major problems. (FINO, 2007, p. 4 - our translation3).Therefore, many scholars, such as Yakman’s created approa-ches such as the STEAM that aims to “young scientists”; students who can concatenate different contents, or the so-called “active methodo-logies” presented by Freire, Dewey, Knowles, Rogers, Vygotsky, which transform students into protagonists of their own education. Conse-quently, new ways of teaching and learning are proposed; methods that make the student not only a passive subject, but an active subject, who adapts to different situations and manages to live with diversity. Knowing how to solve problems, as well as presenting logical and crea-tive thinking are essential in the new modernity. What about inclusive education?With the variety of pedagogical trends that emerged, Scholars began to look at individuals with specific needs. Zavareze (2009) dis-cusses these individuals in different times. In the “pre-christian” time they were exterminated or abandoned as soon as they were born. At that time, they were considered “as useless being, who was put aside from the activities carried out, being, therefore, neglected by society.” (ZAVAREZE, 2009, p. 1 - our translation).At the beginning of the so-called “christian” time, “even in the feudal period, Catholicism considered these individuals as representa-tions of the devil, and they burned them at the stake of the inquisition” (ZAVAREZE, 2009, p. 1 - our translation). However, in the Middle Ages, despite not being exterminated, they lived isolated, and the conception 3 “Como se nada tivesse acontecido, a escola pública tem continuado a tentar cumprir a sua missão de formar para a sociedade industrial. Em 1945, ninguém, dentro ou fora da escola pública, se terá apercebido de que o ENIAC seria um agente da sua obsolescência. Aliás, nem é seguro que, em 2005, o número de pessoas que já se aperceberam disso seja sig-nificativo, uma vez que, perante as dificuldades evidentes dos sistemas escolares, as vozes que mais se ouvem são as dos que reclamam, sem se aperceberem do contra-senso, um regresso ao passado, a um tempo em que a escola pública seguia placidamente o seu caminho sem grandes sobressaltos.”167S U M Á R I Oof that time was to have charity towards them, in the words of Miran-da (2017) “the mentally disabled were considered diabolic beings that should be purified.” (p. 106 - our translation).Accordingly, despite not being exterminated, they lived in se-clusion – excluded - at the doors of churches, begging to be able to eat. With the industrial revolution and the development of science, they began to send them to “asylums” and received treatments (such as shock), in the words of Miranda (2017); “More precisely in the 18th century, in Germany and France, and around the 18th century until the end of the 19th century, in Brazil, hospices, asylums, prisons and orpha-nages emerged with the aim of serving as a depository for people con-sidered disabled, hitherto isolated by the other members of society.” (apud ZAVAREZE, 2009 - our translation). The third phase, continues Zavareze (2009), appraise the 19th and 20th centuries, having as a landmark the creation of spe-cial schools, which aimed, in addition to providing differentiated care for people classified as disabled, to reduce government spending on hospices and asylums. It avoided, in a way, the current segregation. At that time, the disabled people acquired a human “status”, seen as a being possessing a soul. And “the custody and care of these children or even disabled adults are assumed by the family and the church (apud NOGUEIRA, 2008, p. 4 - our translation).4To this extent, Johann Heinrich Pestalozzi and Maria Montessori are considered a milestone for the elaboration of educational practices directed to people with specific needs, without the prejudiced lens, they realized that they were able to proceed, not necessarily at the same pace as the others, but within their own rhythm. Thus, they developed non-ho-mogenizing methodologies that developed them as active subjects.4 “A terceira fase, continua Zavareze (2009), perpassa os séculos XIX e XX, tendo como marco a criação de escolas especiais, que visavam, além do atendimento diferenciado às pessoas classificadas como deficientes, a diminuição de gastos governamentais com asilos e manicômios, e evitava, de certo modo, a segregação vigente. Nessa época, o deficiente adquiriu um “status” humano, sendo visto como possuidor de uma alma. E “a custódia e o cuidado destas crianças ou até mesmo adultos deficientes passam a ser assumidos pela família e pela igreja.”168S U M Á R I OTo illustrate, Almeida (2015, the book: love and ethics in the daily life of the teacher - our translation) presents Thomas Edison, who was considered a great genius and creator of the incandescent lamp, he was expelled from his school (excluding and homogenizing), for having learning difficulties and being “eccentric”. He was educated at home by his mother, who stimulated and sharpened his curiosity and creativity. Or even the great Stephen Hawking who, as Ferguson (2012, in the book Stephen Hawking The Adventures of a Lifetime - our translation) has had amyotrophic lateral sclerosis and helped the world with his discoveries. Inclusion has been gaining its space every year, not only in the Brazilian’s scenario, but in the world. Indeed, school’s inclusion, in recent years, has developed in a global perspective as a complex movement, which includes the social struggle of people with disabilities, as well as their families, for basic rights and others, more comprehensive. Over the last few years, many movements in favor of social and school’s inclusion have emerged asa result of historically dated social inequalities and prejudices. What happens, in the current historical moment, is that society, previously guided by processes of segregation and exclusion widely spread, now defends inclusion and, for that, creates documents, policies and laws that assume a conceptual role in society, aimed at to guarantee rights and equality for all by the law. (MIRANDA, 2017, p. 105 - our translation).5Not only education has been changing, but also conceptions about disabilities. Therefore, as pointed out by Miranda (2017), “it is im-portant to highlight that the terms “health”, “disease”, “normality”, “ab-normality”, “efficiency”, “disability”, among others, are historical-social 5 “Com efeito, a inclusão escolar, nos últimos anos, tem se desenvolvido em uma perspectiva mundial como um movimento complexo, que inclui a luta social das pessoas com defi-ciência, bem como de seus familiares, por direitos básicos, e outros mais abrangentes. No transcorrer dos últimos anos muitos movimentos em prol da inclusão social e escolar surgiram em função das desigualdades sociais e preconceitos datados historicamente. O que ocorre, no atual momento histórico, é que a sociedade, antes pautada por processos de segregação e exclusão amplamente difundidos, agora defende a inclusão e, para tanto, cria documentos, políticas e leis que assumem um papel conceitual na sociedade, que visam a garantir direitos e igualdade de todos perante a lei.”169S U M Á R I Oconstructions that appear to have been associated with people with disabilities over time.” (MACIEL; SANTOS, 2008 apud MIRANDA, 2017, p. 106 – emphasis added, our translation).However, Miranda (2017) informs that although in this period there were school institutions that served people with special needs, they still had an exclusionary bias, since these individuals would be in schools living with other people with disabilities and with family mem-bers only, still staying quite excluded from social practices. The author also cites a last period, more specifically the current one, which is “the fourth and last phase of this history, which comprises the 21st century, people with disabilities are socially inserted in regular school institu-tions; a period in which they are born and become popular: the concept of inclusion. This notion will refer to people with special needs and their inclusion in school.” (ZAVAREZE, 2009, apud MIRANDA, 2017, p. 107 - our translation).At this moment, it not only seeks to develop educational practi-ces that are not homogenizing, but also to insert people with disabilities in all social practices: the sports, school, leisure, professional training, etc. People with specific needs are no longer hidden, they are seen, they live in society with everyone, however, the prejudice cultivated for ages is still present and must be fought. “There are segregationist perspectives that continue to reaffirm that some of these subjects are unable to remain in regular schools and that the best thing for them is to remain in specialized institutions, isolated from others.” (MENDES, 2006 apud MIRANDA, 2017, p. 108 – 109 - our translation).Thus, it must be concluded that in the 21st century we should no longer be discussing the inclusion of individuals with disabilities. Inclusion must be instituted as a form of radical, complete and systematic insertion, in which schools must propose to adapt their educational systems to the special needs of the clientele of pupils, all students, not restricted only to students with disa-bilities. Hence, according to Alves (2002), inclusive education 170S U M Á R I Opresupposes education for all, not only in terms of quantity, but also in terms of quality. Which means that students must appro-priate both the knowledge available in the world and the forms and possibilities of new productions for a creative insertion in the world.” (FARIAS et al., 2008, p. 366 - our translation)6According to the American Psychiatric Association [APA], 2013, “Autism is a condition characterized by markedly abnormal and impai-red development in social interactions, communication modalities, and behavior.” (apud GUEDES et TADA, 2015, p. 303 - our translation). Sin-ce it can manifest itself in different ways, degree and severity, it is not possible, ergo, to tax the symptoms, since they can be varied.Guedes and Tada (2015) state that the role of education is to “pro-mote human development.” (Vygotski, 2000 apud GUEDES et TADA, 2015, p. 303 – emphasis added, our translation). This being the objective of education, regardless of the subject and what he presents, education must play its role, helping individuals in their social, intellectual, motor development, etc. The authors Guedes and Tada (2015) suggest that, for knowledge to make sense in the individual’s life, it must have meaning and not be a mere instrument for transmitting content; rather, “through dialogic situations with cultural meaning, and not with a focus on disa-bility, it is possible for students with disabilities to appropriate school’s knowledge and humanize themselves.” (Vygotski, 1997, apud GUEDES et TADA, 2015, p. 303 –emphasis added, our translation). The analyzed studies indicate the predominance of the attempt to systematize the characteristics and causes of autism, differing from each other in several theoretical aspects. Thus and so, one 6 “Dessa forma, deve-se concluir que em pleno século XXI não deveríamos mais estar discu-tindo sobre a inclusão de indivíduos com deficiência. A inclusão deve ser instituída como uma forma de inserção radical, completa e sistemática, em que as escolas devem se propor a adequar seus sistemas educacionais as necessidades especiais da clientela de alunos, todos os alunos, não se restringido somente aos alunos com deficiência. Assim, de acordo com Alves (2002), uma educação inclusiva pressupõe a educação para todos, não só do ponto de vista da quantidade, mas também da qualidade. O que significa que os alunos devem se apropriar tanto dos conhecimentos disponíveis no mundo quanto das formas e das possibilidades de novas produções para uma inserção criativa no mundo.”171S U M Á R I Ocan consider the dialectic in which autism is immersed, which indicates, on the one hand, the advances in research on the subject and, on the other hand, how much this topic still needs to be studied. The absence of strong answers in relation to the causal factors, as well as the symptomatological amplitude that autism presents, is reflected in the attempts to systematize the clinical manifestations of autism.” (GUEDES et TADA, 2015, p. 307 - our translation7)Guedes and Tara (2015) show in their article that studies suggest for autistic individuals “psychopedagogical intervention based on playful mediation through interpersonal bonding.” (p. 306 - our trans-lation). The authors reinforce playing for the development of these stu-dents, as well as the stimulus to socialization. The authors report the lack of research on practices developed to assist this group; they could only find research on symptoms and medicalization.We need studies that focus not only on the symptomatology of autism and in the proposal of new interventions, but also studies that, considering the difficulties and potential of these people, launch proposals that can, above all, promote a true social in-clusion of autistic people, and, therefore, better quality of life for them. The divergences in this theoretical field do not constitute a theoretical-practical limit of this condition, but, considering its dialectical condition, it may represent a possibility of the existen-ce of different solutions for the different issues raised in the care and monitoring people with autism. Considering the limitations of this study, it is necessary to deepen the scientific scenario on 7 “Os estudos analisados indicam a predominância da tentativade sistematização das ca-racterísticas e causas do autismo, divergindo entre si em diversos aspectos teóricos. Desta forma, pode-se considerar a dialética na qual o autismo está imerso, o que indica, por um lado, os avanços das pesquisas sobre a temática e, por outro, o quanto este tema ainda deve ser estudado. A ausência de respostas contundentes em relação aos fatores causais, bem como a amplitude sintomatológica que o autismo apresenta, se reflete nas tentativas de se sistematizar as manifestações clínicas do autismo.”172S U M Á R I Oautism, as well as solidifying the national scientific production in this field.” (GUEDES et TADA, 2015, p. 308 - our translation).8Farias et al. (2008) emphasizes that the school’s role is not just to bring content to students, but to adapt to everyone’s needs, and that the teacher’s relationship with the student is of fundamental importance for the process of schooling happens significantly. And lesson planning should include autistic children according to their development. The authors suggest that “in young children, priorities should be speech, social interaction/language and education, among others, which can be considered important tools for promoting the inclusion of children with autism.” (FARIAS et al. 2008, p. 367 - our translation).METHODOLOGYFirst, a bibliographic research was made about the history of inclusive education, the history of people with disabilities and also about autism. Then, a case study is presented, the authors of the article school’s experience, in a private school, in Brazil, with an autistic child.Paiva (2021) presents the Case Study as a qualitative research methodology, since it does not matter the amount of data presented, but to investigate a particular case, within its spontaneous environment (in this case the school) and not developed for the research. Thereby, 8 “São necessários estudos que foquem não apenas a sintomatologia do autismo e que so-mente por meio dela sejam propostas intervenções, mas estudos que, considerando as dificuldades e as potencialidades dessas pessoas, lancem propostas que possam, antes de tudo, promover uma verdadeira inclusão social dos autistas e, portanto, maior qualidade de vida para eles. As divergências neste campo teórico não constituem um limite teórico--prático desta condição, mas, considerando sua condição dialética, pode representar uma possibilidade da existência de diferentes soluções para as diversas questões suscitadas no atendimento e acompanhamento de pessoas com autismo. Considerando as limitações deste estudo, é necessário maior aprofundamento no cenário científico sobre o autismo, bem como solidificação da produção científica nacional neste campo.”173S U M Á R I OA case study is an empirical investigation that examines a con-temporary phenomenon within its real-life context, especially when the boundaries between phenomenon and context are not clearly defined. Also, case study investigation faces a technically unique situation where there will be many more variables of inte-rest than data points and as a result relies on multiple sources of evidence, such as data needing to converge in a triangle shape, and, as another result, benefits from the prior development of theoretical prepositions to guide data collection and analysis. (YING, 2002, p. 32 apud PAIVA, 2021, p. 67 - our adaptations and our translation9)As a result of the introductory basis above, the methodological intervention activity that will be described below, was developed in a pri-vate school system in 2017, with a 6-year-old child from the 2nd period of kindergarten, in a class of 20 students and two teachers (one the lead teacher and the other one, the auxiliary teacher). In order to maintain the description, we will use the pseudonym Estrela 10 to nominate our student.THE PAINTED SPEECHEstrela had a diagnosis of severe autism, so we chose to do a sur-vey (bibliographic readings) that would encourage the inclusion of this child in our classroom. Estrela demonstrated ownership of the school’s space, security, knowledge, moving with intimacy in the school’s 9 “Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contem-porâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. E ainda, a investigação de estudo de caso enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dado e como resultado, baseia-se em várias fontes de evi-dências, como os dados precisando convergir em um formato de triângulo, e, como outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de preposições teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados.”10 We opt to maintain Estrela because the child is Brazilian. We chose this name because this child loved art activities and excelled in it. Art was natural for her. Estrela means Star; She was a Star, a little artist. 174S U M Á R I Oinfrastructure. She was extremely affectionate, she liked physical con-tact, she smiled a lot, and she was a playful kid. We observed that she preferred the adults to children; therefore, she was not integrated in the dynamics of her friends / classmates.Estrela knew her school’s group and where her classroom was, although, she didn’t seem to be appropriating the routine, she was al-ways aware to the classroom’s routine. She loved to play with dough, painting and playing with water. Her fine motor skills were refined, cente-red and with defined laterality. Our student’s love for ink was immense; we began to realize that she communicated through paintings. When we asked the class about the research carried out in the classroom about birds’ species, Estrela, in the end of the dialogical circle, took a paper and started to paint a bird.Painting became her speech, when she finished it; she painted fi-gures and images in the room with her “pee pee” and “poo poo” incon-tinence. As Estrela did not verbalize, there were a lot of urinary and fecal incontinence, even though we took her to the restroom every 20 minutes as a containment strategy. We began to suspect that Estrela was using the “pee pee” and “poo poo” to tell us when a certain situation did not please her. If she didn’t want to stay in the circle, or if she didn’t want to drink water, or if she didn’t want to stay in the classroom, she had urinary or fecal incontinence. When she was not happy with something she used fecal or urinary incontinence speech to communicate.We tried different mediations, so that, there would not be so many incontinences in the classroom; however, we felt the need to intensify the interventions, so Estrela could express her wishes in another way. The issues that led us to think about inclusive pedagogical intervention were: non-interaction with classmates, difficulties in verbalization, non--visual contact and non-control of the sphincters.175S U M Á R I OSeeking to refine Estrela’s motor coordination skills, we planned a pedagogical activity entitled “The Painted Speech”. Initially, we had to communicate with the school’s principal asking for support to spread the practice of the activity throughout the school. We understood that the activity would be more enriching if we could allow the expressive painting of Estrela, telling us her gaze on everything that surrounded her. Estrela demonstrated a lot of intimacy in the school’s areas.During the elaboration of the planning, we tried to organize dialo-gical circles in the school’s backyard; we put the idea of using paint to express our feelings to the classmates, so we would draw the personal desires filled with subjectivity. In order to work in the dialogical circle in a more spatial way, we used the school’s garden; we wanted to better include Estrela in the group, and in the backyard she was able to stay longer than inside the class.We believed that her connection with natu-re provided her with more serenity.After talking with the class’ students, we ended the activity’s de-velopment plan throughout the first semester of 2017, the school made painting kits available in the school’s areas: entrance, cafeteria, res-troom, hallway, backyard, classroom, art room, etc. We went out with the students reflecting on the importance of the school to us, what we liked about it, what we didn’t like about it. The children needed to paint their feelings and desires towards school.Surprisingly, Estrela gradually began to be included in the group’s movement; she always sat with her friends on the floor and painted in her own way the answers to the questions raised. Before the intervention activity, it was as if Estrela did not exist for her classmates, when starting the pedagogical mediation, they began to notice her and question the meaning of her drawings. Estrela didn’t verbalize, but with a smile at the corner of her mouth, she handed the drawings to her friends.176S U M Á R I OLater, Estrela reduced her incontinences, when she was irritated, she left the room to some place in the school and painted elements of nature: trees, flowers and birds. We were successful in developing her verbalization; she began to say words such as: house, living room, snack, backyard, names of her friends, name of the teachers, the paint’s colors. We were very emotional when Estrela made, at home, a sponta-neous painting directed to us (the teachers) and she took it to school. In the painting, she was in the middle and we, teachers, were one on her right side and the other one on her left side.As soon as we noticed the advances in verbalization, reduction of incontinences and inclusion in the class’ group, we carried out a survey of the group’s opinion. As it is assertive, we continued to use painting; we took three figures: sad face, a heart, and a happy face. We asked the children to paint how they experienced the six months of the project, the happy face represented contentment, the heart a lot of love, the sad face represented non-contentment. We got 15 hearts and 5 happy faces; again we were taken by surprise with Estrela’s heart.Next, we set up an exhibition of our feelings expressed on the school’s panel. The class’ group satisfaction in presenting to the families, at the end of the class was notorious; more satisfying was to witness Estrela’s friends lending their voices to explain their friend’s work and pro-cess. She always thanked them with a smile at the corner of her mouth.After the report presented above, we were left with a reflection of our educational practice. It is evident that the practice needs to be doused with flexibility, trying to understand that the inclusion process is based on the planning in the classes. Planning for a child who has seve-re autism is to understand what they carry with them. We need to have a unique look at the mechanisms that affect their lives. The teacher needs to assume the role of facilitator of the learning process, aiming to use their senses to capture the points to be worked on with the child with autism. Paulo Freire (1997) states that freedom of expression needs to 177S U M Á R I Obe one of the bases of the group, reflecting the events and relationships with the collective are enriching. When the student does not feel part of the learning process, he/she does not believe in that process.The realization of belonging is the appreciation of the social dy-namics experienced by students with autism and the group. Starting from the definition of autonomy, which is directing their lives by dis-cerning their paths. It can be contemplated that the student’s need to have the mediation of the educator in the acquisition of their personal autonomy, valuing the social dynamism abided by them.The student is a human being endowed with feelings and misun-derstandings; part of the knowledge exchange is for the teacher, the attempt to understand their students. Being an educator and changing ourselves in consequence of the profession, in consequence of oursel-ves, as a result of self-knowledge, for better days. Below we will conclude with a poem created after Estrela’s observations by one of her teachers.STARhope smile,frames strategies,In the quest to be everything you want.It does not conform to determine its being,don’t understand why we don’t understand...Casts glances at time without chronology,just look at the authenticity of being.Who receives the privilege of entering the ocean of your gaze,never forget the immensity of treasures of this ocean.Girl, playful, naughty, you’re a Star!By Lorraine Caroline Nicomedes178S U M Á R I OFINAL CONSIDERATIONSTherefore, the traditional and systematized configuration of tea-ching-learning only reinforces the exclusion of students, violating their intellectual and moral development potential and integral skills. The Psychologist Wallon (1992) says that children need to be evaluated with a broad and insightful view of their every day’s expressions. One cannot jump to conclusions from the reality momentarily observed in the school’s areas; it is essential to understand that the child’s psychic sensitivity in-volves their internalization of the facts around them in their entirety; there is no child without the social and neither the social without the child.The development for Wallon (1992) must be spontaneous, in other words, it is the one that gives the child the wisdom of himself/herself and the world. Everyone knows about themselves and their social participa-tion, and everybody is aware of everyone else and their importance. Wal-lon (1992) analyzes the basis of teaching is centered on the principle of observation and its possibilities. The observation needs to be judicious, taking into account the totality experienced by the subject who passes through the sieve of being observed. This totality is the entire historical process, social context, family environment, personal relationships, whi-ch determine the functioning of the subject’s psychic functions. Allowing constant exchange and socialization situations in the school’s environment is essential to instigate reflections and observa-tions of different realities; therefore, the group is able to experience the inclusive dynamics by getting rid of exclusion. Educators need to pay attention to their pedagogical approaches that views the individualism of students, understanding the importance of collective approaches of mutual exchanges that work to deconstruct exclusion.Paulo Freire (1997) clarifies that the teacher must instigate the participation, inquiries, and experience reports of his /her students. 179S U M Á R I OThus, the social context of his/her students, as a form of subject’s kno-wledge that goes through the teaching process. How can we unders-tand our students if we do not try to understand their perspectives and experiences in the world?The teacher’s strangeness to the student’s reality causes a muti-lation of teaching and learning, a reality that could be covered in a great wisdom of teaching practice. Closing the distance between teacher and student and making empathy reign within the academic relationship is to enable dialogue. For Paulo Freire (1997) it promotes teaching se-riousness and affectivity cannot be separated, to be a teacher is to want the well-being of the students, to be a teacher is to understand the moments of the students. However, docility must not interfere in the teaching-learning process, teaching must be ethical.In conclusion, educators must give the student the right to dream and love. Education cannot be pruned with false neo-liberal dominant ideologies; the reproduction of the teaching profession must be a free and safe reproduction of renovating concepts.REFERENCESFARIAS, I.M.; MARANHÃO, R. V. A.; CUNHA, A. C. B. Interaçãoprofessor-aluno com autismo no contexto da educação inclusiva: análise do padrão de mediação do professor com base na teoria da experiência de aprendizagem mediada. Análise do padrão de mediação do professor no processo de inclusão. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, Set.-Dez. 2008, v.14, n.3, p.365-384.FINO, C.N. O futuro da escola do passado. Disponível em> http://www3.uma.pt/carlosfino/publicacoes/21.pdf. Acessado em 21/01/2022.FURTADO, M. R. S. As armadilhas da educação inclusiva: um estudo de caso em uma escola da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte. Belo Horizonte, 2007.180S U M Á R I OFREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1997.GUEDES, N.P.S.; TADA, I.N.C. A Produção Científica Brasileira sobre Autismo na Psicologia e na Educação. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Jul-Set 2015, Vol. 31 n. 3, pp. 303-309. http://dx.doi.org/10.1590/0102-37722015032188303309.LA TAILLE, Y. ; OLIVEIRA, M. K.; PINTO, H. D. S. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. [S.l: s.n.], 1992.MENDES, E, G. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Rev. Bras. Educ. [online]; vol. 11, n. 33, p. 387-405, 2006.MIRANDA, F. D. Educação especial em uma perspectiva inclusiva: aspectos históricos. Revista Educação Especial em Debate | v. 2 | n. 04 | p. 104-114| jul./dez.2017 Disponível em: http://periodicos.ufes.br/REED/article/view/17822.NOGUEIRA, C. M.; História da deficiência: tecendo a história da assistência à criança deficiente no Brasil. Rio de Janeiro, Trabalho de Conclusão da Disciplina História da Assistênciaàa Infância no Brasil, apresentado ao Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Políticas Públicas e Formação Humana do Centro de Educação e Humanidades – Centro de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2008.PAIVA, V. L. M. O. Manual de pesquisa em estudos linguísticos. 1. ed. – São Paulo: Parábola, 2019. 160 p. ISBN: 978-85-7934-169-4.ZAVAREZE, T. E. A construção histórico-cultural da deficiência e as dificuldades atuais na promoção da inclusão, UFSC, Brasil; 2009. Disponível em: www.psicologia.com,pt, O portal dos psicólogos. Acesso em: 20 ago. 2017.Capítulo 9A Vocação de Ser Mais em Cinderela, dos Irmãos Grimm, e História Meio ao Contrário, de Ana Maria MachadoFrancisca Patrícia Pompeu BrasilDOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95538.99Francisca Patrícia Pompeu BrasilA VOCAÇÃO DE SER MAIS EM CINDERELA, DOS IRMÃOS GRIMM, E HISTÓRIA MEIO AO CONTRÁRIO, DE ANA MARIA MACHADO182S U M Á R I OResumo: Segundo observa Paulo Freire, o ser humano é um ser inconcluso e, por isso, vive em contínuo processo de evolução. A vocação de Ser Mais, citada pelo autor em Pedagogia do Oprimido, diz respeito à capacidade de reflexão e de ação que o ser humano tem diante da realidade. Pensando na função humanizadora da literatura, reconhecemos a necessidade de se traba-lhar textos literários a partir dos pilares da educação dialógica freiriana. Pro-pomos, em nossa pesquisa, uma abordagem de dois textos infantojuvenis: o conto de fadas canônico Cinderela, dos irmãos Grimm; e a obra História Meio ao Contrário, de Ana Maria Machado. Nosso objetivo é propor uma atividade que levante questionamentos e que trabalhe o protagonismo juvenil em sala de aula, destacando a forma como o valor liberdade e o seu respectivo antivalor opressão se apresentam nas obras selecionadas.Palavras-chave: Opressão; liberdade; resistência; educação dialógica. 183S U M Á R I OINTRODUÇÃOAntônio Cândido, em O Direito à Literatura, fala sobre a função humanizadora dos textos literários. Segundo ele, através da organiza-ção da forma, a obra literária consegue articular, na mente dos leitores, formas antes inarticuladas. Esse seria o primeiro nível humanizador: A produção literária tira as palavras do nada e as dispõe como todo articulado. Este é o primeiro nível humanizador, ao contrá-rio do que geralmente se pensa. A organização da palavra co-munica-se ao nosso espírito, e o leva, primeiro, a se organizar; em seguida, a organizar o mundo (CÂNDIDO, 2011, p. 177).De acordo com Cândido, ao humanizar-se, o homem se torna capaz de refletir sobre o seu papel no mundo, de se importar com o próximo, de penetrar nos problemas da vida e de perceber a complexi-dade do mundo e dos seres. Ao pensarmos na função humanizadora da literatura, podemos relacioná-la com o que o educador Paulo Freire chama de vocação do homem de ser mais. Em outras palavras, ser mais é ter capacidade de se libertar da opressão, através da reflexão e da ação. Segundo a Educação Libertadora freiriana, essa vocação é negada às classes oprimidas, as quais têm seu comportamento pros-crito pelos opressores e são impedidas de desenvolverem um olhar reflexivo sobre a realidade. Partindo dessas considerações, faremos, em nossa pesquisa, uma abordagem comparativa de duas obras da li-teratura infantojuvenil: História Meio ao Contrário, de Ana Maria Macha-do (1996); e Cinderela, dos irmãos Grimm (2002); apresentando, como ponto em comum, os temas da opressão e da busca por liberdade. Em nosso trabalho, consideramos as marcas de resistência como tema e como forma imanente ao texto. Para isso, fundamen-tamos nossa pesquisa na obra Narrativa e Resistência de Alfredo Bosi (2002). Também compartilhamos das propostas apresentadas pela educação dialógica freiriana, apresentadas na obra Pedagogia 184S U M Á R I Odo Oprimido (2005). Além dos textos citados, foram utilizados como fontes de pesquisa: Leitura Literária e Ensino: Trouxeste a Chave?, en-trevista concedida pela professora Márcia Marques de Morais (2020); O Direito à Literatura, de Antônio Cândido (2011); Literatura para quê?, de Antoine Compagnon (2009); e A Psicanálise dos Contos de Fadas, de Bruno Bettelheim (2005).Nosso objetivo é mostrar como a resistência se faz presente tanto no tema como na forma de narrar dos textos selecionados. Forma essa que possibilita ao jovem leitor desenvolver novas perspectivas em relação ao seu papel no mundo. Na última parte de nossa pesquisa, apresentamos uma proposta de abordagem dessas obras em sala de aula, direcionada a alunos do 9º ano do Ensino Fundamental II.CONSIDERAÇÕES SOBRE A FUNÇÃO TERAPÊUTICA DA LITERATURA EM HISTÓRIA MEIO AO CONTRÁRIOEm seu texto Literatura Para Quê, Antoine Compagnon (2009) fala sobre a importância das obras literárias para a formação humana e afirma ter a literatura um caráter único e insubstituível, uma vez que é capaz de proporcionar ao leitor experiências e vivências que outras for-mas de arte não conseguiriam. Mesmo diante das concorrências surgi-das na modernidade, devido ao excesso de informações e surgimento de novas mídias, o texto literário consegue permanecer como um meio insubstituível de conscientização e humanização. Dessa forma, segun-do o autor, é necessário revitalizar o trabalho com as obras literárias, recuperando-as do desgaste sofrido. A fim de mostrar a importância da literatura para a formação humana, Compagnon aponta os quatro para quês, ou finalidades, da literatura.185S U M Á R I OA primeira finalidade refere-se à instrução. A literatura tem o po-der de purificar através da expurgação, da catarse. Compagnon (2009) observa que essa instrução se dá através da imitação, que é consi-derada como uma forma muito eficaz de ensinar: “É graças à mime-ses – traduzida hoje por representação ou por ficção, de preferência a imitação – que o homem aprende, ou seja, por intermédio da literatura entendida por ficção” (COMPAGNON, 2009, p. 31). As vivências dos personagens, ou os sentimentos do eu-lírico, possibilitam ao leitor uma maior proximidade com as situações apresentadas, levando-o a reco-nhecer-se como um ser no mundo e, consequentemente, a assumir outras perspectivas em relação à sua vida e à comunidade na qual está inserido. Resumindo: os textos literários são capazes de tornar o ser humano melhor.A segunda finalidade, segundo o autor, é a terapêutica. O con-tato com o texto literário funcionaria assim como um remédio para o homem, libertando-o da opressão, proporcionando-lhe o desenvolvi-mento de um olhar mais crítico da realidade: Uma segunda definição do poder da literatura, Surgida com o Século das Luzes e aprofundada pelo Romantismo, faz dela não mais um meio de instruir deleitando, mas um remédio. Ela liberta o indivíduo de sua sujeição às autoridades, pensavam os filósofos; ela o cura, em particular, do obscurantismo religioso (COMPAGNON, 2009, p. 33).O termo terapêutica indica que a literatura é capaz de curar o leitor da cegueira causada pela ignorância, uma vez que pode libertá-lo da opressão e torná-lo um ser livre e pensante.O terceiro poder – termo usado pelo autor para se referir aos para quês da literatura – diz respeito à revitalização da linguagem. Se as palavras contaminadas pelos usos cotidianos não dão conta de ex-pressar todos os desejos, sentimentos e emoções do ser humano, cabe à linguagem poética suprir essa necessidade, pois “só ela tem 186S U M Á R I Oa condição de exprimir o contínuo, o impulso e a duração, ou seja, de sugerir a vida” (COMPAGNON, 2009, p. 37).O lúdico também se faz presente na abordagem literária, sendo esse o quarto e último poder da literatura: a distração. Daremos aqui maior destaque à função terapêutica e à maneira como ela se apresenta no texto de Ana Maria Machado. Isso porque nosso interesse é apresentar a forma como essa obra trabalha com o tema da opressão, e como consegue contestar, de maneira singular, a submissão ao poder.Publicada em 1978, História Meio ao Contrário conta a história de um rei que, sem conhecer o seu povo, vê-se surpreendido por um grande problema: um dragão que engolia o dia. O rei, então, se dispõe a descobrir a causa desse grande mistério e entende que, para conse-guir isso, será necessário ouvir o que o seu povo tem a dizer. O texto criativo de Ana Maria Machado traz como personagens representantes das classes populares: o Camponês, o Ferreiro, a Pastora, a Tecelã, os quais, diante da complicada situação, precisam se mobilizar para defender o dragão e para resistir ao poder opressor do rei. Como já se sabe, a ideia de que o conhecimento liberta, pois ilumina as mentes obscurecidas pelo não saber, serviu de base para o Iluminismo – ideologia dominante na Europa durante os séculos XVII e XVIII. Enaltecer a razão e exercitar a capacidade de reflexão eram pontos básicos desse movimento. Daí podermos identificar a luz como símbolo de cura, de conhecimento e de libertação; e a escuridão, ou trevas, como símbolo de ignorância e obscurecimento da razão.A cegueira como símbolo da ignorância e a luz como símbolo de conhecimento estão presentes na obra História Meio ao Contrário. Observa-se isso no conflito que desencadeia a trama, que se inicia quando o rei se dá conta de que o dragão (noite) engole o dia:187S U M Á R I O- Hoje fiquei contemplando o sol e a tarde – que estavam real-mente lindos, por sinal – e justamente no momento de maior beleza, quando mais intenso era o colorido do céu e mais bri-lhantes estavam as nuvens, o dia foi desaparecendo e não con-segui ver que o roubou. Exijo que o culpado seja punido! Onde já se viu? Roubar minha real luz bem nas minhas reais barbas? (MACHADO, 1996, p. 14).O que mais chama a atenção nessa passagem é o absurdo des-conhecimento do rei sobre algo tão rotineiro. A explicação apresentada é ainda mais absurda: o rei, a rainha e a princesa, para serem felizes para sempre, precisaram se enclausurar no castelo, evitando assim qualquer contato com os problemas do mundo real. Ao perguntar ao primeiro-ministro por que não havia sido informado sobre tal aconteci-mento, o rei recebe a seguinte resposta:– É que Vossa Majestade é um homem feliz para sempre e ninguém quis incomodá-lo com essas coisas. Afinal de contas, para que aborrecer Vossa Majestade? Devido à hora do real ba-nho e do real jantar, Vossa Majestade e a real família sempre es-tavam dentro do castelo quando isso acontecia. Com todas as luzes acesas, nunca repararam que estava escuro lá fora. Com todos os reais músicos tocando, nunca sentiram a mudança do canto dos pássaros pelo dos grilos (MACHADO, 1996, p. 15).Aqui vale fazer algumas observações. A primeira é sobre o curio-so fato de, por estar cercada de luzes artificiais, a família real ignorar a escuridão que há fora do castelo. Se pensarmos na escuridão como os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo povo, podemos iden-tificar uma relação direta da cegueira da família com o distanciamento social entre ricos e pobres. O distanciamento social é também sim-bolizado pela posição em que o rei se encontra: no alto das muralhas do castelo. Ou seja, um distanciamento espacial que simboliza o dis-tanciamento social entre o rei e os seus súditos: “Um belo dia, o Rei estava tranquilamente passeando pelo alto das muralhas do castelo, contemplando lá embaixo a aldeia e os campos dos seus súditos, pen-sando: – Que lindo dia!” (MACHADO, 1996, p. 8).188S U M Á R I OOutra questão interessante é o uso polissêmico da palavra real. Vemos, em diversos momentos da história, esse jogo entre os dois sentidos da palavra: real referindo-se à realeza; e real referindo-se à realidade. Uma família real que nada sabe sobre a realidade de seu rei-no é algo que causa uma certa estranheza ao leitor. O que se observa é que o uso polissêmico da palavra é responsável pela construção da ironia em diversos momentos do texto:O emprego desse adjetivo é profundamente irônico. Se, por um lado o item real tem ligações semânticas e morfológicas com o item ‘rei’, por outro, também as tem com ‘realidade’. A ironia está exatamente aí, no emprego de um item lexical que pode ser interpretado de duas maneiras distintas com efeitos completa-mente diferentes. O rei só é real, no que o adjetivo está ligado à palavra rei. No que está ligado à realidade, Ana Maria Machado não poderia ter encontrado um adjetivo mais apropriado para ironizá-lo, pois é a falta de contato com a realidade que carac-teriza esse rei (CUNHA, S.d., p. 443).Podemos entender que a obra em questão já aponta para a função terapêutica da literatura, uma vez que a voz narrativa apresenta a opressão através de símbolos - um dragão que engole o dia, um rei que passeia no alto das muralhas de seu castelo e uma família real totalmente alienada em relação à situação do seu povo. O uso de uma linguagem simbólica para representar a cegueira dos governantes e o trabalho criativo com a polissemia para a construção da ironia e do humor no texto nos levam a pensar no que diz Cândido sobre a ca-pacidade que os textos literários têm de expressarem, de uma forma singular, mensagens de cunho social, religioso e político, tornando-as assim mais significativas e humanizadoras: “De fato sabemos que em literatura uma mensagem ética, política, religiosa ou mais geralmente social só tem eficiência quando reduzida a estrutura literária, a forma ordenadora” (CÂNDIDO, 2011, p. 181).No texto de Ana Maria Machado, os representantes do povo tam-bém vivem no obscurantismo causado pela ignorância e, em certo mo-mento, conscientizam-se de que precisam se libertar. Ao refletirem sobre 189S U M Á R I Oos benefícios que o dragão (noite) traz para a aldeia, unem-se e decidem que é hora de despertar o gigante adormecido (no caso, uma imagem simbólica do Brasil) para auxiliá-los na luta contra as forças opressoras: Por isso foram. Naquela tarde, a aldeia ficou deserta. Todo mun-do saiu das oficinas e das plantações. Foram todos para os montes. E foi até divertido, um passeio bonito pelos risonhos lindos campos cheios de flores e pelos bosques cheios de vida. Todo mundo conversando e cantando. Quando chegaram em-baixo dos montes, já eram as costas do Gigante deitado (MA-CHADO, 1996, p. 27).No fragmento apresentado, a referência201Geraldo de Andrade FagundesCapítulo 11A cultura do Carimbó na literatura digital e a formação de novos leitores. Realidade ou utopia? ..................................................................... 224Leika Cristiane Ribeiro da CostaKátia Regina de Souza da SilvaIvanéia Corrêa da SilvaCapítulo 12A educação e suas formas híbridas na perspectiva dos multiletramentos: em busca da autonomia dos sujeitos e sua formação para a humanização............................................. 240Aurélio Takao Vieira KuboCláudia Leão de Carvalho CostaIone Aparecida Neto RodriguesLiliana Souza da Silva SilveiraMaria Fernanda Lacerda de OliveiraRafael Vicente FerreiraCapítulo 13Interfaces entre formação humana e educação escolar, e o enfrentamento das desigualdades no Brasil ....................................................... 268Paulo Henrique CavalcantiSobre os organizadores .............................................................. 285Sobre os autores e as autoras .................................................... 286Índice remissivo ........................................................................... 294Capítulo 1O Estado da Arte nas pesquisas em Educação: um panorama dos artigos científicosGiovanna Ofretorio de Oliveira Martin-FranchiSilmar José Spinardi FranchiDOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95538.11Giovanna Ofretorio de Oliveira Martin-FranchiSilmar José Spinardi FranchiO ESTADO DA ARTE NAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO: um panorama dos artigos científicos18S U M Á R I OResumo: Este estudo versa sobre a análise de artigos científicos que valeram-se do Estado da Arte como metodologia de tratamento dos dados. A pesquisa de cunho qualitativo, do tipo estado do conhecimento analisou 61 artigos científicos que além de utilizarem o Estado da Arte como metodologia, indicaram o termo no título do artigo científico. Compreende-se que o termo Estado da Arte foi indi-cado como tema, por estar presente no título dos artigos científicos, bem como aporte teórico-metodológico dos estudos. A análise dos dados indicou dez eixos temáticos abordados por meio da metodologia indicada, com ênfase no eixo temático Educação, que apresentou ainda 15 categorias temáticas. A análise apresentou ainda o uso inexpressivo de aporte teórico específico sobre Estado da Arte, o uso do termo Estado da Arte como adjetivação da pesquisa, sem que haja a definição do método, e a relevância de dois estudos como aporte teórico.Palavras-chave: Educação; Estado da Arte; Panorama de artigos científicos; Produções científicas.19S U M Á R I OINTRODUÇÃOEste artigo se propõe a discutir as questões relacionadas às pesquisas na área da Educação, que utilizam a abordagem do Estado da Arte como metodologia de coleta e análise dos dados. O objetivo versou em tecer além do panorama das pesquisas e produções cien-tíficas que se valeram do Estado da Arte para desenvolver seu percur-so teórico-metodológico, compreender os principais aportes teóricos usados para a discussão no contexto do Estado da Arte, bem como as principais temáticas abordadas. Para tal, esta pesquisa de cunho qualitativo (BOGDAN; BI-CKLEN, 1997), apresentou aporte teórico da análise de conteúdo, es-pecificamente a análise temática em Bardin (2011) e Franco (2003), a análise documental em Cellard (2008), a teorização sobre o Estado da Arte em Romanowski (2002), Romanowski e Ens (2006), Ferreira (2002) ente outros. O estudo busca ainda corroborar para ao desenvolvi-mento da área da Metodologia da Pesquisa Científica em Educação, com o intuito de fomentar a discussão sobre as tessituras referentes as pesquisas denominadas Estado da Arte.O termo Estado da Arte teve origem na literatura científica ame-ricana (BRANDÃO et al., 1986) e aos poucos foi conquistado espaço na comunidade científica brasileira como metodologia de tratamento e análise de dados. Silva et al. (2020) consideram que o Estado da Arte como modalidade de revisão bibliográfica permite desenvolver um diá-logo com os demais pesquisadores de áreas afins, proporcionar uma riqueza de dados produzidas na própria área de pesquisa, além de re-sultar em um acervo amplo de diferentes tipos de pesquisas, que apre-sentam ênfases, aprofundamento e inúmeros registros. Porém, é preciso atentar-se para produzir por meio do Estado da Arte não apenas uma coletânea de referências bibliográficas, mas produzir discussões e aná-lises de maneira a propiciar, segundo indica Sposito (2009), um diálogo horizontal entre os pesquisadores que dissertam sobre o mesmo tema.20S U M Á R I OO uso desta metodologia de tratamento e análise dos dados é considerada recente no Brasil e assim como Silva et al. (2020) com-preendemos que seu uso é considerado importante e defendido por diversos pesquisadores, pois esta metodologia auxilia no acompanha-mento das mudanças nas ciências, além de demarcar vários elemen-tos e aspectos que compõem o conhecimento científico.Neste sentido, o estudo em questão foi desenvolvido em quatro seções. A primeira seção intitulada “O Estado da Arte como metodolo-gia de pesquisa” elucida as teorizações sobre a metodologia abordada a partir dos referenciais teóricos adotados. A segunda seção intitulada “A relevância em estudar os temas nas produções científicas” indica a relevância de se pesquisar os temas abordados nas produções cien-tíficas como meio de ampliação e conhecimento da área estudada. A terceira seção “Percurso metodológico e análise dos dados” apresenta o percurso de coleta, tratamento e análise dos dados, indicando os principais resultados e contribuições da pesquisa. A quarte e última se-ção intitulada “Considerações finais” elucida por meio dos resultados da pesquisa os avanços, lacunas e possibilidades frente ao Estado da Arte como metodologia de pesquisa na área da Educação. O ESTADO DA ARTE COMO METODOLOGIA DE PESQUISAO presente estudo caracteriza-se como um estado do conheci-mento do tipo revisão integrativa ou estudo integrativo. Possui caráter bibliográfico, pois os dados coletados e analisados foram produções científicas em formato de artigo científico divulgados em periódicos científicos online. 21S U M Á R I OAs pesquisas bibliográficas em Severino (2007, p. 122) são definidas como pesquisas realizadas “a partir de um registro disponí-vel, decorrentes de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc.” e partem de “dados ou categorias teó-ricas já trabalhados por outros pesquisadores”, desse modo, são pes-quisas também de caráter bibliográfico, porque partem de produções científicas já existentes.Em Ferreira (2002, p. 257-258), são pesquisas que “parecem trazer em comum o desafio de mapear e de discutir certa produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento”, buscando “responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares” e “de que formas e em que condições têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos e comunicações em anais de congressos e de seminários”.Este estudo de cunho integrativo consistiu em compreender o fenômeno analisado de maneira completa, podendo ainda enfatizar determinado elemento presente nas produções científicas analisadas como os tipos de metodologia e os problemas relacionados à área de pesquisa, os conceitos presentes em estudos da área, revisitar teo-rias e evidências teóricas, ou, mesmo, identificar um tipo específico de tópico ou assunto. A revisão integrativa acaba por ser uma metodologia relevante para o mapeamento e conhecimento temático, pois auxilia na iden-tificação, análise e síntese dos resultados de determinada produção científica em determinada área do saber (SOUZA et al., 2020). Este tipo de metodologia é usualmente empregado em pesquisas da área da Saúde, na área da Enfermagem. São consideradas integrativas porqueà letra do hino nacional deixa ainda mais evidentes o engajamento político e a consciência crí-tica de uma obra publicada nos anos 70 – período da ditadura militar no Brasil. Essa ideia de união do povo contra as classes dominantes e o símbolo do gigante adormecido que precisa despertar são muito condizentes com o que diz Paulo Freire sobre a vocação de ser mais: O que temos que fazer, na verdade, é propor ao povo, através de certas contradições básicas, sua situação existencial, con-creta, presente, como problema que, por sua vez, o desafia e, assim, lhe exige resposta, não só no nível intelectual, mas no nível da ação (FREIRE, 2005, p. 100).MARCAS DE RESISTÊNCIA EM CINDERELA E HISTÓRIA MEIO AO CONTRÁRIONo subcapítulo intitulado Narrativa e Resistência, de sua obra Li-teratura e Resistência, Alfredo Bosi (2002) esclarece que resistência é, originalmente, um conceito ético. Tal conceito se relaciona diretamente à força de vontade, ou seja: a oposição que se faz a uma força exter-na, sendo essa força o que leva o indivíduo a não sucumbir diante das 190S U M Á R I Opressões. Em seguida, o autor afirma que resistência, sendo um con-ceito ético, não deve, a priori, relacionar-se à estética, uma vez que esta se origina de potências de conhecimento, que seriam: a intuição, a imaginação, a percepção e a memória. A partir dessas considerações, pode-se concluir que resistência e estética não deveriam interagir, já que apresentam naturezas distintas. Mas é nesse ponto que Bosi faz uma interessante revelação: na prática, esses conceitos apresentam, sim, estreitas relações. O autor afirma que a ideia de resistência se conjuga à narrativa a partir de duas formas de realização: como tema e como um processo inerente à escrita. Bosi observa que o homem de ação, político ou educador, bus-ca interferir culturalmente no meio em que está inserido, só conse-guindo agir a partir dos valores cultivados em seu entorno social. Para se entender o que são esses valores, é necessário identificar os seus opositores, ou seja, os antivalores. Entender essa relação binária leva a uma melhor compreensão da ação cultural do homem sobre a so-ciedade. Alguns exemplos citados pelo autor: o antivalor da coragem é a covardia; da sinceridade, a hipocrisia, da fidelidade, a traição, etc.O artista, diferente do político ou do educador, capta tais valo-res e consegue apresentá-los em suas obras de forma singular: “Os poetas os captam e os exprimem mediante imagens, figuras, timbres de vozes, gestos, formas portadoras de sentimentos que experimen-tamos em nós ou pressentimos no outro” (BOSI, 2002, p. 120). Inte-ressante destacar que as potencialidades da linguagem expressiva da literatura é o que torna essa forma de expressão artística diferenciada em relação aos textos de caráter informativo. Resumindo: enquanto o homem de ação limita-se ao trabalho com a realidade, o escritor tem seu campo de atuação bem mais estendido, pois “a escrita trabalha não só com a memória das coisas realmente acontecidas, mas com todo o reino do possível e do imaginável” (BOSI, 2002, p. 121). Bosi observa que os valores apresentados e defendidos por escritores e 191S U M Á R I Omilitantes, muitas vezes, são os mesmos, o que irá distingui-los será a forma como irão expressá-los. A partir dessas observações, faremos algumas considerações sobre como o valor liberdade e seu respectivo antivalor opressão são apresentados nas obras Cinderela, dos irmãos Grimm, e em História Meio ao Contrário, de Ana Maria Machado.De início, ao falarmos sobre contos de fadas canônicos, é inte-ressante destacar que se trata de textos que apresentam uma lingua-gem muito simbólica e indiscutíveis qualidades literárias. Vimos que, segundo Bosi (2002), o que diferencia os textos artísticos daqueles de caráter mais informativo é o cuidadoso trabalho formal do artista. Segundo ele, isso faz com que, mesmo tratando dos mesmos temas, a recepção de tais textos se dê de maneiras bem distintas. Bruno Bet-telheim destaca esse diferencial nos contos de fadas ao afirmar que: O prazer que experimentamos quando nos permitimos ser sus-cetíveis a um conto de fadas, o encantamento que sentimos não vêm do significado psicológico de um conto (embora isso con-tribua para tal) mas das suas qualidades literárias – o próprio conto como uma obra de arte. O conto de fadas não poderia ter seu impacto psicológico sobre as crianças se não fosse primei-ro e antes de tudo uma obra de arte (BETTELHEIM, 2005, p. 20).Um dos contos infantis mais populares é, sem dúvida, Cindere-la. A história da jovem órfã, subjugada pela madrasta má e por suas irmãs invejosas, desperta há tempos o interesse e a admiração dos leitores. No conto, o tema da opressão fica bem evidente, uma vez que os maus-tratos que a personagem sofre são parte importante do enredo. Humilhada, injustiçada, tendo que executar os trabalhos mais sujos e, mesmo esforçando-se para fazê-los bem, não tendo nenhum tipo de reconhecimento, Cinderela representa as classes oprimidas, desumanizadas; já a madrasta e as irmãs assumem as características das classes opressoras: “‘O que é que essa imprestável está fazendo 192S U M Á R I Ono salão?’, diziam elas, ‘quem quiser comer pão primeiro terá que ga-nhá-lo; já para a cozinha, criada’” (GRIMM, 2002, p. 159). Ao falar sobre a relação de desigualdade e injustiça entre clas-ses, Paulo Freire cita a violência dos opressores como a causa da con-dição do ser menos – condição desumanizadora que tolhe a vocação de evolução das classes oprimidas:Os oprimidos, contudo, acomodados e adaptados, “imersos” na própria engrenagem da estrutura dominadora, temem a liberda-de, enquanto não se sentem capazes de correr o risco de assumi--la. E a temem, também, na medida em que lutar por ela significa uma ameaça, não só aos que a usam para oprimir, como seus “proprietários” exclusivos, mas aos companheiros oprimidos, que se assustam com maiores repressões (FREIRE, 2005, p. 38).Mas Cinderela, como um ser oprimido que é, precisa conscien-tizar-se dessa opressão e lutar para se libertar. Daí a necessidade de agir, resistindo às forças opressoras que tolhem a sua vocação de ser mais. Para Paulo Freire, ser mais é uma vocação do ser humano, o qual, por ser inconcluso, está sempre em transformação. No conto dos Grimm, o amadurecimento da personagem vai ocorrendo ao longo da história. Nesse ponto, é interessante destacar algumas ações de Cin-derela, as quais mostram sua resistência à opressão vivida: • Pedir ao pai que lhe traga o primeiro ramo que tocar em seu chapéu. Ramo que levará ao túmulo da mãe e ali o plantará;• Implorar à madrasta que a deixe ir ao baile;• Cumprir, com a ajuda dos pássaros, as difíceis tarefas impostas pela madrasta;• Ir escondida ao baile, por três noites seguidas;• Abandonar o baile e esconder-se do príncipe;193S U M Á R I O• Apresentar-se maltrapilha diante do príncipe, o que faz com que ele decida ficar com ela não apenas por sua aparência, mas por sua beleza interior;• Calçar, ela mesma, o sapatinho, para provar ao príncipe ser a verdadeira dona.Entre essas ações, destacamos, como uma das mais importan-tes etapas do seu amadurecimento, o cumprimento das provas impos-tas pela madrasta. Na versão de Grimm, a madrasta de Cinderela, a fim de evitar que a moça vá ao baile, ordena-lhe que cate as ervilhas que estão entre as cinzas e por isso lhe diz: “Vou atirar essa baciada de ervilhas no monte de cinzas, e se tiveres catado todas em duas horas, poderás ir à festa também” (GRIMM, 2002, p. 160).Bettelheim (2005), ao falar sobre a tarefa imposta à Cinderela, apresenta como significado mais profundo a capacidade necessária à personagem de separar aquilo que é bom daquilo que é ruim, e a de valorizar as tarefas que, muitas vezes, possam parecer insignificantes. Segundo o autor, a tarefa exigida a Borralheira parece sem sentido. Ele afirma o seguinte:Por que esparramar lentilhas entre as cinzas, só para serem ca-tadas novamente? A madrasta está convencida de que isto é impossível, degradante, sem significado. Mas Borralheira sabe que é possível conseguir algo de bom de qualquer coisa se lhe atribuirmos significado, mesmo que seja remexer em cinzas (BETTELHEIM, 2005, p. 301). Dessa forma, podemos constatar que Cinderela, ao cumprir essa tarefa, mostra ser capaz de dar valor às coisas mais simples e que tam-bém tem o dom do discernimento, pois sabe separar o que é bom daqui-lo que é mal. Como vimos, a personagem não se acomoda à situação, pois busca ser mais, refletindo e agindo sobre sua realidade.194S U M Á R I OEm História Meio ao Contrário, a personagem Pastora, assim como Cinderela, é um exemplo de resistência, pois, mesmo vivendo em uma situação subalternizante, não se deixa subjugar. Essa personagem tem um papel muito importante na narrativa, pois é quem esclarece o povo sobre a necessidade de agir para libertar-se da opressão. A voz narrativa explica que o deslocamento espacial imposto pelo trabalho da Pastora dá à personagem a possibilidade de conhecer outros lugares, de ter novas perspectivas e um olhar mais crítico da realidade. Podemos relacionar esse deslocamento da personagem com a função humaniza-dora da leitura, pois ambos ampliam os conhecimentos e possibilitam maiores reflexões sobre questões relacionadas à opressão. A Pastora é quem fala sobre o Gigante Adormecido e sugere que o povo vá acordá-lo para buscar auxílio: “Mas a Pastora, que às vezes ia com seus rebanhos para mais longe da aldeia e conhecia bem as terras em volta, teve uma ideia: – Lá nos montes mora um Gigante. Ele bem que podia nos ajudar” (MACHADO, 1996, p. 26). Diante da acomodação do povo, que tem medo de agir, ela insiste:A Pastora, porém, não desistia. Era uma moça muito decidida e não gostava de largar pelo meio as coisas que queria fazer. Nem desistia de uma boa ideia só porque a situação estava meio preta. – É, mas talvez ele nem precise se levantar (MACHADO, 1996, p. 26).Além de influenciar positivamente o povo, o comportamento da personagem também é essencial para que a Princesa se cure da cegueira e decida evoluir, ser mais: “A Princesa olhava para a Pastora, via como era bonita aquela moça de olhar firme e cabeça levantada, e insistia: – Nada disso. Minha história quem faz sou eu. Posso até casar com esse Príncipe. Mas só se ele e eu quisermos muito” (MACHADO, 1996, p. 38).Daí podermos concluir que, tanto no conto dos Grimm como na obra de Ana Maria Machado, é possível identificar marcas de resistência. 195S U M Á R I OCinderela e a Pastora são duas personagens que resistem às forças opressoras e, através da reflexão, agem para superar a contradição opressores-oprimidos: “A libertação, por isto, é um parto. E um parto doloroso. O homem que nasce deste parto é um homem novo que só é viável na e pela superação da contradição opressores-oprimidos, que é a libertação de todos” (FREIRE, 2005, p. 38).UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM DIALÓGICA DAS OBRAS CINDERELA E HISTÓRIA MEIO AO CONTRÁRIOA educação dialógica de Paulo Freire apresenta cinco pilares: amor, humildade, fé nos homens, esperança e pensar crítico. O educa-dor destaca, em Pedagogia do Oprimido, as contradições entre a edu-cação bancária, a qual busca manter as consciências imersas em uma situação opressora e desumanizadora; e a educação problematizadora, “enquanto um quefazer humanista e libertador” (FREIRE, 2005, p. 86). É importante que o professor, como mediador de conhecimen-tos, leve seu aluno a: refletir sobre o objeto de conhecimento, pensar sobre a realidade em que está inserido, acreditar em seu poder de transformar-se e de agir sobre a realidade. São essas ações que fun-damentam a educação dialógica freiriana:O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a liber-tação dos homens não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica que é a humani-zação em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo (FREIRE, 2005, p. 77).196S U M Á R I OFizemos, em nosso trabalho, uma breve análise de dois textos que trazem ricas possibilidades de abordagens em sala de aula, uma vez que possibilitam uma reflexão do aluno sobre o seu papel no mun-do e sobre sua capacidade de ação social. Nossa proposta busca trabalhar o protagonismo do estudante, e é direcionada a alunos do 9º ano do Ensino Fundamental II. Faremos uma rápida exposição de sugestões que podem auxiliar o professor em seu trabalho com essas obras. Utilizaremos como fundamentos de nossos estudos o texto já citado de Paulo Freire e a entrevista concedida pela professora Márcia Marques de Morais (2020), na qual apresenta importantes sugestões sobre a abordagem de textos literários em sala de aula. Propomos ao professor que divida seu trabalho em quatro eta-pas: ativação de conhecimentos prévios; leitura calma e miúda das obras selecionadas; levantamento de ideias e construção de conceitos a partir da técnica de maiêutica; sistematização de conhecimentos.De início, para ativar os conhecimentos prévios de seus alunos, o professor pode propor questionamentos sobre a estrutura dos con-tos de fadas canônicos. Ex.: Vocês conhecem algum conto de fadas? Qual(is)? Que características apresentam? Como são narrados? De qual vocês mais gostam? Por quê? Etc.Em um segundo momento, seria interessante reservar um tem-po para a leitura das duas obras selecionadas. Em entrevista conce-dida aos professores Clézio Roberto Gonçalves e Vera Lopes, para a revista Scripta, a Profa. Dra. Márcia Marques de Morais aborda inte-ressantes questões relacionadas ao ensino da literatura. Dentre elas, a necessidade de se fazer uma leitura calma e miúda dos textos lite-rários. Refutando as leituras superficiais e ligeiras feitas pelos leitores contemporâneos, Morais cita a slow reading como sendo a forma ideal de se aproximar do texto literário, uma vez que essa técnica possibilita uma maior intimidade com a obra: 197S U M Á R I OA slow reading, aponta, como diz a própria expressão inglesa, para um tempo maior entre o estímulo do texto e a resposta analítico-interpretativa do leitor, resultando em exercício funda-mental da reflexão, do levantamento das direções de sentido, de sua seleção (MORAIS, 2020, p. 365).Outro aspecto importante citado pela professora é a leitura com. A partir das considerações apontadas, orientamos aos professores que reservem um tempo adequado e suficiente para que seus alunos façam as leituras e, em seguida, sugerimos que proponha uma leitura coletiva das obras. Nesse momento, já se pode levantar alguns questionamen-tos que levem os alunos a observações e reflexões sobre as leituras.Na terceira etapa, a proposta é que se forme um grande círculo para uma Roda de Conversa. O professor, nessa etapa do processo, deve adotar a posição de mediador, colocando questionamentos, ins-tigando reflexões, motivando a participação. A professora Márcia, na entrevista já citada, orienta que, para que haja uma leitura significativa, adote-se o método da maiêutica socrática:A boa “pegada” é que, tão logo tais estudantes vivenciam o processo dessa leitura “com”/conjunta, mediada, sem pressa, parturejada com o nascimento dos significados intuitivos e valo-rizados no processo pedagógico (a velha maiêutica socrática), entusiasmam-se, surpreendem-se com significados e sentidos e, mais, ainda, vibram consigo mesmos a parturejá-los, dese-jando continuar lendo e sendo desafiados pelo texto, para dele emergirem transformados subjetivamente e em relação à visão de mundo (MORAIS, 2020, p. 369).Interessante destacar que esse método de colocar questiona-mentos que levem o aluno a refletir e a chegar por si próprio a conclu-sões é similar à dialógicafreiriana. Propomos questões que: apontem para a transformação, ou amadurecimento, das personagens no de-correr de suas histórias; levem o aluno a observar a estrutura de cada texto; façam com que reflitam sobre a linguagem utilizada e seus recur-sos; identifiquem a(s) mensagem(ns) transmitida(s). Ex.: Como você 198S U M Á R I Ocaracterizaria as personagens no início da história? E no final? Houve mudanças? Como se inicia o conto de Cinderela? E a História Meio ao Contrário, de que forma começa? O que você citaria como cau-sas dessas alterações no modo de narrar? Como você caracterizaria a linguagem utilizada em cada texto? Cite exemplos que comprovem as inovações adotadas no texto contemporâneo. Na sua opinião, qual mensagem cada obra transmitiu? Etc.Há muitos questionamentos a serem colocados e, com certeza, muitas contribuições relevantes a serem selecionadas. Para finalizar o trabalho de abordagem dos textos, é importante que o professor faça uma sistematização do que foi levantado pelos alunos: anote no quadro, comente e mostre, a partir dos conhecimentos construídos coletivamente, que uma mensagem muito importante de cada obra é o poder de transformação que seus personagens apresentam: refle-tindo, agindo, desconstruindo preconceitos e construindo novas pers-pectivas, ou ainda, nas palavras de Paulo Freire: reconhecendo sua vocação de ser mais.CONCLUSÃOEm nosso trabalho, fizemos uma breve abordagem de duas obras infantojuvenis que possibilitam ao professor trabalhar, em sala de aula, com questões relacionadas à busca pela liberdade e à opressão: o conto canônico Cinderela, dos irmãos Grimm, e a obra de Ana Maria Ma-chado, História Meio ao Contrário, que subverte a estrutura tradicional dos contos de fadas, trazendo de forma criativa uma visão crítica sobre a realidade brasileira. A partir de considerações de alguns estudiosos da literatura, vimos como a forma diferenciada em contar os dramas vividos pelos personagens das narrativas é capaz de fazer com que o leitor repense seus conceitos, desautomatizando seu modo de ver questões 199S U M Á R I Orelacionadas à opressão – já tão naturalizadas pela sociedade. Acredita-mos que esse movimento de fazer o leitor repensar valores, educando-o para participar do mundo e agir criticamente em seu entorno tem gran-de potencial de transformação, pois possibilita o surgimento de novas perspectivas. Sendo assim, não só o que é dito importa no momento de se tentar promover mudanças sociais, mas o como se diz algo. Daí os textos literários serem capazes de remodelar comportamentos a partir dos efeitos surpreendentes que provocam em seus leitores.Ao abordarmos a questão da resistência, vimos que o conceito de resistir remete à ideia de não se deixar sucumbir. Pensemos então na arte, mais especificamente nas obras aqui abordadas, como uma força capaz de promover no leitor a resistência necessária para o estar no mundo. O fato de ser a literatura uma ferramenta eficaz para despertar a criticidade, evitando que sejamos assimilados por forças opressoras, já faz dela um genuíno modo de educar o aluno para que aprenda a resistir, não se deixando assimilar. Vale também ressaltar a importância de o pro-fessor guiar seu aluno para que este consiga apreciar adequadamente a obra literária, sem julgamentos ou pré-conceitos que possam impedi-lo de ter um olhar mais humanizado para a sua realidade. Daí a sugestão de levar à sala de aula um dos contos canônicos mais populares e apre-ciados por gerações e de relacioná-lo, a partir das marcas de resistência presentes em seu tema e em sua forma, a uma das obras infantojuvenis brasileiras mais inovadoras e revolucionárias da contemporaneidade. Acreditamos que, a partir de um trabalho consciente e bem direciona-do, o professor possibilitará ao seu aluno reconhecer-se como um ser inconcluso, em contínuo processo de evolução, afirmando, dessa forma, a vocação humana de ser mais.200S U M Á R I OREFERÊNCIASBETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Trad. Arlene Caetano. 15ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.BOSI, Alfredo. Literatura e Resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.CÂNDIDO, Antônio. Vários Escritos. 5ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011.COMPAGNON, Antoine. Literatura para quê? Trad. Laura Taddei Brandini. Belo Horizonte: ed. UFGM, 2009.CUNHA, Antônio Sérgio Cavalcante; MICHELLI, Regina Silva. A Polissemia e a Intertextualidade em História Meio ao Contrário, de Ana Maria Machado. S.l., S.d. Disponível em https://livrozilla.com/doc/317993/a-polissemia-e-a-intertextualidade-em-hist%C3%B3ria-meio-ao-contrario Acesso em: 07 jan. 2022.FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 49ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.GRIMM, Jacob e Wilhelm. Contos de Fadas. Trad. Celso M. Paciornik. 4ª ed. São Paulo: Iluminuras, 2002.MACHADO, Ana Maria. História Meio ao Contrário. 19ª ed. São Paulo: Editora Ática, 1996.MORAIS, Márcia Marques de. “Leitura Literária e Ensino: Trouxeste a Chave?”. Entrevista concedida a Clézio Roberto Gonçalves e Vera Lopes. Scripta, Belo Horizonte, v. 24, n. 50, p. 357-386, 1º quadrimestre de 2020. Capítulo 10Violência simbólica: a máscara do convencimentoGeraldo de Andrade FagundesDOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95538.1010Geraldo de Andrade FagundesVIOLÊNCIA SIMBÓLICA: a máscara do convencimento202S U M Á R I OResumo: Esse artigo conduz uma reflexão a respeito do conceito de violência simbólica em uma perspectiva escolar explorando a continuidade das relações entre indivíduos e práticas nesse espaço. Reunimos alguns indícios que desta-cam a ingerência da violência simbólica a partir dos pressupostos teóricos em Pierre Bourdieu. Nessa perspectiva, buscou-se na observação participante o fio condutor de investigação observando as falas e os modos de profissionais da educação em duas Escolas da Rede Pública do Município de Blumenau. Se-gundo o observado, revelam-se situações de constrangimento entre os docen-tes, mesmo que de modo sutil em relação a interiorização da cultura dominante do corpo docente por intermédio da degeneração de uma condição alheia ao entendimento. Não há conflitos consagram esses valores, mas uma aceitação tacitamente, como que por antecipação. Por isso, mostra-nos novas formas e novos olhares sobre os indivíduos, de maneira a não os desvincular da realidade. Palavras-chave: Arbitrário cultural; poder simbólico; violência simbólica203S U M Á R I OINTRODUÇÃOOs primeiros estudos sobre o fenômeno da violência em nossa sociedade, surgem a partir de 1980 em um tom predominante causa-lista de expor os constantes atos de vandalismo nas grandes cidades. Os primeiros resultados eram parciais e sempre apontavam as depre-dações, furtos e invasões em cidades como São Paulo e Salvador, como um sinônimo de violência (SPOSITO, 1994; SARMENTO, 1987). O volume e a profundidade dos estudos que tratam desse fenômeno são bastante limitados no que diz respeito às instituições. Conforme Bicalho (2008, p. 1) “historicamente, poucas foram as produções aca-dêmicas direcionadas ao estudo da temática violência nas organiza-ções, ficando tal tema restrito, até o início da década de 1980, às áreas de direto e segurança pública”. Essas produções trataram a violência como um fenômeno genérico, composto por diferentes linhas de reali-zação, que apresentavam visibilidade, vinham acompanhado por uma certa enunciação que fatalmente deixou lacunas sobre as formas mais específicas de violência.O fenômeno que destacaremos é conhecido pelo seu caráter clandestino configurando-se até mesmo como uma linguagem so-cial. Um fenômeno contencioso e invisível que se impõe numa rela-ção, cujo reconhecimento se dá por uma cumplicidade “subterrânea mantida entre um corpo capaz de desguiar das diretrizes da consciên-cia”(BOURDIEU, 2001, p. 205). Esse fenômeno é denominado “vio-lência simbólica”. Historicamente esse assunto podeser observado nas referências de autores como: Hannah Arendt, Theodor W. Adorno (1903 - 1969),Émile Durkheim (1858 - 1917), Bernard Charlot (2002), e, sobretudo, Pierre Bourdieu (1930 - 2002). A filósofa alemã Arendt (1994), considera a violência (mesmo num sentido polissêmico) como um instrumento intensificador do vigor natural, a qual surge quando o poder está em risco. A autora critica os que defendem a violência como 204S U M Á R I Oarma revolucionária. “Tal instrumento, de seu ponto de vista, é capaz de destruir o poder, mas não criá-lo, deixando atrás de si um mundo mais violento” (ARENDT,1994, p. 17).Em compartilhado pensamento, Adorno (2008),ressalta “tenho as mais graves reservas contra qualquer uso da violência. Eu teria que renegar toda a minha vida – a experiência sobre Hitler e o que observei no stalinismo – se não me recusasse a participar do eterno círculo de violência contra a violência” (p. 132).Não prolongaremos esse debate de ideias em um sentido amplo por não ser o foco do estudo proposto aqui e por ele não estar plena-mente resolvido na literatura. No entanto, cumpre considerar relevante o trabalho desenvolvido por Pierre Bourdieu que nos oferece uma nova dimensão à noção de violência. Deste modo, este trabalho busca na pesquisa qualitativa, o testemunho sociológico bourdieusiano para re-constituir uma lógica social objetiva e subjetiva, dados empíricos num estudo de caso de observação realizado em duas Escolas da Rede Pública Municipal de Ensino de Blumenau.Para o desenvolvimento de um quadro de pesquisa e análise sobre a epistemologia das falas e dos comportamentos, utilizamos a “observação participante” que nos pareceu a metodologia mais ade-quada, pois, permitiu o pesquisador fazer parte dos grupos pesqui-sados (BOGDAN; TAYLOR, 1975; MARCONI; LAKATOS,1996). Opta-mos por essa metodologia por entender que “possibilita a obtenção de resultados socialmente mais relevantes” (GIL, 2008, p.30) no trata-mento dos dados. Nosso percurso de investigação se tratou de uma estratégia teórica que analisou a cultura, não só na inteligibilidade dos comportamentos, mas nas falas que em torno do tema violência sim-bólica procurando não reduzir, com/a observação, as impressões e as representações, mas:captar os fenômenos históricos, caracterizados pelo constante devir. Privilegia, pois, o lado conflituoso da realidade social. As-sim, o relacionamento entre o pesquisador e pesquisado não 205S U M Á R I Ose dá como mera observação do primeiro pelo segundo, mas ambos “acabam se identificando, sobretudo quando os obje-tos são sujeitos sociais também, o que permite desfazer a ideia de objeto que caberia somente em ciências naturais” (DEMO, 1984, p. 115).Para tanto, foram desenvolvidos três momentos: um quadro-sín-tese do conceito de violência simbólica com sua história; uma breve conceitualização da noção de Poder Simbólico e por fim; a exposição desses conceitos como influenciadores no comportamento dos indiví-duos no espaço escolar.“AUTOMATISMO”INCONSCIENTE DA VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E O RECALQUE ORIGINÁRIOConsidera-se a violência como um tema de “prioridade epistemo-lógica”, sobre tudo porque há uma ruptura com a compreensão que os indivíduos podem ter do mundo social. A violência simbólica tem como princípio ativo, a formação o recalque originário1(Urverdrängung). Essa metapsicologia não é uma condição do neurótico, mas do indivíduo co-mum que atravessou o complexo processo de vida, aceitou a regra so-cial, (nomos) inscrita no inconsciente, no falo, ou na (nomia) do fato so-cial no sentido sociológico e numa ordem simbólica dos interesses“[...] feito de tal modo, de tal modo disposto, que sei e não quero saber que tu sabes e não quero saber que sei, nem quero saber que retribuirás a dádiva”.(BOURDIEU, 2009, p.163). Dessa forma, a aceitação do mundo no (senso comum) se apresenta na consciência como fato (crença ima-ginária do ego) dado desde o nosso nascimento. 1 O recalque originário consiste em “negar a entrada, no consciente, do representante psí-quico da pulsão. Com isso, estabelece-se uma fixação; a partir de então o representante em questão continua inalterado e a pulsão permanece ligada a ele”(Freud, 1914, p. 171).206S U M Á R I OJá o termo automatismo, está atravessado pelas relações parti-lhadas e individuais nas formas simbólicas desenvolvidas a través de ritos diários. Esses ritos, apresentam uma certa conformidade mate-rial e simbólica que interfere em nossa forma de ver e compreender o mundo social (escrita ou oral) relativa ou pragmática (contextual) das configurações simbólicas. Assim, as crenças, valores e costumes, ex-pressam-se na (re) configuração do discurso e do poder sendo este arbitrário face à “realidade” do mundo.Ou seja, é um poder que não depende de dinheiro ou de uma situação de prestígio que mereça destaque, contudo, está nas condi-ções simbólicas que os enunciados podem assumir em cada indivíduo. Bourdieu (2003), apresenta esse poder como “violência simbólica” uma “violência suave, insensível, invisível á suas próprias vítimas, exer-cido essencialmente por vias puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente, do desconhecimento, do reconhecimento ou, em última instância, do sentimento” (p. 7-8). Para Bourdieu e Eagleton, (2007,p. 270), “[...] em termos de dominação sim-bólica, a resistência é muito mais difícil, pois é algo que se absorve como o ar, algo pelo qual o sujeito não se sente pressionado; está em toda parte e em lugar nenhum, e é muito difícil escapar dela”. Implícito a essas três distintas leituras atinentes à violência — a arendtiana, a frankfurtiana e a bourdieusiana — a sua naturalização se refere a um processo de racionalização e justificação da ocorrência de violências, bem como à decorrente passivação dos indivíduos. Certos aspectos do mundo social se apresentam muitas vezes de forma inquestionável como se esse mundo e sua existência, se constituísse de um proces-so natural como exercício de um “poder” ordenador e dirigente que exercesse um comando representativo. Estamos falando do “poder simbólico”. Uma propriedade peculiar de poder. Este é descrito sinteti-camente da seguinte forma.O poder simbólico como poder de construir o dado pela enun-ciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transfor-mar a visão do mundo e, desse modo, a ação sobre o mundo, 207S U M Á R I Oportanto o mundo, poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômi-ca) graças ao efeito específico de mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário. (BOUR-DIEU, 2007, p. 14-15). Esse fenômeno se manifesta principalmente pelas estruturas de poder, sobretudo na imposição legitimada e arbitrária do “dominante” sobre o “dominado” coma anuência do mesmo dando forma a rea-lidade e que nem sempre confere com os fatos. Em certa medida, aspectos do mundo social são considerados indiscutíveis, como se sua existência fosse obvia e, não, uma construção muito bem elabora-da de códigos consensuais. Esse poder, constrói uma dada realidade por meio dos discursos de uma ordem gnosiológica2, isto é, de uma significação imediata do mundo e para o mundo, bem como impõe significações via esquemas de percepção e disposições incorporadas pelos indivíduos (LALANDE, 1996).Por conseguinte, se manifesta naquilo que há muito tempo já se definia por “ideologia”, ou seja, estado de entendimento das coi-sas onde o dominado ou até mesmo o dominante, não têm a cons-ciência de sê-lo; quer dizer, a situação em que aparentemente há “conflitos segundo a subjetividade, existe consenso vivido objetiva-mente. Dessa forma, a reprodução de uma violência simbólica não demanda o uso de violência física, contudo exige um trabalho muito sutil no plano dos sentidos e dos conhecimentos, tendo como escopo, dissimular as relações de força implícitasde modo tal que se possa ignorar, no sentido de não questionar e, ao mesmo tempo, a domina-ção, dada a sua legitimidade, a violência exercida (BOURDIEU, 2000; 2003; 2007).É importante destacar que a denominação a partir dessa 2 A palavra gnosiologia tem necessidade de ser precisada por um comum acordo, na medi-da em que existe muita confusão, sobretudo de uma língua para outra, entre Epistemolo-gia, Erkenntinislehre, Gnoseology, Dottrina de llaconoscenza, etc. Para designar a parte da filosofia que estuda o fato do conhecimento nas suas condições e nos seus resultados, a priori e a posteriori (LALANDE, 1996 p. 448).208S U M Á R I Ocategoria de violência, está vinculada a uma lógica simbólica, não descarta as manifestações reais desse poder em situações que pes-soas são “[...] espancadas, violentadas, exploradas”, mas visualiza, “na teoria, a objetividade da experiência subjetiva das relações de do-minação” (BOURDIEU, 2003, p. 43). Vemos que a violência simbólica é “[...] insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se exerce es-sencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente, do desconhecimento, do reco-nhecimento ou, em última instância, do sentimento” (BOURDIEU, 2003, p. 7-8). Desta forma, a violência simbólica se instaura por intermédio de um processo sustentado reiteradamente pelo próprio dominado que já se encontra alinhado às estruturas impostas, e submisso ao instituído que julga a própria condição a partir de uma situação auto evidente e que não consegue romper com a mesma não se percebendo como dominado (BOURDIEU, 1975;1998).Em sua segunda tese, Bourdieu (1989), esclarece que essas condições, servem como instrumentos de dominação que usam a violência simbólica para exercer um poder sim-bólico à medida que se torna um instrumento estruturado e estruturan-te de “comunicação e de conhecimento e que os sistemas simbólicos cumprem a sua função política de instrumentos de imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a domina-ção de uma classe sobre outra”(BOURDIEU, 1989, p.11).A viver na sociedade dessa forma, se assemelha a uma situação de “estabilidade” em que cada indivíduo se sinta “protagonista” dos processos sociais. Aliás, esse termo se tornou muito utilizado atual-mente no discurso das organizações do terceiro setor (organizações privadas não governamentais supostamente sem o objetivo de lucro) que trabalham com jovens pobres e compõem o campo da educação. Esse discurso prescreve como à “nova forma de política” apresenta a ideia de superação dos problemas sociais pela participação dos jovens no universo do trabalho. A imprecisão, aliás, não é um fator de confusão desse enunciado falaz, mas uma importante estratégia 209S U M Á R I Odo poder simbólico operando na fabricação do consenso para existir como modelo exemplar. Os mecanismos que possibilitam o discurso do “protagonismo”, não são evidenciados por sua ação perpetrada pelo homem e no próprio homem, mas de forma sutil sem o uso da força física em determinado estruturas sociais como: cooperativas, bancos, escolas, empresas, hospitais, etc. Essas estruturas, Bourdieu (1997), considera como “campos sociais”3 (um) microcosmos dotado de leis próprias onde os indivíduos ou instituições, criam condições a partir das relações de lutas que aí estabelecem. A violência simbóli-ca é produzida nesses campos simbólicos, um espaço imaterial que existe a partir uma realidade para ver e pensar substituído o conceito de sociedade, “pois, para ele, uma sociedade diferenciada não encon-tra plenamente integrada por funções sistêmicas, mas, ao contrário, e constituída por um conjunto de microcosmos sociais dotados de auto-nomia relativa” (CATANI, 2011, p. 192).Uma ênfase necessária nessa problematização, destina-se à questão da naturalização de uma “violência que se exerce com a cum-plicidade tácita daqueles que a sofrem e também, frequentemente, daqueles que a exercem enquanto uns e outros são inconscientes de exercê-la ou a sofrer” (BOURDIEU, 1997, p. 22). É uma violência en-quanto vontade de que causar tormento, medo, legitimação e obediên-cia. A história demonstra que a violência simbólica não é um fenômeno atual ou uma nova forma de violência, nasce cotidianamente, fato este que torna a violência o objeto de estudo de pesquisadores de diversas áreas pois ela afeta a sociedade na totalidade.3 Em termos analíticos, um campo deve ser definido como uma network, ou uma configura-ção, de relações objetivas entre posições. Tais posições são definidas objetivamente, na sua existência e na determinação que impõe sobre quem as ocupa, agentes ou institui-ções, a partir de suas espécies atuais de poder (ou capital) cuja posse comanda o aces-so aos ganhos específicos [...] (dominação, subordinação, homologia, etc.) (BOURDIEU; WACQUANT, 1992, p. 97).210S U M Á R I OA VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NOS GRUPOS SOCIAISA violência simbólica é um mecanismo de dominação, e como tal, é marcado pelos interesses de classes hegemônicas que se institu-cionalizaram e se reproduziram graças à construção histórica das desi-gualdades entre certos grupos sociais e de seus membros que não se adaptaram a sua lógica. E é por meio do trabalho das associações de classe (instituição civil que surge da união de pessoas ou empresas), da família, da igreja, da escola e o do estado, que se institucionaliza e se reproduz à construção sócio-histórica da desigualdade. A família, a igreja, a escola e o estado, atuam coordenadamen-te no sentido de focar seus esforços para criar uma massificação da sociedade, sobretudo, a formação de estruturas calcadas em saberes ditos “indispensáveis” para uma adaptação adequada. A Família, em especial, cumpre o papel determinante na reprodução da ordem social vigente, fundando de modo perpétuo, sentimentos dirigidos para a in-tegração e persistência de uma realidade em que se idealiza o “modelo perfeito”. Nesse sentido, a Família (modelo pré-fabricado) cumpre com a reprodução de uma sociedade masculinizada (BOURDIEU, 2011), manifesta à través de imposições às mulheres das normas masculi-nas, como: o modo de andar, falar, comportar-se, destinando espaços (privado para as mulheres e público para os homens). A Igreja inculca implicitamente ou explicitamente, uma moral familiarista incitada por valores patriarcais e modelos históricos sedimentados por meio do simbolismo presente nos textos sagrados da liturgia cristã. Da mesma forma, que nos espaços da família e político, a igreja é palco para o conservadorismo em nome de Deus. “Moldam por métodos próprios de sanções, exclusões, seleções, etc. Não apenas seus funcionários, mas também suas ovelhas”. (ALTHUSSER, 1985, p. 70).211S U M Á R I ONa educação, o processo de ensino reiteradamente eterniza-se pelo arbítrio cultural colaborando para a continuidade das relações entre os grupos sociais dando continuidade para a submissão dos dominados e legitimidade para os dominantes. Nesse cenário, o Esta-do se torna o principal responsável pelo establishment4das categorias empresariais que reforçam a passividade dos indivíduos, às formas organizativas hegemônicas que se utilizando de meios materiais e sim-bolismos que propiciaram a aderência às maneiras de compreender e construir o mundo em consonância com os interesses dos dominantes (BOURDIEU, 1975; 1996; 2003; BONNEWITZ, 2003). Entretanto, a dominação simbólica não é um atributo apenas das classes dominantes, sua estrutura está em todos os campos so-ciais sofrendo acréscimos e limitações oriundas de todos os meios de poder. A diferença entre dominantes e dominados estás sobretudo no acesso de forma distinta e distintiva aos sistemas simbólicos que possibilitam às classes hegemônicas se impor e legitimar aquilo que lhe é característico (BOURDIEU, 1996; 2007). Assim, “[...] a força da ortodoxia, isto é, da doxa que impõe todo tipo de domínio simbóli-co legitimado pela nossa sociedade como ser (branco, masculino, burguês), provém do fato de que ela transforma particularidades nascidas da discriminação histórica em disposições incorporadas, revestidas de todos os signos do natural” (BOURDIEU, 2003, p. 147). A sociedade é uma estrutura social, e, em grande medida, plural, ou pelo menos, deveria ser já que é constituía de muitas identidades. No entanto, é fundamentada na objetividade “singular” por interesses de grupo se legitimada a partir de certas formas de poder e de capital que estabelecem uma “distinção” entre os grupos. O processo fun-dador dessa estrutura conscienciosa se assenta sobre o poder das frações dominantes que decidem o que é bom e ruim, certo e errado, 4 Um establishment é um grupo que se autopercebe e que é reconhecido como uma “boa sociedade”, mais poderosa e melhor, uma identidade social construída a partir de uma combinação singular de tradição, autoridade e influência: os established fundam o seu poder no fato de serem um modelo moral para os outros. Neiburg. Federico.212S U M Á R I O“sagrado e o que é profano”5 (DURKHEIM, 2007)da ordenação, da natureza e do mundo.A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NA ESCOLANem todos possuem meios para enfrentar às barreiras culturais impostas pela instituição escolar que promove aquilo dito como “cul-to e legitimo” em detrimento das culturas populares. A dimensão das exigências pela escola ultrapassa as condições daqueles que não pos-suem os privilégios dos mais abastados culturalmente. A violência sim-bólica vai além da escola, é aceitável pela sociedade na forma de bens valorizando interesses sociais, políticos e econômicos, reelaborando uma didática, capaz de produzir uma cultura escolar (FORQUIN,1993). Da mesma forma, à escola objetivamente reproduz em seus mé-todos a legitimação e certos valores, hábitos, ideias, pensamentos da cultura dominante. Mesmo com ações aparentemente revolucionárias, as escolas negam “a ação pedagógica no processo de libertação, mas usam a propaganda para convencer” (FREIRE, 1984, p.31). Por isso, não é possível imaginar que um sistema educacional como o nosso que cria suas próprias regras, comece a questionar seus próprios mé-todos e sua postura perante a sociedade.Nosso Currículo é um exemplo de artefato legal da implemen-tação arbitrária de conhecimento a partir de “competências”, ou seja, padrões criados para além da necessidade educacional, um meio que justifica a aproximação entre escola e trabalho, conforme se verifica do 5 Efeito de imposição realizado, através de sua própria existência, por aqueles que apenas têm de ser o que são para serem o que devem ser. Esta coincidência perfeita é a própria definição de naturalidade que, por outro lado, confirma a coincidência do ser, assim como o poder de autoafirmação contido em seu bojo (BOURDIEU, 2007, p. 238-239).213S U M Á R I Omesmo modo nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). Esses do-cumentos limitam a autonomia dos profissionais da educação impon-do uma nova ordem nas relações de trabalho. Isso explicaria saberes que serão aplicáveis em uma organização escola/empresa por que deveram ser “validados”. Ou seja, serão confirmados pela formação e pelo controle das funções exercidas na empresa. O ensino nessa perspectiva, passa a ideia que tudo é organizado a partir de motivos indispensáveis, convencendo a massa de indivíduos para as ações pedagógicas como procedimentos metodológicos.No entanto, não passam de mecanismos decadentes assim como os exames (provas) os quais “são marcados por sucessivas prá-ticas que, mais tarde, com a divulgação das notas obtidas, (re) definem o estado ou posição dos agentes” (MARCHI; SANTOS, 2013, p. 47). Novamente, vemos a posição conquistada pelo professor com a ajuda das velhas e legitimadas formas de poder baseadas em um “arbitrário cultural” destinado à escola para julgar o “desempenho” através dos exames nos quais os alunos são submetidos causando furor entre os professores que se mobilizam para separar o “bom e o mau” aluno. A avaliação dos alunos encarado dessa forma é considerada “ação pedagógica” que “tende a assegurar o monopólio da violência sim-bólica legitima” (BOURDIEU, 2009, p.5). Como o sistema educacional é fundamental para a reprodução social das posições dos indivíduos, “nada é mais adequado que o exame para inspirar o reconhecimento dos veredictos escolares e das hierarquias sociais que eles legitimam” (BOURDIEU, 2009, p. 20). Do mesmo modo, a ação pedagógica, im-põe e inclui certos significados que devem ser repassados em forma de códigos escolares que consagram valores universais inquestioná-veis presentes nas ações pedagógicas. O conceito de “arbitrário cultural” não se resume a uma teoria que privilegia o conhecimento existente, mas nos valores e nas normas culturais impostos durante os anos de escolarização que é tão bem 214S U M Á R I Oimplantado pela escola que pode se manter mesmo após terminar o período escolar (BOURDIEU, 1975). A escola é responsável por criar um “habitus”6que deve continuar por muito tempo na mente do sujeito. Deste modo, a violência simbólica é cometida, principalmente, por meio da inculcação de conteúdos e preceitos injustificados por metodologias de ensino que se auto reconhece como autoridade pedagógica. Essas metodologias, reforçam a ideia de uma cultura oficial com a função de diminuir as desigualdades sociais, mas reforça ainda mais a cultura dominante tornando as desigualdades mais agudas. Os mar-ginalizados não possuem meios para enfrentar essas barreiras sociais e culturais impostas pelos esses códigos que promovem aquilo dito como culto e legítimo em detrimento das culturas populares daqueles que não possuem os privilégios dos mais abastados culturalmente. Bourdieu e Passeron, (1975), questionam a suposta imparcialidade das instituições escolares, e, além disso, a legitimidade dos processos educacionais vigentes que aparentemente se esforçam para superar, pregando que “todos são iguais perante a lei”, mas podemos dizer que todos são iguais perante as condições que vivem? É contra esse pano de fundo republicano que se articula todo o pensamento meritocrático defendido pela educação contemporânea, em que a necessidade fun-cional da estratificação das posições é “naturalmente desiguais”. Essa condição desloca no campo da educação a violência simbólica que passa despercebida na rotina da escola porque faz parte do hábitus desse espaço. Embora a violência simbólica não seja a premissa do ensino é inegavelmente verdadeira e está transvestida de discursos democráticos e de propostas para a igualdade e justiça sociais que legitimam a cultura dominante. 6 Habitus, uma estrutura mental que, tendo sido inculcada em todas as mentes socializadas (...), uma lei tácita (nomos) da percepção e da prática que fundamenta o consenso sobre o sentido do mundo social (e da palavra família em particular), fundamenta o senso comum (BOURDIEU, 2011. p. 126-7).215S U M Á R I OA VIOLÊNCIA SIMBÓLICA INCORPORADAEmbora o tema violência ser discutido pela sociedade, menos atenção tem sido dado aos pequenos atos que não ficam explícitos nos espaços sociais. São esses pequenos atos que provocam gran-des transformações. Percebe-se, que a legitimação e a invisibilidade desses atos se caracterizam mediante o qual vontades, interesses e ideologias são canalizados e modulados (FOUCAULT, 1985). Decidi-mos, portanto, incorporar a análise desse artigo a partir de duas pers-pectivas: a primeira destacamos os discursos definidos pelo ambiente escolar como um espaço motivador dos mais diversos enunciados que se reproduzem em uma cultura reminiscentes dos traços mnêmicos do inconsciente. Na segunda perspectiva, buscamos alguns vestígios dis-cursivos de violência simbólica proferidos durante a observação profis-sionais da educação caracterizando-o a partir de um estado (condição vivenciada) de violência das tramassimbólicas. As falas, mas também o silêncio dos observados, suscitam a ideia de discurso para as ações que se corporificam em forma de Habitus partilhados por condições semelhantes. Já um estado, está submetido ao ambiente tão comum que esconde muitas vezes o indivíduo e as suas condutas.Embora pareçam condições um tanto evidentes, é importante salientar que entre esses aspectos é mais fácil reconhecer a existência do primeiro do que do segundo, já que o estado de violência simbólica é construído socialmente tornando-o quase imperceptível. Nesse as-pecto, fica entendemos que a convicção de cada indivíduo é realizada por atos frequentes de ordem social que por estarem em exposição prologada no mesmo espaço, (re) configuram sua percepção das con-dições não percebendo como uma prática de dominação, mas como coesão resultado da solidariedade e da integração entre indivíduos. As reuniões pedagógicas são um bom exemplo de situação de traba-lho onde os profissionais da educação, comumente compartilham das mesmas opiniões, sugestões e saídas para as mesmas dúvidas.216S U M Á R I ONada melhor do que analisá-las, visto que seus pressupostos originais nascem das mesmas convicções perpassando por toda uma discussão dialógica. Até quando os indivíduos discordam, o fazem da mesma maneira. Existe aí uma coerência das coisas incoerentes, “regularidades, mas também imprecisão e suas irregularidades, e até mesmo suas coerências” (BOURDIEU, 2009, p.143). Os enunciados professorais sobre a escola e sobre os alunos, pertencem a um discur-so pré-estabelecido que impõem certa universalidade do seu sentido. É nítido nas reuniões escolares, uma imagem estereotipada dos alunos separando-os em categorias como alunos bons e alunos maus (redu-cionismo diante do indivíduo e da prescrição do bom comportamento) ou das disposições supostamente opressoras em torno de um sistema educacional que impede os docentes nos trabalhos impossibilitando a mudança. Notadamente alguns docentes assumem um papel de impotente diante a uma entidade superior chamado “sistema”. Isso diz muito de um “poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem” (BOURDIEU, 1989, p.7). Isso porque essas reuniões (conselhos de classe), não “surgiram de um espírito de coo-peração entre os elementos da ação educativa, mas foram ‘encomen-dado’ a partir de exigências burocráticas”(HOFFMANN, 1991, p. 115).Não é reconhecível porque existe uma aceitação até mesmo do próprio corpo (FOUCAULT, 2010) e se apresenta como uma passagem do meramente natural ao humano “[...] a ‘práxis’ que não se reduz aqui à violência, mas está — como meio — é um elemento indispensável da práxis” (VÁZQUEZ, 1977 p. 377). Apesar de em muitos casos de os indivíduos buscarem formas de resistência, sua resposta está dentro de um limite inerente a suas condições particulares de um corpo que reconhece, aceita (FOUCAULT, 2010) e se apresenta como “uma pas-sagem do meramente natural (humano) para o elemento indispensável da práxis (VÁZQUEZ, 1977).217S U M Á R I OUma espécie de relação “naturalizada” no que Bourdieu (1989), nomeia de “paradoxo da doxa”, uma situação onde o indivíduo enten-de como natural “por meio da imposição mascarada (logo, ignorada como tal) de sistemas de classificação e de estruturas mentais obje-tivamente ajustadas às estruturas sociais” (BOURDIEU, 1989, p. 15). O conceito de doxa7, substitui o “fato” por uma falsa consciência que faz crer que todos validam, criando um campo em que se desenvolve o “senso comum”. Com relação ao ensino, essa doxa é reforçada, tanto pela medição da organização dos trabalhos práticos, quanto pela adoção de uma mesma linguagem pedagógica adotada pelos docentes que fatalmente esvaziam a possibilidade de um posicio-namento político em relação à aprendizagem e encaram o conteúdo como um elemento neutro.Há uma linguagem quase folclórica, ultrapassando a função pe-dagógica e adaptada como instrumento tanto pessoal como de uso para a avaliação das economias utilitaristas. O juízo de valor e à dis-cussão pedagógica que se desdobra a partir dessa lógica, dissolve os valores políticos envolvidos em “avaliações”, isto é, em convicções do mundo e de tudo que há nele, dando base para uma racionalidade limi-tada e seletiva do tipo ideal de aluno. 8Ligado à noção de compreensão, pois todo tipo ideal é uma organização de relações inteligíveis. Asso-ciado ao processo de racionalização. Essa lógica do funcionamento, tal como ela se apresenta, coloca, teoricamente, todos os indivíduos em uma mesma equivalência formal, ignorando às diferenças, sociais, culturais, econômicas, acreditando nas capacidades dos “dons” indivi-duais sem considerar às diferenças. Como diz o discurso professoral, 7 “Conjunto de crenças fundamentais que nem sequer precisa se afirmar sob a forma de um dogma explícito e consciente de si mesmo” (BOURDIEU, 2007, p. 25).8 Obtém-se um tipo ideal mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande quantidade de fenômenos isolados dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam segundo pontos de vista unilateralmente acentuados, a fim de formar um quadro homogêneo de pensamento (WEBER, 1999, p. 106).218S U M Á R I O“tem que nivelar por cima”. O pressuposto escolar julga pelo suposto “dom” e avalia pelo olhar meritocrático medido pelos critérios do ethos da elite cultivada (BOURDIEU, 1998) e dos padrões dessa elite que os condena desde o berço. Todavia, para que essa herança se dê com naturalidade, alguns elementos são necessários segundo Bourdieu:Ao atribuir aos indivíduos esperanças de vida escolar estrita-mente dimensionadas pela sua posição na hierarquia social, e operando uma seleção que – sob as aparências da equidade formal – sanciona e consagra as desigualdades reais, a escola contribui para perpetuar uma sanção que se pretende neutra, e que é altamente reconhecida como tal, nas aptidões social-mente condicionadas que trata como desigualdades de ‘dons’ ou de mérito, ela transforma as desigualdades de fato em de-sigualdades de direito, às diferenças econômicas e sociais em ‘distinção de qualidade’, e legitima a transmissão da herança cultural. [...] Além de permitir a elite se justificar de ser o que é, a ‘ideologia do dom’, chave do sistema escolar e do sistema social[...]. (Bourdieu, 1998, p. 58-59)Este cenário é propício para uma aceitação que se tornará ine-vitável, e, uma vez aceito o dom se torna um poder simbólico discrimi-natório que não precisa necessariamente de situações oportunas para ser considerado. Assim, “os sistemas simbólicos como (as escolas), instrumentos de conhecimento e de comunicação, só podem exercer um poder estruturante porque são estruturadas” (BOURDIEU, 1989, p. 9) garantindo que todas as ações formem uma complexa trama de sig-nificações. Aquilo que é comumente disposto pelos professores e sin-tetizado na seguinte frase: “todos temos que ter a mesma linguagem”.Assim, a dimensão simbólica do poder encontrado na escola, consegue impor o sentido do real, isto é, consegue se estabelecer como “um poder de construção da realidade [...]” (BOURDIEU, 1989, p. 9). Essa inculcação de significados e sua imediata aceitação por parte dos emissores e receptores é exercida no âmbito das ordens sociais e morais, transformando os discursos em “instrumentos por 219S U M Á R I Oexcelência da ‘integração social’ [...], eles tornam possível o consen-sus acerca do sentido do mundo social que contribui fundamentalmen-te para a reprodução da ordem social” (BOURDIEU, 1989, p. 11) e dos sistemas simbólicos. Poderíamos pensar sobre os conceitos poder/simbólico como conceitos sui generis, delimitados em suas áreas de discussão e refletir sobre os dois de maneira individual. Contudo, o podere o simbólico não são avaliados separadamente, e sim, como meios complementares focados segundo a estrutura beneficiado por um “Capital Simbólico” “assegurando uma comunicação imediata en-tre todos seus membros e distinguido os das outras classes” (BOUR-DIEU, 1989, p. 10).A legitimação e a invisibilidade do poder que se instala a partir dos pressupostos simbólicos, permanecem sem a cons-ciência dos indivíduos que não se percebe como um agente na esfera social. Assim, certas frações dominantes (os produtores de discursos), desenvolvem o “poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer [...] que só se exerce se for re-conhecido” (BOURDIEU, 1989, p.14) em um modelo estruturado de tal forma que acaba sendo aceito coletivamente e respeitado como algo inevitável. Bauman (2012), usa a seguinte analogia “a terra dos cegos” para explicar o discurso da normalidade de uma sociedade pronta para aqueles que integram o mesmo círculo social. No momento em que a “anormalidade” colide com a ordem ins-tituída, ou seja, com as expectativas do “normal” (ou maioria), tem-se a discriminação em desfavor dessa “anormalidade (BAUMAN, 2012). Essa suposta normalidade ou neutralidade que se supõem ser adequa-da, colocaria teoricamente todos os indivíduos em uma mesma equiva-lência composta pelo ambiente ignorando às diferenças. Acreditando nas capacidades do dom inalienável e na eficiência da escolarização sem avaliar a herança da família, a escola se torna o cenário propício para uma aceitação que se tornará inevitável. Uma vez reconhecido essa lógica, o poder simbólico não precisa ter uma situação oportuna para ser implantado, está nas relações daqueles exercem o poder e 220S U M Á R I Oos que são sujeitados a ele. Lembrando que o poder referido aqui é exercido por todos garantidamente, não há ninguém que só o exerça e outro que só se sujeita. Institui assim, por meio da cumplicidade (WA-CQUANT, 2002), que o dominado confere o poder ao dominante, logo, surge uma relação naturalizada entre os dois. Uma das maneiras mais eficiente de reconhecer o poder simbólico é compreendendo duas das suas características principais: a dificuldade de reconhecê-lo e por não se apresentar como tal. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESO presente artigo, discutiu os efeitos da violência simbólica em espaços educacionais a luz da proposta teórica de Pierre Bourdieu. As instituições escolares foram escolhidas por conta da sua importância estratégica de reprodução do poder simbólico e por ser um lugar qua-se impensável de legitimação de poder. O que queremos dizer com isso? O efeito da evidência no discurso dominante da educação não permite um esclarecimento e a escola passa despercebida e vista por uma suposta imparcialidade, quer seja através da imposição de regras coletivas, ou, pela repetição dos modelos que os indivíduos vivenciam no ambiente familiar. Além disso, a legitimidade dos processos educa-cionais vigentes, demonstram a existência uma instituição que possui um caráter de conservação social a partir de uma cultura assegurada pelas práticas socialmente legitimadas. É possível observar, a frequên-cia dos discursos que tendem a comprometer até mesmo o interes-se dos alunos no processo de ensino-aprendizagem, caso haja certo descontrole. Não se trata de culpabilizar os profissionais da educa-ção pelas acentuadas determinações inconscientes e pelas condutas coletivas ou ingenuamente, acusar o sistema educacional percebido enquanto estrutura eterna regida por leis gerais, sistemáticas e atem-porais. Existem desdobramentos estruturais, e, no caso dos sujeitos, 221S U M Á R I Oefeitos sociais e disposições que escapam à vontade e, ao mesmo tempo, se distância da consciência e da clareza das suas práticas. Como resultado, é percebido que as maiores (embora não so-mente aí) homogeneidades ou adequações sociais, formam uma doxa especificado campo escolar. Com a identificação desse sistema ou conjunto de juízos integrado, retiramos a escola da posição de institui-ção neutra e isenta de responsabilidade e a colocamos sob a perspec-tiva de “agente” que fornece o protótipo da mensagem pedagógica. Isso inclui seus membros em certa medida, como vítimas da violên-cia simbólica quando as regras da escola não são claras e, mesmo quando não são, cria um verdadeiro “jeito” de agir do jogo produzido. Os professores mesmo estando em uma elevação da consciência, se afastam dos projetos de transformação porque não conseguem responder aos anseios dos alunos ou, ainda, quando não há mecanis-mos suficientes para desmistificar o espaço. A violência simbólica é a grande mãe de todas as outras for-mas de violência. É uma violência, invisível, audaciosa, indolor e até mesmo, sedutora sem contornos aparentes que ataca por todos os la-dos sem que tenhamos plena consciência da sua existência. A análise proposta por Pierre Bourdieu com relação à violência simbólica, deve servir de alerta para podermos compreender a partir dos discursos que não são neutros. Pesquisas teórico-empíricas como essa, poderão ajudara revelar a dinâmica de relações em espaços muito complexos de interação. A contribuição dos trabalhos realizados por Bourdieu e outros sociólogos no que concerne à educação é considerável e tem grande valia para entendimento de que o fenômeno social não é unica-mente produto das ações individuais que a lógica dessas ações, deve ser procurada na racionalidade dos seus agentes.222S U M Á R I OREFERÊNCIASADORNO, T. W. A filosofia muda o mundo ao manter-se como teoria. In: COHN, S.; PIMENTA, H. (org.). Mai de 68. Rio de Janeiro, 2008.ALTHUSSER, Ideologia e aparelhos ideológicos do estado. 2. ed. 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Realidade ou utopia?225S U M Á R I OResumo: Com o objetivo de demonstrar que o livro eletrônico é uma inovação e que pode contribuir muito para a formação de novos leitores, considerando a era digital em transformação, esse estudo por meio de pesquisa bibliográ-fica descritiva, aponta que durante muito tempo, o saber foi constituído pelas páginas do livro impresso, mas a ciência evoluiu e com ela surge à tecnologia que veio facilitar a vida humana, inclusive na literatura. O livro eletrônico é uma realidade inovadora que necessita de ajustes, principalmente na abordagem literária e na aceitação pelos gestores educacionais como um todo. Trata da literatura na cultura digital veiculada pela internet, por meio das bibliotecas virtuais e dos e-books na imensidão de portais dedicados a autores e obras e a existência da cultura do carimbó na literatura digital. Ao abordar sobre a literatura e a formação do novo leitor ressalta-se um trabalho social que inclui docentes, bibliotecários, pais, técnicos, pesquisadores, críticos, escolas, insti-tuições não governamentais e governo.Palavras-chave: Literatura; cultura digital; livro eletrônico; novo leitor. 226S U M Á R I OINTRODUÇÃOAtualmente, muito se tem falado sobre a literatura digital e com opiniões pró e contra a sua utilização nas escolas, resultando em re-sistência à incorporação deste processo em função de envolver princi-palmente os professores, que por falta de formação nessa modalidade enfrentam muitas dificuldades na adaptação a essa realidade vivida pela maioria dos alunos considerados nativos digitais.No contexto da sociedade contemporânea a literatura foi am-pliada por meio dos mais variados formatos, composto por canção popular, filme e histórias em quadrinhos. Porém, com a expansão da internet surge a literatura eletrônica, espaço onde as obras são criadas por meio de diversos recursos digitais, envolvendo palavras, imagens e sons. Aqui uma ressalva para mostrar que a literatura digital não tem como características a digitalização de um texto antecipadamente pro-duzido na forma impressa.A literatura digital são experimentos literários que usam simul-taneamente a linguagem literária e a linguagem de programação de computador para construir os textos. Neste caso, as obras digitais são produzidas por meio de dois códigos onde a maioria delas só poderá ser lida em ambiente digital – exceto alguns poemas visuais quando são produzidos por meio dos recursos de computação gráfica, poden-do ser impressos sem perdas expressivas de significado.A história registra que o primeiro experimento da literatura digi-tal aconteceu em julho de 1955, idealizado pelo filósofo e matemático alemão Max Bense, influenciado pelas reflexões sobre a cibernética, introduzidas por Norbert Wiener. O tempo passou, com ele acontece a grande evolução tecnológica na área computacional, permitindo o aparecimento de diferentes gerações de poetas/programadores, resul-tando em uma gama variada e heterogênea de obras que passaram 227S U M Á R I Oa ser produzidas em várias partes do mundo. Com isso surgiram tam-bém as críticas sobre essas manifestações literárias, inclusive sobre sua dominação que passaram categorizadas como literatura digital, hiperficção, literatura hipertextual, literatura eletrônica, entre outras (WALTHER, 2012). Desde o surgimento da literatura digital na década de 1950, poetas e críticos envolvidos nos movimentos de vanguarda, viam nas tecnologias digitais, uma possibilidade de ampliar seus programas poéticos, os quais já previam a expansão do código verbal indo na direção de outras linguagens, mesmo antes do computador tornar-se popular. Assim, segundo Antônio (2012) a poesia digital contemporâ-nea é uma evolução dos experimentos realizados pelas vanguardas do século XX, como a poesia concreta, a poesia experimental, a poesia visual, entre várias outras formas (ANTÔNIO, 2012, p. 47). De acordo com Castro (2012) as novas tecnologias “vieram possibilitar a introdução da cor, a transformabilidade dos textos e dos signos elétricos como anamorfoses, a movimentação de todos os sig-nos, criando-se novos tipos de invenção poética de alta complexidade” (CASTRO, 2012, p.72). Ele é produtor de poemas com recursos com-putacional e comprometido com o movimento da Poesia Experimental Portuguesa e foi alinhando sua produção poética e acordo com a evo-lução tecnológica digital por meio da tendência do concretismo.Segundo Lister et al. (2009), após o movimento de vanguarda nas décadas de 50 e 60, no campo da literatura digital, surge nas dé-cadas de 80 e 90, talvez um dos movimentos mais bem articulados e fundamentados do ponto de vista de programa poético, chamado por alguns autores de movimento da literatura hipertextual, no qual foi pos-sível reunir no mesmo projeto pessoas interessadas não só em produ-ção de narrativas hipertextuais, mas também na teorização das obras, as quais se tornaram críticos literários expressivos em obras digitais. 228S U M Á R I OPara Landow (2006) a primeira obra conhecida como literária hipertextual, é a narrativa Afternoon a story produzida em 1987 de modo não linear com o propósito de ser lida apenas por meio digital. A sua hipertextualidade é configurada pelos links disponíveis ao leitor, o qual deve seguir caminhos que forme um percurso de leitura específica e que acabe gerando um enredo próprio. Porém, tanto a citada narrativa como as eufóricas teses voltadas ao hipertexto, que continua entu-siasmando artistas e intelectuais, vêm sendo submetidas, também, às revisões acaloradas e críticas severas que apontam que o hipertexto enfraquece o poder do autor em prol da liberdade do leitor.Collins (2010) comenta que a evolução da literatura digital po-deria ser dividida em duas fases: a da literatura hipertextual, nas dé-cadas de 1980-1990 e a fase da literatura digital contemporânea ou pós-moderna, que se consolidou a partir de 1995 e se mantém até os dias de hoje. Porém a diferença é que, nas obras atuais, a estrutura hipertextual não possui a centralidade e tampouco a relevância filosó-fica, elas são extremamente heterogêneas em termos de linguagens de programação, concepções teóricas, estéticas e epistemológicas e, principalmente, em termosde gêneros ou tipos de manifestação.No entanto, a literatura impressa passou ser digitalizada, se po-pularizou, extrapolou o universo acadêmico e adentrou o círculo da produção e do consumo regulado por grandes corporações. Nesse sentido, pode-se dizer que a literatura digital continua como um pro-jeto heterogêneo, bastante experimental e vanguardista, limitando fortemente, não apenas sua circulação entre grandes públicos, mas também a sua interpretação por parte daqueles públicos supostamen-te já iniciados na linguagem literária. Acredita-se que sejam esses os motivos que fazem projetos de leitura e interpretação de obras digitais, dentro e fora de instituições de ensino, ser uma verdadeira exceção (WALTHER, 2012).229S U M Á R I ODiante desse panorama, mesmo com a diversidade, abundância e disponibilidade de recursos midiáticos que contribuem com o pro-cesso de aprendizagem do aluno, a escola e professores continuam desenvolvendo ações focadas, predominantemente, na leitura e pro-dução de textos verbais, sendo na maioria impressos ou digitalizados, evitando usar as diversas possiblidades de desenvolver processos de letramento na formação de novos leitores, que utilizem textos com vários recursos digitais como links, som, imagens, vídeos, ou novas maneiras de acesso na produção de conhecimento (SANTOS, 2015).Consta das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Bá-sica que “a educação é um processo de socialização da cultura e da vida, na qual se constroem, se mantêm e se transformam conhecimen-tos e valores” (BRASIL, 2013, p. 4). Baseado nesta prerrogativa é que se discute a cultura do carimbó, pois envolvem saberes da arte, da religiosidade, costumes e os valores da cultura amazônica, buscando construir novas diretrizes que proporcione conhecimentos em função da vasta diversidade cultural.Nesse sentido, Silva Neto et al. (2010) enfatiza que os saberes culturais do carimbó podem ser manifestados dependendo da conexão e das práticas dos professores, no que diz respeito a permitirem-se, por meio da organização curricular, articular as linguagens, a filosofia, as ciências naturais e humanas, e as tecnologias, para contribuir com o conhecimento escolar, questionando este saber que é inteiramente útil, não só para a comunidade escolar marapaniense, mas para a cultura do município e porque não dizer do Estado do Pará. É de conhecimento público que estudos tratando da educação do campo têm sido uma frequência no meio acadêmico, massificando que as práticas devem traduzir aspectos do contexto vivido pelos es-tudantes, pois conhecendo essa realidade ela se torna uma estratégia importante para a educação. Essa temática tem merecido discussões, assim como, investigações sistemáticas e novos argumentos que 230S U M Á R I Ovalorizam a diversidade cultural das populações mais afastadas dos grandes centros, não sendo o caso da cidade em estudo, pois mesmo distante da Capital do Estado, Belém, o município de Marapanim é uma referência na cultura do carimbó e por ser essa referência, é que as práticas e saberes diversos, envolvendo essa cultura devem fazer parte do cotidiano escolar que muito contribuirá para a formação de novos leitores, seja por meio das histórias contadas sobre as danças, como pelas letras das músicas, formação de grupos, construção de instrumentos e tantos outros saberes que envolvem essa cultura. A LITERATURA NA CULTURA DIGITALConsiderando que a literatura faz parte das comunidades huma-nas desde a antiguidade, período em que eram difundidos os mitos, assim como outros fatos, os quais possibilitaram a expansão desta literatura, por meio dos mais variados gêneros, como os orais que pos-teriormente passaram a serem escritos. A literatura na contemporanei-dade, infelizmente, tem um espaço muito pequeno no dia a dia das pessoas, é o que diz o resultado da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil realizada no ano de 2012, apontando que o brasileiro está lendo livros em quantidade bem menor e com as mais diversas justificativas, dentre elas, a falta de tempo e o desinteresse, e quando leem não fazem por prazer ou lazer, mas apenas para se atualizarem, preferindo assistir televisão e às vezes escutam rádio (COSSON, 2014).Fato marcante é o número do leitor de literatura, são poucos! Essa parcela de leitores não lê com regularidade e quando o fazem, buscam o best-seller do momento ou o fazem por obrigatoriedade do professor, se referindo às leituras indicadas com fins pedagógicos exigidos pela escola. No entanto, se faz necessário formalizar que o ensino de literatu-ra é essencial para ampliação do conhecimento na contextualização da 231S U M Á R I Oobra, fazendo compreender os problemas frequentes naquela época, o que proporcionará aos alunos, conhecimento maior no universo do livro. Por isso que o ensino da literatura é importante, pois além de formar leitores, exige que reconheçam textos utilitários e não utilitários. Barbero (2014) lembra que a literatura no transcorrer dos tempos se constitui por meio da manifestação de todos, independentemente do meio ou da posição social, porém, a literatura clássica quando vei-culada pela internet por meio das bibliotecas virtuais, dos e-books, na imensidão de portais dedicados a autores e obras, preserva seus textos originais mesmo com análises e diversas traduções em listas de discussões e comunidades. Mas a sociedade contemporânea, dis-pondo das mais variadas formas de acesso às informações, formação cultural e científica, com propagação pelos diversos meios de comu-nicação e informação digital, tenta situar a literatura neste processo globalizado vinculando-a às diversas mídias disponíveis.De acordo com Melo e Castro (2012), atualmente, é fácil notar que as tecnologias digitais de informação e comunicação, na vida das pessoas, tornaram-se rotineiras e a ampliação dessa tecnologia con-tribui para o aumento de usuários, assim como o acesso aos diversos gêneros literários, sem contar com a diminuição da tensão entre os sistemas literários ditos do centro e da periferia, em função de que os ambientes virtuais estabelecem uma dinâmica nas relações de poder, antes dominada por uma elite de centro. Com o passar do tempo, essas relações consideradas de poder e com a contribuição das práti-cas digitais, diminuíram, especificamente pela transição das literaturas impressas para o ciberespaço, abrindo e ampliando novas formas de acesso e produção de leitura e produção literária. Nesse contexto, Spalding (2010) comenta que essa relação constituiu uma literatura digital, pois os textos nascem e se desenvol-vem no meio digital, e ao serem criados e lidos em telas digitais, neces-sitam ter sons, hiperlinks, imagens que promovam a interatividade e 232S U M Á R I Orompam com a linearidade dos textos canônicos. Assim pode-se dizer que a literatura digital é a exploração das possibilidades formais cria-das com o desenvolvimento de tecnologias visuais e sonoras, como o vídeo, o computador e a edição eletrônica de textos. Nota-se que essas tecnologias dispõem de novos recursos os quais reformulam a produção dos textos literários assim como sua lei-tura, dentre esses recursos, está à migração do texto da página im-pressa para a tela o que possibilita a literatura, a animação, recurso comumente relacionadas com o cinema e o vídeo, promovendo a inte-gração entre elementos verbais, sonoros e visuais.Na literatura digital, as palavras não são fixas, movem-se, assim como, passam por metamorfoses, transformam-se por um determi-nado período de tempo, modificam-se em sua estrutura interna, tor-nam-se outras palavras ou até imagens puras, sem referência verbal. Possibilita, ainda, a criatividade, por meio da sincronização entre pa-lavra-imagem e palavra-som. Essas novas coordenadas da produção literária se torna um grande desafio para os escritores no momento de lidar com a ambiguidade essencial da palavra escrita, que é a relaçãotêm por objetivo integrar certos elementos presentes nas pesquisas e produções, apontando as técnicas, os métodos e os fundamen-tos epistemológicos com base no tema, na metodologia, nas bases 22S U M Á R I Oteóricas, entre outros. Procuram, pois, além de indicar o panorama de dada área de conhecimento, elucidar as lacunas, os desafios e as características presentes na área estudada.Há uma diferenciação entre pesquisas que se denominam Esta-do da Arte e estado do conhecimento, pois são aportes metodológicos com características diferentes, não constituem sinônimos, porém em muitos momentos são utilizadas como tal. O Estado da Arte é uma metodologia que parte da análise de mais de um tipo de documento, considerando a pesquisa em mais de um tipo de banco de dados. Por exemplo, pesquisas que procuram analisar um determinado tema em artigos científicos, teses, dissertações, trabalhos em eventos, em determinada área do saber partem de três tipos de produções científicas, os artigos científicos, as teses e dissertações, e os trabalhos apresentados em evento científico. O número de base de dados pesquisado não interfere na característi-ca metodológica da pesquisa, pois um mesmo documento pode ser indexado em diferentes bases de dados. As pesquisas denominadas Estado da Arte também são de-finidas como de caráter bibliográfico pois se valem de documentos já publicados. Em Romanowski e Ens (2006) compreendemos a ne-cessidade e relevância de estudos com esse perfil que visam, além de realizar um balanço sobre elementos essenciais para compreen-der o panorama de determinado campo, proporcionam um vislumbre da própria produção científica de determinada área. O Estado da Arte pode ser compreendido, também, como um estudo de revisão inte-grativa ou estudo integrativo, como indica André (2008), no sentido de apresentar o panorama da trajetória de construção de conhecimento em determinada área.Romanowski e Ens (2006) elucidam ainda que por meio das pesquisas de cunho integrativo, no caso o Estado da Arte, que ex-periências inovadoras podem ser identificadas e analisadas e, ainda, 23S U M Á R I Opossibilitam, por meio da análise das produções, apontar alternativas para problemas específicos da área. Em Soares (2000, p. 04), pesquisas do tipo Estado da Arte pre-cisam considerar “categorias que identifiquem, em cada texto, e no conjunto deles as facetas sobre as quais o fenômeno vem sendo ana-lisado”. A investigação, no Estado da Arte, se estabelece no conhecer o já construído e produzido. Ou seja, as pesquisas do tipo Estado da Arte dedicam-se a um número considerável de pesquisas realizadas, precisam dar conta de determinado saber que se avoluma cada vez mais rapidamente e de divulgá-lo para a sociedade (FERREIRA, 2002). Nesse contexto, pesquisas do tipo Estado da Arte apresentam defini-ções semelhantes às do tipo estado do conhecimento. As pesquisas denominadas estado do conhecimento também podem ser consideradas como pesquisa integrativa. Em André (2009, p. 43) estas pesquisas integrativas também analisam a “produção aca-dêmica em uma determinada área do conhecimento e em um período estabelecido de tempo” e sua importância consiste em serem “úteis ao revelar temáticas e metodologias priorizadas pelos pesquisadores, fornecendo importantes elementos para aperfeiçoar a pesquisa num determinado campo do saber”. (ANDRÉ, 2009, p. 43).Isto é, são consideradas mapeamentos de pesquisa que pos-suem como corpus de análise documentos (relatórios de pesquisa, artigos de periódicos, textos apresentados em eventos científicos) “submetido[s] a um olhar crítico que permite identificar redundâncias, omissões, modismos, fragilidades teóricas e metodológicas” e que, “se adequadamente consideradas e corrigidas, contribuem para o reconhecimento do status científico da área e aumentam sua credibili-dade junto à comunidade acadêmica/científica”. (ANDRÉ, 2009, p. 43). Para além, indicam ainda se a própria posição teórico-metodológica condiz com a pesquisa e produção científica apresentada.24S U M Á R I ONeste estudo, a diferenciação entre as pesquisas do tipo Estado da Arte e estado do conhecimento consiste na maneira como os docu-mentos que formam o corpus do estudo foram definidos e abordados. Ambas as características de pesquisas podem ser consideradas como metodologias que visam apontar um panorama do conhecimento cientí-fico de certa área do conhecimento, por meio da análise das produções científicas divulgadas em diferentes meios (livro, capítulo de livro, artigo científico, dissertações, teses, trabalhos em anais de evento etc.). O panorama das produções científicas pode ser traçado por meio do levantamento e análise de elementos que constituem as produções, porém o tipo de documento analisados é o que podem configurar se a pesquisa realizada consiste em um Estado da Arte ou estado do conhecimento.Romanowski e Ens (2006) elucidam ainda que analisar as pro-duções em determinada área do saber possibilita ainda examinar as ênfases e temas abordados nas pesquisas; os referenciais teóricos que subsidiaram as investigações; a relação entre o pesquisador e a prática pedagógica; as sugestões e proposições apresentadas pelos pesquisadores; as contribuições da pesquisa para mudança e inova-ções da prática pedagógica; a contribuição dos professores/pesquisa-dores na definição das tendências do campo de formação de profes-sores. Esses trabalhos não se restringem a identificar a produção, mas analisá-la, categorizá-la e revelar os múltiplos enfoques e perspectivas.Dessa forma, os documentos analisados pelas pesquisas do tipo Estado da Arte e estado do conhecimento, de caráter integrativo, podem ser oriundos de diversas bases de dados e configurarem dife-rentes documentos em sua origem e descrição. Consideramos que as pesquisas do tipo Estado da Arte apresentam diversidade em relação ao tipo de produção científica coletada e analisada. Por exemplo, as pesquisas que apresentam como corpus de aná-lise as produções no formato de dissertações, teses, artigos científicos e trabalhos publicados em eventos analisam três tipos de documento. 25S U M Á R I OO artigo científico é considerado um tipo de documento, as disserta-ções e teses são compreendidas como outro tipo de documento e os trabalhos apresentados em evento científico caracterizam, ainda, outro tipo de documento, ou seja, cada um possui uma finalidade específi-ca. Em Severino (2007, p. 208) os artigos científicos, documentos que compõem o corpus desta pesquisa, são definidos como produções científicas que têm por objetivo serem publicadas em revistas e periódicos científicos, “modalidade de trabalho” que “tem por finalidade registrar e divulgar, para o público especializado, resultado de novos estudos e pesquisas sobre aspectos ainda não explorados” ou, ainda, expressam “novos conhecimentos sobre questões em discussão no meio científico” e possuem formatação e estrutura própria do texto. A relevância em ter os artigos científicos como documento de análise versam também sobre a característica de serem um meio eficaz e re-levante de disseminação do conhecimento produzido, em diferentes âmbitos de pesquisa.Neste sentido, compreendemos que analisar os artigos científicos que se valem do Estado da Arte como metodologia de tratamento dos dados é importante a medida em que por meio delas é possível obter um panorama amplo da produção de conhecimento, especificamente em relação ao assunto abordado em determinada área do saber.A RELEVÂNCIA EM ESTUDAR OS TEMAS NAS PRODUÇÕES CIENTÍFICASA relevância em apontar os temas abordados nas pesquisas que se valem do Estado da Arte como metodologia de coleta e análise dos dados consiste em compreender os temas nas produções cientí-ficas de modo a apontar os assuntos abordados de maneira constan-te, bem como indica os assuntos pouco explorados, proporciona um 26S U M Á R I Opanorama doentre sua função icônica (isto é, como imagem antes de tudo) e sua função simbólica, condicionada pelos significados verbais.Nesse contexto está o livro eletrônico considerado como a mais nova invenção de tradições narrativas, este vem para diminuir a discus-são dos que acham que o livro impresso está com os dias contados para acabar e os que se recusam a abandonar o papel, mas essa nova estratégia de narrativa em bases digitais, atuando por várias artes e mí-dias, indica uma ideia de que o livro e a literatura perderam seu sentido, principalmente pela forma interativa em que está contaminada. Mesmo sabendo que os adolescentes vivem rodeados de tanta tecnologia por meio de imagens e sons, ainda há a certeza de que a li-teratura continua sendo uma prática fundamental na reconstrução pela 233S U M Á R I Oforça da palavra, pois ela é plena de saberes sobre o mundo por isso gera uma experiência literária permitindo a compreensão da vida por meio da experiência do outro, para isso se faz necessário à formação de um processo envolvendo linguagem, leitor e escritor.De acordo com Antônio (2012), é preocupante em função da diversidade de espaços midiáticos, a massificação das informações, produção e divulgação desenfreada de produtos transformadores da natureza do homem e pelo homem, alienando-o e levando-o a assi-milar o que recebe nas mídias sem a devida reflexão, tudo em nome de um consumismo desmedido. É uma realidade que precisa ser en-frentada e somente as ações educativas serão capazes de garantir a autonomia, criatividade, criticidade e humanização dos educandos, pois essas ações valorizam a reflexão crítica acerca do conhecimento e uso das tecnologias digitais focadas na difusão de conhecimentos.O fato é que existe, atualmente, fazendo parte do cotidiano das pessoas, estudantes ou não, a literatura digitalizada, isto é, obras lite-rárias escritas para serem impressas em forma de livros e revistas, que estão sendo transportadas para um meio eletrônico. Mesmo que estas obras estejam sendo lidas em versão de ebook, ela continua fazendo parte da literatura digitalizada e não digital, pois esta seria considerada digital se estivesse sido criada para as ferramentas eletrônicas, que funcionaria somente online e em plataformas digitais, mesmo aquelas obras que ganharam acompanhamento “extra” como sons e imagens não deixaram de fazer parte da literatura tradicional.A evolução da tecnologia tornou o leitor diferente, se considerar que nos anos de 1990 houve a popularização da Internet. Em 2000 foi a vez da era dos blogs considerada como o início da autopublicação, e desde o ano de 2010, que se vive o tempo das redes sociais, dos e-books e do YouTube. Mas toda essa evolução ainda não chegou à literatura, pois muito é publicado online, porém sem a qualidade do que é publicado em livros impressos.234S U M Á R I OSe ainda não há literatura digital, não é por falta de ferramentas de auto publicação, elas estão todas disponíveis, mas uma publicação de qualidade exige tempo, dedicação e principalmente conhecimento, pois a literatura exige que o leitor construa a sua interpretação durante a leitura e que esta contribua para sua formação.Assim sendo, pode-se dizer que a cultura do carimbó não faz parte da literatura digital, mas tornou-se conhecida do grande público por meio da mídia, mostrando que essa cultura é uma manifestação influenciada pelas culturas dos índios, por meio da dança em formato de roda e de alguns instrumentos de percussão como as maracás; do negro africano, através do batuque, na aceleração do ritmo e no molejo; e dos portugueses, por meio da dança em pares ou mesmo individualmente com gestos, palmas e estalar de dedos, além dos pa-drões melódicos.DISCUSSÕES: LITERATURA E A FORMAÇÃO DO NOVO LEITORAcreditar que somente a literatura será capaz de transformar a sociedade é ultrapassar os limites da realidade educacional do país, pois para que isso aconteça, além dos fatores educacionais, envolve também o econômico e os culturais. No entanto, se for permitido o acesso à leitura e a escrita com certeza as classes menos favorecidas terão a oportunidade de serem inseridos em outros contextos sociais, onde serão proporcionadas novas oportunidades, em função do poder transformador da leitura, da literatura e dos livros.Tornar a literatura uma realidade presente no cotidiano das pes-soas é uma tarefa muito difícil, mas é necessária ao desenvolvimento humano, a constatação está nos resultados da pesquisa realizada em 235S U M Á R I O2011 sobre o Retrato da Leitura no Brasil, onde foi apontado que o gosto pela leitura entre os brasileiros diminui à medida que tem sua idade avançada. Quer dizer, que o brasileiro vai diminuindo o hábito de ler ao longo da vida. É urgente a identificação das razões quando dessa mudança de comportamento. E uma das compreensões para o distanciamento da leitura pode estar no modo como a própria escola apresenta a literatura a seus alunos, atrelando a obrigações, condicio-nada a notas e resumos (AMORIM, 2012).Considerando que a literatura é uma linguagem criativa por excelência, tratá-la de maneira condicionante é caminhar na direção contrária dos incentivos que a escola faz sobre a literatura. Neste caso a escola necessita, como um espaço de intervenção, sugerido por An-druetto (2012, p.83) ircontra o fantasma da escolarização, contra a domesticação da literatura, contra as demandas de utilidade de rendimento, contra as seleções por tema, as classificações por idade, aos questionários e os resumos, os manuais, as antologias, o apro-veitamento dos textos [...].Sabe-se que alcançar essa perspectiva não é missão fácil de rea-lizar, pois há muito tempo que persiste essa relação, literatura/rendimen-to, no interior na escola, mas torna-se urgente rever esta relação, pois se existe o propósito de querer ser um país leitor, o prazer pela leitura precisa ser trabalhado de maneira eficaz, para que a leitura ultrapasse os muros da escola e os leitores carreguem consigo para fora do ambiente escolar seu comprometimento com a leitura, tornando-a um prazer.Lajolo (2010) comenta que a leitura é prazer, ludicidade e brinca-deira, nesse sentido, a escola deveria seguir nessa trilha em todas as fases escolar do aluno, pois agindo assim provavelmente o gosto pela leitura continuaria e não seria mais uma relação de cobrança, pois para ler ou para gostar de ler, se faz necessário ler sempre mais. 236S U M Á R I OSabe-se que a leitura não é uma habilidade inata do ser huma-no, tanto para a leitura como para a escrita ele precisa de um grande esforço cognitivo conducente à apropriação. “A escrita é tratada como um signo arbitrário não disponível na natureza, criado como instrumen-to de comunicação, registro das relações humanas, das ações e aspi-rações dos homens” (MARTINS, 2006, p. 19).É notável que a leitura, está em tudo em que se consegue inte-ragir e dar sentido, pois envolve desde as percepções textuais até as emocionais, visuais e sonoras. Pode-se “ler” uma pessoa por meio dos seus gestos, como também, pode-se ler uma imagem através de seus conteúdos. O ser humano tem a capacidade de buscar compreender seu mundo pelos mais variados tipos de leitura e quanto mais condi-ções de entender os signos e dar significados a ele, mais sua com-preensão será amplificada. Por isso que se diz, que este é um proces-so dinâmico e fluído, porque ele leva a construção do conhecimento e a formação do indivíduo enquanto cidadão crítico, por toda a sua vida.Embora exista este alcance em relação ao conceito de leitura, no senso comum ela está entrelaçada com a ideia de leitura da escrita, pois essa habilidade é a principal porta de entrada para a cultura do mundo letrado, base da sociedade. Adquirir essa habilidade torna-se um meio imprescindível de se obter mais conhecimento, assim como forma de pertencimento ao grupo social que pertence. Assim comoque se é estudado pela área de conhecimento no qual os artigos científicos possuem vínculo.O levantamento de questões, percepções de lacunas, ressignifi-cações e possibilidades em determinada área ou Campo do saber são proporcionadas por pesquisas que classificam, analisam e evidenciam as temáticas abordadas, bem como demais elementos analisados (metodologia, tipo de material e período de tempo, entre outros) pre-sentes nas produções científicas que compõem o corpus de análise.Para além, o tema ou assunto abordado pode ser compreendi-do como o início do caminho de pesquisa de determina área do co-nhecimento. É por meio da escolha inicial do tema que os diferentes tipos de produção científica (trabalho de conclusão de curso, mes-trado, doutorado, etc.), bem como os projetos de pesquisa nos mais diferentes âmbitos se desenvolvem. Para além, é por meio da escolha temática que os demais elementos presentes como o problema de pesquisa, o objetivo pretendido, os participantes, o contexto a ser pesquisado, ou seja, os elementos inerentes às produções científicas adquire forma e direcionamento. O assunto ou tema é um elemento da produção científica oriun-da de uma área ou campo da conhecimento mais amplo e definido. Por exemplo, a Educação Especial pode ser considerada um tema oriundo da área da Educação. O tema tem relação com a mensagem global veiculada em determinado texto, por um determinado autor. “Em geral, o tema tem determinada estrutura: o autor está falando não de um objeto, de um fato determinado, mas de relações variadas entre vários elementos.” SEVERINO (2007, p. 57).Ao analisar tematicamente o pesquisador define os principais assuntos abordados em uma ciência específica. Por meio desta análi-se é possível perceber o quanto se é dedicado a cada temática, o que se tem pesquisado em cada área específica do saber, em determinado 27S U M Á R I Omomento histórico, em relação a demandas colocadas por diversos âmbitos. (ARAUJO, 2006; HEGETO, 2014). Consiste ainda em uma modalidade de análise recorrente, com o intuito principal de produção de conhecimento, promovendo o desenvolvimento do conhecimento científico. (NASCIMENTO, 2010). O panorama temático parte de pro-duções científicas que passaram por um crivo avaliativo, representam a confiabilidade de conceitos tecidos e válidos pela área de conheci-mento em questão. (KOBASHI; SANTOS, 2006).Neste sentido, as pesquisa do tipo Estado da Arte indicam quais as produções científicas possuem mais ênfase no que concerne ao tipo de material analisado e as base de dados pesquisadas. Para além, podem indicar tanto um panorama amplo e completo quanto enfatizar determinado elemento presente nas produções como o objetivo, pro-blemática, metodologia etc., como indicam Romanowski e Ens (2006). Nesse âmbito, o panorama das temáticas abordadas nas produ-ções científicas em formato de artigo científico, especificamente no que concerne ao uso do Estado da Arte como aporte teórico-metodológi-co podem contribuir para o desenvolvimento, notoriedade e relevância deste tipo de metodologia, além de auxiliar no desenvolvimento, indi-cando as possíveis demandas de pesquisa e análise da referida área.PERCURSO METODOLÓGICO E ANÁLISE DOS DADOSO estudo com base na análise documental em Cellard (2008) e análise de conteúdo em Bardin (2011), compôs seu corpus de pesqui-sa por meio de pesquisa no site Google Acadêmico1 utilizando para tal a palavra-chave “Estado da Arte em Educação”. 1 https://scholar.google.com.br/28S U M Á R I OO estudo abordou os assuntos tratados pelos artigos científi-cos por meio da análise temática. Em Bradin (2011, p.135) a análise temática é compreendida como a ação de “descobrir os núcleos de sentido que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição pode significar alguma coisa para o objeto analítico esco-lhido.” Em Franco (2003, p.36) o tema pode ser compreendido como “[...] uma asserção sobre determinado assunto, pode ser uma simples sentença (sujeito e predicado), um conjunto delas ou um parágrafo”. Nesse aspecto, consiste em como “[...] uma questão temática incorpo-ra, com maior ou menor intensidade o aspecto pessoal atribuído pelo respondente acerca do significado de uma palavra e/ou sobre as cono-tações atribuídas a um conceito”. Envolve, pois, “[...] não apenas com-ponentes racionais, mas também, ideológicos, afetivos e emocionais”. Nestes critérios de pesquisa foram identificados 61 artigos cien-tíficos divulgados na base de dados pesquisada. Por se valer de ape-nas um tipo de produção científica para compor o corpus da pesquisa, este estudo foi definido como um estado do conhecimento sobre as pesquisas que utilizaram o Estado da Arte como metodologia para tra-tamento dos dados, que por sua vez abordaram temáticas específicas. A análise de conteúdo versou em identificar : os temas aborda-dos nas pesquisas por meio do título e das palavras-chave em cada artigo científico analisado; as palavras-chave que identificaram as pro-duções; e as referências teóricas indicadas nas produções científicas que deram suporte à escolha metodológica do Estado da Arte.A análise indicou que os 61 artigos científicos que abordaram o Estado da Arte como metodologia de tratamento dos dados foram divulgados ao longo de 20 anos, ou seja, do ano de 1999 a 2021 na seguinte distribuição, conforme apresenta o Quadro 1 - Número de artigos científicos por ano e década: 29S U M Á R I OQuadro 1 – Número de artigos científicos por ano e década.Década de 1990 Década de 2000 Década de 2010 Década de 2020Ano Nº de artigos Ano Nº de artigos Ano Nº de artigos Ano Nº de artigos1999 2 2002 1 2010 3 2020 62004 4 2011 2 2021 22005 2 2012 42006 1 2013 42007 4 2014 62008 1 2015 42009 2 2016 12017 62018 52019 1Total 2 Total 15 Total 36 Total 8Fonte: Dados organizados pelos autores, 2022.As ênfases nas produções científicas em formato de artigo cien-tífico que versaram sobre o Estado da Arte como metodologia de tra-tamento dos dados foram publicados entre os anos de 2010 a 2019, correspondendo a 59% dos artigos científicos analisados. Neste perío-do os anos de 2014 e 2017 apresentaram o maior número de artigos divulgados por ano, perfazendo seis artigos científicos cada. Porém, este dado indica que ainda é diminuto o número de produções cien-tíficas em formato de artigo científico que abordam o Estado da Arte2 como metodologia de tratamento dos dados.A partir da análise temática foi possível definir eixos temáticos a posteriori presentes nas produções científicas analisadas. E por conse-2 Lembrando que esta pesquisa considerou o termo exato “Estado da Arte” indicado no título dos artigos científicos para a coleta, organização da análise dos dados.30S U M Á R I Oquência, alguns eixos temáticos apresentaram subcategorias de clas-sificação dos dados, intitulados categorias temáticas.A análise dos temas nos artigos científicos foi elucidada pela Quadro 2 - Estado da Arte - Artigos científicos e eixos temáticos abor-dados, a seguir:Quadro 2 - Estado da Arte - Artigos científicos e eixos temáticos abordados.Eixos temáticos Categorias temáticas Nº de artigos %EducaçãoCTS(1), EAD (2), Educação ambiental (2), Educação e comunicação (1), Educação e rela-ção étnico-raciais (3), Educação em Ciências (2), Educação Especial (3), Educação Física Escolar (4), Educação Infantil (1), Educação Matemática (1), Educação no Campo/Rural (2), Educação Superior (1), História da Edu-cação (1), Psicanálise e educação (1), Tecno-logia da Informação e Comunicação - TIC (4)29 47,6%EnsinoEnsino de Sociologia (3), Ensino de Física (2), Ensino de Biologia (1), Ensino de Ciências (1), Ensino de Química (2)9 14,7%DocênciaFormação de professores (2), Profissionaliza-ção docente (1), Professor atuante (1), Forma-ção Inicial (1).5 8,2%Escola Desempenho Escolar no Brasil (1), Escolas multisseriadas (2),Fracasso Escolar (1).4 6,6%Aprendizagem - 2 3,3%Estado da Arte - 2 3,3%Avaliação - 2 3,3%Formação - 1 1,6%Infância - 1 1,6%Outros - 6 9,8%Total 61Fonte: Dados organizados pelos autores, 2022.31S U M Á R I OOs dados indicam que o eixo temático “Educação” apresentou o maior número de artigos científicos, com 47,6% do cômputo total, tendo ênfase para a categoria temática Educação Física Escolar e TIC. O “Ensino” foi o segundo eixo temático com número expressivo de artigos científicos, com 14,7%, com ênfase na categoria temática Ensino de Sociologia.Em relação as palavras-chave, 17 artigos científicos, ou 27,9%, indicaram como palavra-chave o termo Estado da Arte. Este dado elu-cida a baixa adesão do termo como indicativo da temática por meio da palavra-chave. Apesar de o termo “Estado da Arte” estar presente em 100% dos títulos nos artigos científicos, a análise das palavras-chave não apontam para o mesmo resultado. Em consonância com o estudo de Martin-Franchi e Hobold (2019), a ausência do termo que identifi-ca a temática do estudo ou mesmo o Campo ao qual pertencem nas palavras-chave também são evidenciados na análise das produções divulgadas no GT04-Didática da ANPEd. Este dado aponta para uma questão que se apresenta de maneira constante: a falta de compreen-são por parte do sujeito-pesquisador da importância em definir as pa-lavras-chave conforme a área ou Campo de conhecimento da pesqui-sa, bem como ao tema ou assunto abordado na própria pesquisa.Em relação ao tipo de produção científica analisada as disserta-ções e teses constituem-se como corpus de pesquisa na maioria das produções científicas, seguido de artigos científicos e trabalhos publi-cados em eventos da área de referência. Em relação à base de dados de pesquisa e coleta, a base Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES apresenta-se como a mais citada, seguida da base de dados Scielo, Google Acadêmico, Portal de Periódicos da CAPES e sites de eventos científicos específicos. Esta análise elucida a relevância das dissertações e teses como produções científicas em nível de Pós-Graduação em Educação para o desenvolvimento e divulgação do conhecimento científico, bem como a importância da base de dados gerenciados pela CAPES (Catálogo de 32S U M Á R I OTeses e Dissertações e Periódicos Capes) como elemento de difusão, divulgação e pesquisa do conhecimento científico produzido no Brasil. Dialoga com as pesquisas de Nascimento (2010), Nozaki et al. (2007), Kobashi e Santos (2006; 2008) e Kobashi (2007) no que concer-ne a compreender as dissertações e teses como documentos produzi-dos em contextos científicos, com rigor metodológico. Para além, por meio deles é possível reconhecer a cultura científica de uma determi-nada instituição ou de um país, a análise destas produções científicas permite identificar as lacunas, tendências, e divergências da área de conhecimento pesquisada, bem como podem ser consideradas como elementos que têm a função de perpetuar a memória relativa à produ-ção intelectual no âmbito acadêmico. A análise dos referenciais teóricos sobre o Estado da Arte si-nalizam quatro perspectivas distintas. A primeiras perspectiva indica que um número diminuto de artigos científicos utilizaram aporte teórico específico para definir o Estado da Arte. A segunda perspectiva elucida que os artigos que se valeram de referencial teórico específico o fizeram a partir de dois artigos: Ro-manowski e Ens (2006) intitulada “As pesquisas denominadas do tipo “Estado da Arte” em educação” e Ferreira (2002) intitulada como “As pesquisas denominadas “Estado da Arte”.” A terceira perspectiva indica que a maioria dos artigos científi-cos valeram-se de outros estudos de Estado da Arte para embasarem a escolha teórico-metodológica. Ou seja, valeram-se de fonte biblio-gráfica secundária para embasarem seus estudos. Este último dado indica a ausência de produções bibliográficas que abordam o Estado da Arte como método de pesquisa, que podem ser usados como fon-tes bibliográficas primárias.33S U M Á R I OE a quarta perspectiva indica que a maioria dos artigos não ex-plicitam e especificam o Estado da Arte como metodologia de pesqui-sa e análise dos dados, nem mesmo justifica a escolha desta metodo-logia. Nesta última perspectiva o termo “Estado da Arte” é usado para indicar uma qualidade da pesquisa que estão desenvolvendo, ou seja, é usado como adjetivação da pesquisa e não necessariamente como uma metodologia adotada.CONSIDERAÇÕES FINAISO estudo em questão versou em analisar o Estado da Arte como metodologia utilizada nos artigos científicos em Educação. Para tal, foi considerado o uso do termo no título, evidenciando o Estado da Arte também como temática relevante da pesquisa.O corpus da pesquisa foi composto por 61 artigos científicos, publicados no período de 20 anos (1999 a 2021). A análise dos da-dos indicou dez eixos temáticos abordados nos artigos científicos que foram tratados por meio do aporte teórico sobre Estado da Arte para prover um panorama das produções da área. Entre os eixos temáticos apresentados a concentração dos artigos científicos foram no eixo te-mático Educação, que apresentou ainda 15 categorias temáticas, com ênfase na Educação Física Escolar e TIC e no eixo temático Ensino, com ênfase na categoria temática Ensino de Sociologia.A análise indicou o número diminuto de referencial teórico na-cional, como fonte bibliográfica primária, que aborde o Estado da Arte como metodologia de tratamento de dados, o uso do termo apenas como adjetivação de pesquisa e não como metodologia de tratamento de dados e o uso de Estado da Arte e estado do conhecimento como sinônimos, apesar de não apresentarem o mesmo significado.34S U M Á R I OO estudo buscou indicar a relevância do Estado da Arte como metodologia de tratamento de dados, as lacunas existentes no que concerne as temáticas abordadas por este método, bem como a ne-cessidade de se utilizar aporte teórico que discuta o Estado da Arte como metodologia de análise e tratamento dos dados. Buscou ainda indicar possíveis caminhos a seguir e corroborar para o desenvolvi-mento de conhecimento na área da metodologia científica.REFERÊNCIASANDRÉ, M. A produção acadêmica sobre formação de professores: um estudo comparativo das dissertações e teses defendidas nos anos 1990 e 2000. Formação Docente, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 41-56, ago./dez. 2009.ARAUJO, Carlos A. A classificação temática para o mapeamento de campos científicos: estudo de caso na área da comunicação social. In: VII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciências da Informação, 2006. Marília. Anais eletrônicos.BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2011.BOGDAN, R.; BICKLEN, S. Investigação qualitativa em educação. Porto, Portugal: Porto, 1997.BRANDÃO, Z.; BAETA, A. M. B; ROCHA, A. D. C. (1986). Evasão e repetência no Brasil: a escola em questão (2. ed.). Rio de Janeiro, RJ: Dois Pontos.CELLARD, A.. A análise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2008. pp. 295-315.FERREIRA, N. S. de A. As pesquisas denominadas “estado da arte”. Educação & Sociedade, [online], v. 23, n. 79, p. 257-272, 2002. ISSN 1678-4626. https://doi.org/10.1590/S0101-73302002000300013.HEGETO, L. de C. F. A Didática como disciplina escolar: estudo a partir dos manuais de Didática Geral. 2014. 221 f. Tese (Doutorado em Educação). Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Paraná, Curitiba.35S U M Á R I OKOBASHI, N. Y. Estudos de institucionalização social e cognitiva da pesquisa científica no Brasil: reflexões sobre um programa de pesquisa. In: LARA, M. L. G; FUJINO, A.; NORONHA, D. P. (Orgs). Informação e Contemporaneidade: perspectivas. Recife: Néctar, 2007.KOBASHI, N. Y.; SANTOS, R. N. M. dos. Institucionalização da pesquisa científica no Brasil:cartografia temática e de redes sociais por meio de técnicas bibliométricas. Transinformação, [s. l.], v. 18, n. 1, p. 27-36, 2006.KOBASHI, N.Y; SANTOS, R. N. M dos Arqueologia do trabalho imaterial: uma aplicação bibliométrica à análise de dissertações e teses. Encontros Bibli, Florianópolis, n. esp., 2008.MARTIN-FRANCHI, G. O. de O.; HOBOLD, M. de S.. Didática na ANPED: o que dizem os resumos do GT 04? Congresso Nacional de Educação, 14 EDUCERE; Seminário Internacional de Representações Sociais, Subjetividade e Educação, 5 SIRSSE; Seminário Internacional sobre Profissionalização Docente, 7 SIPD. Cátedra UNESCO. Poster. Set. 2019.NASCIMENTO, A. C. S. Mapeamento temático das teses defendidas nos programas de pós-graduação em Educação Física no Brasil (1994-2008). 2010. 279 f. Tese (Doutorado em Cultura e Informação) – Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. ROMANOWSKI, J. P. As licenciaturas no Brasil: um balanço das teses e dissertações dos anos 90. Tese (Doutorado em Educação – Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.ROMANOWSKI, J. P.; ENS, R. T. As pesquisas denominadas do tipo “estado da arte” em educação. Diálogo Educacional, Curitiba, v. 6, n. 19, p. 37-50, set./dez., 2006.SEVERINO, A. J. S. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.SOUZA, M. T. de; SILVA, M. D. da; CARVALHO, R. Revisão Integrativa: o que é e como fazer. Einstein, São Paulo, [online], v. 8, n. 1, pp. 102-106, 2020.SOARES, M. 20 anos de ENDIPE: Uma tentativa de compreensão do campo. In: CANDAU, V. M. (Org.). Didática, currículo e saberes escolares. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. p. 177-197.SPOSITO, M. P. (2009). O Estado da Arte sobre Juventude na Pós-Graduação Brasileira: Educação, Ciências Sociais e Serviço Social (1999-2006). Belo Horizonte, MG: Argvmentvm.Capítulo 2As pesquisas sobre trabalho e formação docente no Território de Identidade Sertão Produtivo BaianoGinaldo Cardoso de AraújoMarinalva Nunes FernandesIamara Junqueira Sousa CarvalhoLucas dos Santos PortoMarcos Alves BatistaMaria de Lourdes do Carmo Souza DucaMarta Juvênia Navarro CarameloMurilo Rocha FerreiraDOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95538.22Ginaldo Cardoso de AraújoMarinalva Nunes FernandesIamara Junqueira Sousa CarvalhoLucas dos Santos PortoMarcos Alves BatistaMaria de Lourdes do Carmo Souza DucaMarta Juvênia Navarro CarameloMurilo Rocha FerreiraAS PESQUISAS SOBRE TRABALHO E FORMAÇÃO DOCENTE NO TERRITÓRIO DE IDENTIDADE SERTÃO PRODUTIVO BAIANO37S U M Á R I OResumo: Este texto apresenta um levantamento das pesquisas sobre trabalho e formação docente que têm como campo de investigação o Território de Iden-tidade Sertão Produtivo, região do Programa de Pós-graduação em Ensino, Linguagem e Sociedade, da Universidade do Estado da Bahia. Inicialmente, traz considerações acerca dos aspectos relacionados às categorias trabalho docente e formação docente, amparando-se nos estudos de Bernardete An-gelina Gatti, Elba Siqueira de Sá Barretto, Marli Eliza Dalmazo Afonso de André e Patrícia Cristina Albieri de Almeida. Na sequência, amparado no estado do conhecimento e na abordagem qualitativa, o texto destaca os resultados do estudo, os quais evidenciam que ainda é carente a realização de pesquisas sobre trabalho e formação docente no território analisado, abrindo possibili-dades para os sujeitos que querem se inserir na pesquisa acadêmica sobre o ofício de ser professor/a.Palavras-chave: Estado do conhecimento; Formação docente; Trabalho docente; Território de Identidade Sertão Produtivo.38S U M Á R I OINTRODUÇÃOEste estudo é resultado de uma pesquisa desenvolvida no segundo semestre do ano de 2021, no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ensino Linguagem e Sociedade – PPGELS, da Universidade do Estado da Bahia –UNEB, que objetivou mapear as pesquisas sobre trabalho e formação docente que têm como campo de investigação o Território de Identidade Sertão Produtivo1, no Estado da Bahia. Para tanto, utilizou-se como ferramenta metodológica o es-tado do conhecimento, que consiste na identificação, no registro e na categorização que levem à reflexão e síntese sobre a produção cien-tifica de uma determinada área, em um determinado espaço de tem-po, congregando periódicos, teses, dissertações e livros sobre uma temática específica, sendo que uma de suas características principais é a contribuição para a presença do novo nas produções (MOROSINI; FERNANDES, 2014).Recorremos ao apoio de uma abordagem qualitativa que, nas palavras de Laurence Bardin (2011, p. 21), “o que serve de informação é a frequência com que surgem certas características do conteúdo”. Assim, a análise dos dados atenderá as fases de (i) pré-análise com escolha do material, (ii) exploração do material, que será amplamente abordado neste texto, e (iii) o tratamento e interpretação dos dados, para posteriormente apresentarmos as considerações ao final da pes-quisa (GIL, 2002).1 Segundo a Lei N.º 13.214, de 29/12/2014, que dispõe sobre os princípios, diretrizes e obje-tivos da Política de Desenvolvimento Territorial do Estado da Bahia, o conceito de Território de Identidade se refere à “unidade de planejamento de políticas públicas do Estado da Bahia, constituído por agrupamentos identitários municipais, geralmente contíguos, for-mado de acordo com critérios sociais, culturais, econômicos e geográficos, reconhecido pela sua população como o espaço historicamente construído ao qual pertencem, com identidade que amplia as possibilidades de coesão social e territorial, conforme disposto no Plano Plurianual do Estado da Bahia” (BAHIA, 2014). Disponível em: https://www.nor-masbrasil.com.br/norma/lei-13214-2014ba_279550.html. Acesso em: 15 mar. 2022. 39S U M Á R I ONesse sentido, realizou-se uma pesquisa no site Dados Abertos CAPES, que apresenta dados e informações sobre a pós-graduação brasileira, sobre a formação de professoras/es para Educação Bási-ca e outros temas relacionados à Educação. Foram baixadas planilhas no formato .xls (Excel) como forma de otimizar a apresentação e aná-lise dos dados sobre pesquisas produzidas no Brasil, relacionando o período entre os anos de 2015 e 2019. A partir das informações co-letadas, foram elaborados gráficos e quadros demonstrativos, o que possibilitou a finalização do presente texto.Tais ações tiveram o objetivo principal de buscar pelo estado do conhecimento sobre o tema “Trabalho e formação docente”, desde o âmbito nacional, passando-se pelas cinco regiões geográficas bra-sileiras, mas detendo-se com maior afinco à região Nordeste e, con-sequentemente, à Bahia, por ser a unidade da federação na qual o PPGELS está inserido.Almejou-se, também, averiguar quais das produções acadêmi-cas encontradas tiveram como objetos de análise sujeitos, localidades, entidades ou instrumentos vinculados à Caetité/BA (cidade sede do Campus VI da UNEB e que abriga o PPGELS) e cidades circunvizinhas, que integram as regiões designadas por diferentes órgãos governa-mentais, ora de Sertão Produtivo baiano, ora de Alto Sertão baiano, ora de Semiárido baiano.O referencial teórico do texto baseia-se nos estudos de Bernar-dete Angelina Gatti, Elba Siqueira de Sá Barretto, Marli Eliza Dalmazo Afonso de André e Patrícia Cristina Albieri de Almeida, autoras do li-vro “Professores do Brasil: novos cenários de formação”, publicado no ano de 2019. A obra traz posicionamentos acerca do trabalho e formação docente, possibilitando a percepção das peculiaridades que envolvem o universo da Educação, em especial da/o profissional que tem como campo de atuação a sala de aula.40S U M Á R I OEsta produção está organizada em três seções, além desta in-trodução e das considerações ao final. Na primeira, apresentamos a discussão teórica que envolve o estudo da formação docente e suas regionalidades.Em seguida, discutimos a apresentação e discussões dos dados que condensam as pesquisas que abrangem o trabalho e formação docente no Território de Identidade Sertão Produtivo baiano, com apresentação de resultados da análise dos referidos dados. E, na terceira seção, propomos identificar as pesquisas realizadas no âmbito do PPGELS e a relevância das mesmas para o Território de Identidade Sertão Produtivo baiano.TRABALHO E FORMAÇÃO DOCENTE: REGIONALIDADESNão se pode negar que o campo da Educação é vasto e com-plexo, por envolver muitos aspectos e sob diferentes níveis, o que exige de cada participante do processo o engajamento para que ela se tor-ne, efetivamente, um direito de todas/os, como preconiza a legislação existente. No tocante ao/à professor/a, elemento-chave para a conse-cução de um processo educacional eficaz e eficiente, sabe-se que:Na legislação brasileira atual está configurado que o trabalho de professor deve assentar-se em uma visão de conjunto do cenário social em que atua ou atuará, bem como das situações locais, que sejam portadores de conhecimentos sobre o campo educacional e sobre práticas relevantes a esse campo, e mais, necessitam ter, além de uma formação científica e cultural apro-priada, uma formação didático-pedagógica sólida e que atuem com ética e consideração pelas diversidades (BRASIL, 2015 apud GATTI et al., 2019, p. 40).Estudar como se dá o trabalho docente é algo salutar para a compreensão do universo educacional, sobretudo no Brasil, que é um 41S U M Á R I Opaís com dimensões continentais e que possui particularidades em cada uma das suas regiões, pois, mesmo seguindo normativas esta-belecidas por órgãos da União, cada unidade da federação é influen-ciada por questões locais (culturais, religiosas, históricas, políticas, econômicas, etc.), as quais se refletem na maneira como são forma-das/os e capacitadas/os as/os professoras/es e como elas/es aplicam os conhecimentos adquiridos em suas salas de aulas. Conforme ainda nos apontam Gatti et al. (2019, p. 42-43):Quando se trata de conceituar qualidade na educação, qualida-de formativa, enfrenta-se a questão da construção de sentidos que possam dar maior consistência a esse conceito. Sendo um significante, ela necessita ser explicada em cada caso, por que seus sentidos não são neutros nem universais.Acredita-se que professoras/es bem formados poderão oportu-nizar às/aos suas/seus alunas/os situações desafiadoras e significati-vas de produção do conhecimento e, indubitavelmente, isso provoca-rá, em médio ou longo prazo, melhorias sociais inquestionáveis, haja vista que o desenvolvimento crítico promovido na escola se transforma em benefícios à sociedade.Àquelas/es que almejam atuar em sala de aula, além dos conhe-cimentos teóricos, deve ser dada “uma formação cultural e humanista que lhes permita compreender e problematizar a realidade social e seu trabalho futuro: ensinar formando a outrem, e nessa relação formando--se continuamente, também” (GATTI et al., 2019, p. 33).Frente a isso, a realização de pesquisas sobre o modo como se dá o trabalho e a formação docente em cada localidade pode favore-cer a compreensão da vastidão e complexidade nas quais está embre-nhada a Educação e, querendo ou não, entender também a questão da qualidade, algo que é muito debatido pelos teóricos, partindo-se “da ideia que o fato educacional é cultural e situado e que isto implica 42S U M Á R I Operguntar-se por significados históricos na compreensão dos proces-sos” (GATTI et al., 2019, p. 43).Promover um levantamento de quais pesquisas têm sido realiza-das na região na qual está inserido o PPGELS é um fator relevante na contemporaneidade, pelo fato de que este cenário possui caracterís-ticas muito peculiares no tocante à formação de professores. No Ter-ritório de Identidade Sertão Produtivo baiano existe, além do curso de Mestrado em ensino ligado ao referido programa, campi universitários fortemente engajados na oferta de licenciaturas, tornando-se muito válida e necessária a identificação daquilo que a academia produz so-bre a profissionalidade docente. Por fim, ao buscar elencar a temática abrangida pela região, é possível identificar o perfil dos “profissionais em sua constituição pessoal, cultural e de sua capacidade de atuação nas práticas laborais” (GIMENO-SACRISTÁN, 1995; MONTERO, 2005; ROLDÃO, 2007, 2005 apud GATTI et al., 2019, p. 40)AS PESQUISAS SOBRE TRABALHO E FORMAÇÃO DOCENTE DO TERRITÓRIO DE IDENTIDADE SERTÃO PRODUTIVO BAIANODividida em duas etapas, a busca pelo estado do conhecimento aqui apresentada iniciou-se com a utilização dos descritores trabalho docente e formação docente, pesquisados nas colunas das planilhas correspondentes aos dados nome da produção (título), palavra-chave e resumo. Vale dizer que o quantitativo de produções acadêmicas ocorri-das entre os anos de 2015 e 2019 chega ao número de 181.812 (cento e oitenta e um mil, oitocentos e doze) e que, ao utilizar os descritores men-cionados, foram encontrados 3.985 (três mil, novecentos e oitenta e cin-co) trabalhos. O gráfico 1, a seguir, sintetiza o quadro descrito. Vejamos:43S U M Á R I OGráfico 1 – Trabalhos produzidos entre os anos de 2015 e 2019.Fonte: dados Abertos CAPES – Catálogo de Teses e Dissertações, 2021. Dados organizados pelos autores, 2021.Esses trabalhos, o equivalente a 2,19% de toda a produção hos-pedada na base de dados analisada, quando divididos entre as cinco regiões geográficas brasileiras, se apresentam da seguinte maneira: Centro-Oeste – 411 (315 dissertações, 01 relatório final de pesquisa e 95 teses); Nordeste – 775 (586 dissertações, 01 outros, 06 propostas pedagógicas, 01 protocolo experimental ou de aplicação em serviços, 02 relatórios finais de pesquisas, 01 software e 178 teses); Norte – 219 (172 dissertações, 01 estudo de caso e 46 teses); Sudeste – 1.653 (02 artigos, 02 desenvolvimentos de aplicativos, 1.178 dissertações, 01 editoria, 01 estudo de caso, 06 materiais didáticos e instrucionais, 02 produções de programas de mídias, 02 propostas pedagógicas, 04 relatórios finais de pesquisas e 455 teses); e Sul – 927 (699 disserta-ções, 01 material didático e instrucional e 227 teses).As regiões Sudeste e Sul foram as que mais realizaram pes-quisas relacionadas à temática investigada, com 41,48% e 23,26%, respectivamente. A região Nordeste, responsável por 19,45% da pro-dução acadêmica identificada, composta por nove estados, possui o seguinte quadro: Alagoas – 25 (20 dissertações e 05 teses); Bahia – 202 44S U M Á R I O(160 dissertações, 01 outros, 02 propostas pedagógicas, 01 protocolo experimental ou de aplicação em serviços, 02 relatórios finais de pes-quisas, 01 software e 35 teses); Ceará – 151 (113 dissertações e 38 teses); Maranhão – 29 (27 dissertações e 02 propostas pedagógicas); Paraíba – 94 (63 dissertações, 02 propostas pedagógicas e 29 teses); Pernambuco – 96 (75 dissertações e 21 teses); Piauí – 33 (15 disser-tações e 18 teses); Rio Grande do Norte – 107 (83 dissertações e 24 teses); e Sergipe – 38 (30 dissertações e 08 teses).Gráfico 2 – Distribuição da produção acadêmica entre os estados da região Nordeste.Fonte: dados Abertos CAPES – Catálogo de Teses e Dissertações, 2021. Dados organizados pelos autores, 2021.Ao averiguar a situação da Bahia, o estado que mais pesquisou sobre trabalho docente e formação docente entre 2015 e 2019 (com 26,06%), encontrou-se que os trabalhos produzidos se distribuem da seguinte maneira:45S U M Á R I O Gráfico 3 – Dissertações produzidas nas IES do estado da Bahia.Fonte: dados Abertos CAPES – Catálogo de Teses e Dissertações, 2021. Dados organizados pelos autores, 2021.Como se observa no gráfico 3, a Universidade do Estado da Bahia – UNEB é a instituição de ensino superior – IES que mais de-senvolveu pesquisas de mestrado sobre o tema envolvendo trabalho docente e formação docente, perfazendo 34,38%.
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